Os bancários têm o desafio de avançar na obtenção de novos direitos na Campanha Nacional deste ano, não apenas para acrescentar novas conquistas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), mas também para abrir o caminho para que outras categorias também possam alcançar vitórias e assim fortalecer a luta da classe trabalhadora, a democracia e o futuro do Brasil. A avaliação foi feita nesta sexta-feira 7 por Rodrigo Britto, presidente da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN), na aberta da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Finandeiro, que está sendo realizada em São Paulo.
“A história da categoria bancária é exemplo para os trabalhadores de todo o Brasil. Os bancários e bancárias conseguiram algo inédito, que é a Convenção Coletiva de Trabalho e a unificação da categoria a nível nacional. Por isso sofremos ataques do sistema financeiro, tentando retirar nossos direitos”, disse Rodrigo.
“Os banqueiros são aqueles que estão dia a dia enviando projetos no Congresso Nacional para fragilizar a categoria e todos os trabalhadores, como fizeram com a reforma trabalhista, a precarização do trabalho e a reforma que tentou acabar com a nossa Previdência Social. Eles são aqueles que tentaram dar um golpe de Estado”, acrescentou. “Eles querem derrotar a categoria mais organizada criando outras categorias, com novas relações de contrato que, no passado, eram considerados fraudes trabalhistas, e conseguíamos derrotar na Justiça. Mas, com a reforma trabalhista isto não é mais possível e, por isso também, eles querem acabar com a nossa Justiça Trabalhista.”
Rodrigo Britto, que falou em nome da Articulação Bancária, concluiu com um alerta: “É nosso desafio, na negociação coletiva da categoria mais organizada do país, conquistar novos avanços, que serão construídos nas ruas e nas redes. Caso contrário, estaremos dando uma sinalização para outros setores patronais do país a negociarem contratos rebaixados para o conjunto da classe trabalhadora. Portanto, nossa responsabilidade é muito maior do que conseguir uma convenção coletiva de trabalho. É discutir qual o futuro que queremos para a população do nosso Brasil”. Confira o vídeo com a participação de Rodrigo Britto na abertura da conferência.
A 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro termina no domingo 9 com a aprovação da pauta de reivindicações da Campanha Nacional de 2024. Participam do encontro mais de 600 delegados e delegadas de todo o país, dos quais 78 representam as bases sindicais da Federação Centro-Norte.
A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira, declarou fez na abertura da Conferência um chamado para que os trabalhadores se unam para manter os direitos atuais, conquistar novos e reconstruir um Brasil.
“É importantíssimo conquistarmos aumento real e avançarmos na conquista de direitos, mas é importantíssimo reconstruirmos o Brasil que valoriza a classe trabalhadora, que é quem constrói a riqueza com seu trabalho. Para isso, devemos fortalecer as empresas e bancos públicos, que contribuem com os investimentos no setor produtivo e no desenvolvimento regional para que seja possível melhorar as condições de vida da população”, disse.
Para Juvandia, os sindicatos têm a obrigação de politizar a Campanha Nacional, para que os bancários compreendam que o individualismo não vai reconstruir o Brasil e entendam que é preciso que haja a união da classe trabalhadora para derrotarmos o pensamento neoliberal que prega o Estado mínimo e a redução de diretos e salários. “Somente juntos será possível obter aumento real, obter novos direitos e melhorar as condições de vida da população”, disse.
Ela ressaltou que, para isso, nas eleições deste ano, os trabalhadores têm a obrigação de eleger candidatas e candidatos que tenham compromisso com a classe trabalhadora. “Ao final de nossa conferência, precisamos voltar pra casa e levar essa discussão para nossas bases. Não podemos deixar que sejam eleitos representantes do 1% da população. Temos que eleger candidatas e candidatos comprometidos com nossa pauta de reivindicações. Sem esquecer que nossa campanha não é apenas corporativa, mas sim uma campanha para o Brasil que trabalha e também para o mundo”, destacando que o mundo não pode ser calar diante do genocídio cometido por Israel contra o povo palestino.
