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3 de Outubro de 2017 às 09:49

Professores de Direito da UFSC dizem que Cancellier foi vítima da nova Inquisição brasileira


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Em mais uma manifestação de apoio e lamentação pela morte do reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier, os professores de Direito da instituição afirmam que o professor foi vítima da nova inquisição brasileira.

Cancellier se suicidou nesta segunda-feira 2 no Beiramar Shopping, em Florianópolis, após ter denunciado "humilhação e vexame" a que foi submetido por ser alvo de uma investigação que apura irregularidades em uma gestão anterior à sua. Quatro dias antes de se matar, ele publicou um artigo em que negou com veemência ter obstruído a Justiça, conforme dizia a acusação contra ele.

"Perdemos o colega para o punitivismo de um Estado policialesco (e de uma parte da sociedade que adere a esse discurso) que rebaixa todos à condição de criminosos prévios, sem direito à defesa ou contraditório. Que primeiro prende e depois investiga. Que destrói reputações e depois arquiva", dizem os colegas no texto.

Leia abaixo a íntegra:

Hoje foi um dia de profunda tristeza na Universidade Federal de Santa Catarina. Um dia onde perdemos o amigo, o colega de departamento e o reitor de nossa universidade. O colega de voz calma que sempre buscava construir o diálogo e o meio termo (Luiz Cancellier era leitor assíduo de Habermas e acreditava na construção dialógica de consensos possíveis). O colega que optara por estudar Direito e Literatura, fugindo das lides forenses que nos endurecem nos embates do cotidiano, se refugiando na doçura da arte de um Shakespeare, de um Kafka, de um Camus, de um Machado de Assis, de uma Cecília Meireles. O colega que era respeitado no CCJ pela habilidade com que resolvia conflitos e que se tornou reitor de uma das mais importantes universidades da América Latina. Perdemos o colega para o punitivismo de um Estado policialesco (e de uma parte da sociedade que adere a esse discurso) que rebaixa todos à condição de criminosos prévios, sem direito à defesa ou contraditório. Que primeiro prende e depois investiga. Que destrói reputações e depois arquiva. Perdemos o colega para o senso comum que denuncia, condena e executa com base no achismo. Perdemos o colega para elementos de exceção que se continuarem a ser alimentados poderão levar a caminhos perigosos para a nossa jovem, mas já combalida democracia. Perdemos o amigo para um estilo de processo penal que tem crescido nos últimos anos em nosso país, altamente seletivo e inquisitorial, baseado em um discurso de emergência que elege inimigos e bodes-expiatórios de ocasião. Para um tipo de Justiça de iluminados que separa o mundo entre os puros e os impuros e que decreta cruzadas para derrotar o inimigo difuso. Cau foi imolado nesse contexto. Temos muito que aprender com isso. Adeus Cau!



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