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2 de Julho de 2024 às 14:35

Trabalhadores cobram da Fenaban implementação de jornada de 4 dias semanais

Na terceira rodada de negociação da Campanha de 2024, Comando Nacional também reivindica reajustes de verbas das cláusulas de Teletrabalho


Redução da jornada de trabalho de cinco dias para quatro dias semanais e reajustes nas verbas das cláusulas de Teletrabalho. Essas foram as reivindicações levadas pelo Comando Nacional dos Bancários à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), durante reunião que aconteceu nesta terça-feira (2), no âmbito das negociações para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria. A Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) foi representada na mesa de negociação desta terça-feira pelos presidentes dos sindicatos do Pará, Tatiana Oliveira, do Mato Grosso, João Dourado, e de Campo Grande, Rubens Jorge Alencar.

Os trabalhadores apresentaram dados de pesquisas, com base em projetos pilotos, realizados dentro e fora do país, com impactos positivos na saúde física e mental de funcionários, na redução de faltas no trabalho, além de ganhos na produtividade e na receita das empresas.

No Brasil, a 4 Day Week Global iniciou testes em janeiro deste ano com 21 empresas. Resultados parciais do projeto mostram que 61,5% apresentaram melhoria na execução de projetos; 58,5% melhoria na criatividade e inovação; 44,4% melhoria na capacidade de cumprir prazos; e 33,3% na capacidade de angariar clientes. 

Para os trabalhadores, os resultados parciais relevantes foram: 64,5% tiveram redução de exaustão frequente por causa do trabalho; 50% redução na insônia; 46,3% praticaram exercício mais de 3 vezes na semana; e 27,1% foi o aumento de quem dorme mais de 8 horas por noite.

“Apresentamos duas pautas, a redução da jornada semanal para quatro dias e teletrabalho. A redução da jornada é importante porque com as novas tecnologias, a inteligência artificial e a robótica tirando o emprego do bancário, entendemos que a redução da jornada pode gerar mais empregos, além de trazer mais qualidade de vida para os bancários. Vai ter mais tempo para ficar com a família, ter mais lazer, mais cultura e mais tempo para sua formação. E, acima de tudo, cuidar mais da saúde. Teremos um trabalhador menos adoecido. Por isso a redução da jornada é importante, é um avanço civilizatório", afirma João Dourado.

“Na questão do teletrabalho entendemos que é importante amploar a ajuda de custo, porque o trabalho tem mais gasto com internet e com aluguel, por exemplo. E também temos que ampliar a possibilidade de os bancários que têm filhos com deficiência, filhos com autismo possam ficar mais tempo no teletrabalho para cuidar dos seus filhos", acrescenta o presidente do Sindicato de Mato Grosso.

Rubens Jorge Alencar, presidente do Sindicato de Campo Grande, agrega outro argumento: "A redução da jornada de trabalho é um avanço já conquistado pelos trabalhadores em muitos países, inclusive no Brasil. As avaliações até agora são de que a redução da jornada contribui até para o aumento da produção. A Fenaban reconheceu que é um tema a ser avaliado.”

A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, ressaltou que a jornada de quatro dias semanais apareceu como prioridade para 42% dos trabalhadores que responderam à Consulta Nacional dos Bancários de 2024, somente atrás de manutenção de direitos (70%); emprego (49%) e combate ao assédio moral (45%).

“A redução da jornada, sem a redução salarial e com a manutenção da abertura dos bancos de segunda a sexta-feira, além de trazer impactos positivos na vida dos trabalhadores (com melhorias na saúde física e mental, menos esgotamento, insônia e fadiga), não impactaria na produtividade e na receita da empresa, pelo contrário, poderá até aumentar esses níveis. Além disso, é uma forma de democratizar os ganhos financeiros, obtidos com os avanços tecnológicos, porque tem potencial de gerar mais vagas para o setor”, explicou Juvandia. 

Potencial de geração de empregos

Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a implementação da jornada de quatro dias, entre os bancários que hoje realizam a jornada de 37 horas semanais, teria o potencial de criar mais de 108 mil vagas no setor, ou 25% do total de vagas que existem atualmente.

Se a jornada reduzida fosse implementada entre os trabalhadores com jornada semanal de 30 horas, o potencial de geração de emprego seria de mais de 240 mil vagas, ou 55,5% do total que existe hoje. 