Para Juvandia, outro ponto central da Campanha dos Bancários é a regulamentação do sistema financeiro. “Isso é fundamental não apenas para lutar contra a apropriação da riqueza pelos mais ricas, mas também para evitarmos demissões e cobrar responsabilidades de bancos que atuam como bancos, mas não querem ser taxados como bancos e nem pagar os direitos da categoria bancária aos seus funcionários.”
Ela garantiu que “com nossa unidade, vamos sair daqui com uma minuta que vai permitir que a gente faça uma grande campanha com tudo o que for preciso para obtermos conquistas para a categoria e ajudarmos a reconstruir o país. E vamos fazer isso juntos. Porque o Futuro se faz agora e se faz juntos!”
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, reforçou o ponto em comum debatido nos congressos de bancos públicos e privados, que antecederam a Conferência: a importância da unidade da categoria bancária. “Uma das partes importantes é começarmos a campanha nacional com nossa unidade fortalecida. Esse é e tem sido o segredo para o nosso sucesso em tempos de crise e ataques como já enfrentamos”.
Ela lembrou que esta será a primeira Campanha Nacional dos Bancários depois do golpe de 2016, sem o “desgoverno Temer e sem o governo do inominável. Vivemos um período de tantos ataques e o que nos fez resistir foi o nosso fortalecimento e a nossa unidade”, disse ela. A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região defendeu o amplo debate sobre a regulamentação do sistema financeiro nacional e o lucro gerado pelo setor e de como ela retorna para sociedade.
Neiva Ribeiro destacou ainda que é essencial a categoria usar as redes sociais a seu favor, ocupando o espaço para defender suas reivindicações e se contrapor ao discurso de ódio usados pelo extremismo de direita. “Vamos usar as redes sociais a nosso favor, o futuro se constrói agora e o futuro se constrói juntos”, finalizou Neiva Ribeiro.
Raimundo Suzart, presidente da CUT São Paulo, destacou a importância da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e a mobilização organizada dos trabalhadores. Ele enfatizou a necessidade de um acordo de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que beneficie as economias locais e defendeu que, enquanto os banqueiros lucram bilhões, os trabalhadores precisam de uma CCT robusta para garantir seus direitos. "Os bancos, diante de alta demanda, aumentam os juros; em tempos de crise, aumentam o risco, e temos observado lucros bilionários crescentes. Vocês são uma categoria com a capacidade de nos representar como uma grande referência para todo o Brasil. Os banqueiros se tornam bilionários a cada dia, portanto, precisamos de uma grande CCT que beneficie os trabalhadores”, afirmou Suzart.
Para Augusto Vasconcelos, representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Convenção Coletiva dos Trabalhadores bancários, assim como todas as outras CCTs do Brasil, está passando por grandes ameaças, principalmente por conta da reforma trabalhista. “Além disso, a campanha salarial é de extrema importância para unificar a luta dos bancários e das bancárias que se assemelham a maior parte da sociedade do país, que não é herdeira nem dona de banco, e sim assalariada, endividada ou desempregada”, lembrou. “Com organização coletiva é possível vencer a concentração de renda e garantir vitórias em defesa da maioria da sociedade”, completou.
Nilza Pereira, secretária-Geral da Intersindical, enalteceu a importância da categoria por ser um “farol para as outras categorias”, até pela data-base, que é uma das primeiras do segundo semestre. “Quando a campanha salarial dos bancários não é tão boa, isso reflete em todas as outras categorias. Os patrões dizem que ‘se está ruim para os bancos, imagine para nós’. Só que para os bancos nunca está ruim, eles ganham sempre e não é possível que eles não sejam responsabilizados socialmente. O desafio agora é debater como o nosso trabalho tem reflexo na vida dos outros e em todo o meio ambiente.”
Sergio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), ressaltou que o Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef) foi encerrado nesta quinta (6) com debates importantes sobre questões como fundo de pensão (a Funcef), saúde e condições de trabalho. “E nós debatemos que não existem soluções individuais e isso vale para toda a nossa campanha. Só a luta coletiva nos leva a conquistar avanços. Nós vimos como os governos Temer e Bolsonaro conseguiram destruir o que foi feito nos governos Lula e Dilma na Caixa. E nós precisamos reconstruir o Brasil e essa reconstrução passa pela Caixa e pelos bancos públicos. Vamos reconstruir esse país com a luta e unidade de toda a categoria bancária”.
