Ainda não eram nem 5 horas da madrugada de sábado (22) quando parte dos 26 delegados e delegadas sindicais do Banpará aguardavam entusiasmados e uniformizados, na sede do Sindicato, pelo início do segundo e último dia de formação sindical. Uma programação totalmente diferente de tudo que eles já vivenciaram enquanto representantes do Sindicato, eleitos.
“A programação vai ser algo diferente, a gente vai atravessar para a Ilha do Maracujá de canoa, e vai também um grupo de barco, porque nem todo mundo se sente à vontade de remar. E a gente lá vai fazer dois debates: como os delegados sindicais entendem que o Sindicato deve realizar o trabalho no Banco do Estado, e como eles podem ajudar nisso; e o outro, é um debate ambiental, sobre trabalho decente, transição justa, a própria COP-30 que a gente é o estado sede; o que traz pra gente bastante reflexões, inclusive de não sermos apenas o local que sedia o evento, mas sim um local que interfere na pauta, que organiza os movimentos, para falar pelos trabalhadores o que eles pensam também sobre essa temática do clima”, conta a presidenta do Sindicato, Tatiana Oliveira, que fez a travessia de canoa.
A primeira parada dessa imersão política e socioambiental foi na sede da Associação Remo Guajará, no bairro da Condor, bem às margens do rio Guamá. Como para a maioria dos participantes era a primeira vez em uma remada, o instrutor da Marear Canoagem, Ricardo Boto, fez um passo a passo de como todos e todas deveriam remar até o destino final.
Devidamente vestidos com os equipamentos de segurança: remos à direita, preparar… Rema, canoa! E assim, nem sempre sincronizados, bancários e bancárias cruzaram a Baía do Guajará, no meio dela viram o despertar de um novo dia, até desembarcarem no quintal da pescadora, Maria de Nazaré Conceição, que aguardava todos e todas com um café ribeirinho.
Alimentados, hora de debater e refletir um dos principais motivos de delegados, delegadas e dirigentes sindicais estarem ali reunidos, ‘COP-30 e a crise climática: participação e construção de um legado’. A dinâmica consistiu em verdade ou mentira sobre mudanças climáticas e seus efeitos.
Uma das perguntas foi “Reflorestar uma área desmatada recupera totalmente sua biodiversidade original?” Falso. Segundo estudo da Universidade Estadual de Londrina, o reflorestamento ajuda na recuperação ambiental, mas ecossistemas complexos, como a Amazônia, podem nunca voltar ao estado original devido à perda de espécies e mudanças no solo.
“Muitos me perguntam, mas Sindicato dos Bancários, uma pasta de meio ambiente porquê? Porque nós estamos na Amazônia, porque nós construímos essa Amazônia; e o meio ambiente integra nossa vida. Se a gente não tiver essa relação de respeito, como você vai preservar, se você não entende seu local, seu território que você faz parte dele. Então estamos na construção da COP-30, estamos nos debates, fazendo parte em todos os momentos que têm fóruns, tanto eu como a Rosa, porque a gente entende que é necessário compreender o que é preservar essa Amazônia, o que é a transição justa, o que é a mitigação”, explica a diretora de meio ambiente, Heidiany Moreno, que também é bancária do Banpará.
Rosa, a quem ela se refere, é a Rosalina Amorim, secretária de meio ambiente da CUT Brasil e também diretora do Sindicato e que acompanhou de perto a COP-29 em Baku.
“Lá foi tirado o compromisso de o Brasil ser um país de ponta das discussões do clima. Isso tem uma expectativa enorme do ponto de vista da organização e da presença que o Brasil tem nesse debate. Então, as discussões que passam pelas questões de financiamento climático, esses compromissos que a gente tem, pelas questões de resiliência e adaptação, mitigação e principalmente a participação social. Então a gente precisa fazer essas discussões da proteção da vida, da proteção da floresta, da proteção dos povos originários, da água, da energia limpa e para todos; é nessa linha que a gente chama e convida todos vocês a se organizarem e participarem aqui também da Cúpula dos Povos que antecede a COP”, conta a dirigente sindical.
“Acho que todo mundo percebeu que se a gente não consegue sincronizar as remadas, se a gente não consegue ter uma velocidade próxima, ela não sai do lugar do mesmo jeito. Se um rema na hora que o outro está levantando, a gente bate um no outro. A gente queria fazer esse link com vocês, de como a gente precisa um trabalho em equipe, para que o trabalho flua, para que a gente consiga ser uma fortaleza, para que a gente consiga se fortalecer mutuamente”, exemplifica a presidenta do Sindicato, Tatiana Oliveira.
Foi também para essa reflexão na prática que a remada fez parte da programação de formação sindical, que no encerramento teve ainda a reprodução da ‘Canoa de lutas’ que faz parte da criação gráfica da capa da Agenda 2025.
Para a delegada sindical em Soure, Camila Aragão, que é bióloga por formação; os dois dias de debates e reflexões foram de extrema importância para que ela e os demais delegados possam aplicar, o que foi discutido, na realidade de cada região do Pará que esteve ali representada. “Que todas essas discussões possam retornar conosco, pros nossos trabalhos, pras nossas agências; pros nossos colegas ali do dia a dia e refletirmos sobre o nosso trabalho enquanto agência bancária, enquanto funcionários do Banco do Estado do Pará. Refletirmos se ‘será que esse crédito que estamos liberando todos os dias está fomentando empreendimentos sustentáveis? Está fomentando o desenvolvimento social da região aonde a gente vive?’ São questões muito válidas que eu acho muito bom que a gente consiga parar para pensar dessa forma a respeito do papel que a gente exerce na sociedade também enquanto profissionais bancários”, avalia.
“Enquanto Sindicato dos Bancários do Pará, esse debate ambiental vai estar presente o ano inteiro nas nossas agendas. A gente vai ter as formações virtuais que a gente vai chamar as reuniões com pessoas para falar sobre esse tema. A nossa ideia é que a gente tenha pelo menos uma comissão de delegados, junto com a direção do Sindicato, presente na COP”, afirma Tatiana Oliveira.
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A série de reportagens ‘Canoa de lutas: Sindicato realiza curso de formação inédito com delegados e delegadas sindicais’ continua e vai trazer outros detalhes de como foi o segundo e último dia de formação sindical e socioambiental com direito a remada e travessia de barco até a Ilha do Maracujá, no município do Acará, nordeste paraense.
Fonte: Bancários PA