Já, se a redução da jornada fosse implementada apenas na área de TI dos bancos privados, o potencial de geração de empregos seria de mais de 7 mil, aumento 25% no volume atual de postos. 

“Para além de todos esses dados, pesquisas apontam que a jornada reduzida para quatro dias semanais tem potencial de reduzir a emissão de gases de efeito estufa em até um quinto. Um novo mundo está se apresentando com a revolução tecnológica. Ou continuamos, como está, com redução de empregos e reforçando a crise ambiental. Ou tomamos medidas novas para enfrentar esses problemas, como a redução da jornada semanal, onde toda a sociedade ganha”, pontuou Juvandia. 

Pedido de projeto piloto 


A também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, destacou a importância da redução da jornada para saúde. 

“Nossa categoria é uma das que mais sofre com adoecimento mental, com doenças psicossomáticas. Com a implementação da jornada reduzida, o setor estaria dando um passo muito importante não só aos próprios bancos, mas também para a sociedade”, pontuou, reforçando que os bancos podem estabelecer, a partir destas negociações, um programa piloto. “Podemos ser pioneiros neste debate, com testes e avaliações em escala maior. Uma grande empresa, num setor como o bancário, que investe mais em tecnologia e capacitação, tem muito mais condições de tomar essa iniciativa”, completou Neiva. 

Os representantes dos bancos afirmaram que vão levar o pedido para avaliação das direções das empresas.

Teletrabalho

Os trabalhadores pediram à Fenaban o número de profissionais que hoje estão atuando em home office, seja no sistema híbrido ou totalmente remoto.

A Fenaban disse que no Brasil, atualmente, 33% dos bancários estão em teletrabalho, ou seja, 143 mil. Do total de bancários em teletrabalho, 91% estão no modelo híbrido e 9% no modelo totalmente remoto.

A Fenaban disse que não há garantia, sequer, de manutenção do percentual de pessoas em teletrabalho. O Comando respondeu reforçando a cobrança por ampliação do home office.

“Essa informação é preocupante, porque o teletrabalho é uma das grandes conquistas dos trabalhadores e que tem relação com a qualidade de vida. Vamos manter a nossa reivindicação para a proteção desse direito, porque existe uma demanda na categoria, inclusive de ampliação do trabalho remoto”, pontuou Juvandia Moreira. 

Verbas do teletrabalho

O Comando Nacional reivindicou também a ampliação do valor da ajuda de custo, aos trabalhadores que atuam em home office. Na CCT de 2022, houve a conquista de ajuda de custo anual de R$ 1.036,80, com reajuste pelo INPC + 0,5% de ganho real em 2023, elevando o valor desde o ano passado para R$ 1.084,29/ano ou R$ 90,36/mês.

"Alguns itens que impactam no teletrabalho estão com inflação mais elevada que a média geral, por isso é preciso haver aumento do auxílio", reiterou Juvandia Moreira.

Segundo relatório do Dieese, entre 2019 e 2023, os cinco maiores bancos do país reduziram as despesas administrativas (com aluguel, água, energia, gás, materiais, reparação, segurança e vigilância, por exemplo) em 17%. Somente entre 2022 e 2023, essa redução foi 3%. 

Por outro lado, nos itens que impactam o teletrabalho na categoria, como despesas domésticas, ar-condicionado, aluguel e taxas, energia elétrica residencial e plano de telefonia móvel, aumentaram significativamente.

A título de comparação, categorias de outros setores pagam valores superiores de auxílio home office. De 13 acordos analisados, a média é de R$ 141. Há também alguns bancos que pagam auxílios maiores, a partir de R$ 100 ao mês, chegando a R$ 210, no caso do JP Morgan e R$ 364,40 por mês, no caso do Banco Paulista.

Mobilizações

Após a reunião com a Fenaban, o Comando Nacional dos Bancários decidiu que irá organizar uma plenária entre os profissionais em teletrabalho. 

Além disso, orientou a manutenção de mobilizações sobre o tema, para reforçar as conquistas em Teletrabalho e impedir a retirada de direitos por parte dos bancos.

Calendário das próximas reuniões

Julho
11/07 – Igualdade de oportunidades
18 e 25/07 – Saúde e condições de trabalho: incluindo discussões sobre pessoas com deficiência (PCDs), neurodivergentes e combate aos programas de metas abusivas
 

Agosto
6 e 13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição

 

Fonte: Contraf-CUT, com Fetec-CUT/CN


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