Márcio Monzane, secretário Regional da UNI Américas, falou sobre a importância da negociação coletiva da categoria bancária no Brasil, destacando seu exemplo para outras partes do mundo. “Sobretudo porque o setor financeiro passa por transformações aceleradas frente às novas tecnologias, que implicam em forte pressão sobre os postos de trabalho. E os trabalhadores precisam fazer parte destas mudanças. Por isso, o modelo de negociação adotado é tão importante”, justificou. “Os resultados alcançados aqui têm grande impacto no que pensamos para a construção do futuro, pois o mundo todo tem olhado os exemplos positivos para seguir. E os bancários têm um dos melhores exemplos para contribuir no processo de construção, defesa e ampliação de direitos dos trabalhadores”, concluiu Monzane.
Hermelino Souza Meira Neto, presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feeb-BA/SE) e representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ressaltou que é importante os trabalhadores vincularem as lutas por melhores condições de vida e salário com a luta social e política. “Elegemos um governo que já nos trouxe diversos resultados positivos, mas nossa campanha trará muitos desafios no combate de metas e pela manutenção do emprego, que tem relação com a falta de regulamentação do setor financeiro, que faz com o Nubank tenha maior valor de marcado que o Itaú, e sabemos que isso não está certo”, observou o representante da CTB.
Juberlei Baes Bacelo, secretário de Comunicação da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS) e representante da corrente política CSD, agradeceu aos sindicatos e federações de todo o país a solidariedade às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul. “Essa solidariedade demonstra o quanto o nosso povo tem em suas raízes a defesa da justiça e igualdade. Diante da grave situação, não conseguimos vir com a delegação completa, mas trazemos aqui a nossa contribuição e colocamos entre as prioridades a defesa do meio ambiente”, destacou.
Carlos Pereira de Araújo, secretário de Imprensa e Comunicação do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo, enfatizou a necessidade de organização e resistência contra os ataques da extrema direita, que afetam questões de raça, gênero, meio ambiente e direitos das populações originárias, entre outros. Ele também destacou a urgência de enfrentar a opressão nas negociações com a Fenaban. "Como categoria, precisamos sair dessa encruzilhada que a Fenaban nos coloca em todas as negociações. Estamos enfrentando um ‘genocídio’ na categoria bancária em relação à saúde, algo que não podemos tolerar. Devemos montar uma estratégia para armar a categoria na defesa da saúde e do emprego, além de defender os bancos públicos."
Nilton Damião Esperança, presidente da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf-RJ/ES) e representante da corrente política Fórum, falou sobre a importância de este ser um ano tanto de campanha salarial quanto eleitoral. Para Nilton, é imprescindível que a categoria consiga conscientizar a sociedade para eleger quem represente a classe trabalhadora. “Temos perdas e derrotas em nosso governo por conta de um Congresso que não nos representa. Precisamos cobrar uma mudança na reforma trabalhista e uma revisão da reforma da previdência, mas, tão ou mais importante que uma reforma sindical, é uma reforma política partidária em nosso país”, concluiu.
David Zaia, presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul (Feeb SP/MS), que representa a corrente política Unidade, falou da importância da história de construção das campanhas nacionais ao longo dos anos, que garantiu as conquistas. “Nós temos o maior índice de sindicalização em nível de Brasil e, talvez, até mundial, graças ao trabalho das entidades sindicais”, ressaltou.
“Temos uma história de luta pela democracia e em defesa de nossa categoria”, acrescentou. “Podemos ter divergências, mas a unidade é fundamental para termos sucesso nestes enfrentamentos. É normal que surjam dificuldades para a nossa organização neste momento. Mas vamos dar conta de responder [aos desafios] mais uma vez com a mobilização dos bancários e renovando a Convenção Coletiva de Trabalho, realizando uma grande campanha nacional”, completou Zaia.
Fonte: Fetec-CUT/CN, com Contraf-CUT