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São Paulo – O banco Santander foi uma das primeiras grandes empresas a aparecer na mídia para apoiar a campanha “não demita”, mas agora é o primeiro a violar o compromisso, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva. A dirigente lembra que o banco fez acordo com os sindicatos de que não iria fazer cortes em plena pandemia. No entanto, na última sexta-feira (5), o banco mandou embora ao menos 15 trabalhadores sem justa causa, descumprindo o compromisso público que havia assumido em interromper desligamentos durante a crise sanitária.
“Para nós, o compromisso era não demissão até o fim da pandemia”, afirma Ivone. “E em São Paulo, onde o Santander demite, a curva de contaminação só está subindo. Não houve achatamento. É uma crueldade.”
“Recebe dinheiro do governo, faz propagandas lindas, diz que apoia investimentos… Tudo mentira. É um banco que tem coragem de colocar na rua 15 trabalhadores num momento tão cruel da pandemia, em que essas pessoas não vão conseguir se colocar no mercado de trabalho”, protesta Ivone, que é também da coordenação do Comando Nacional dos Bancários.
A sindicalista associa a decisão do Santander, que lucrou R$ 14,5 bilhões no ano passado e já iniciou o primeiro trimestre deste ano com ganhos de R$ 3,8 bilhões (10% maior do que no primeiro trimestre de 2019), a um gesto desleal e de covardia.
Segundo ela, o momento é muito ruim para os trabalhadores, e atribulado para o movimento sindical. “O movimento sindical hoje tem de ficar atento a tudo o que está acontecendo no Congresso Nacional, fazer negociações com prefeituras, com governadores, porque não são só os patrões que têm problemas”, afirma. Ivone considera “absurdo” São Paulo ter autorizado a abertura do comércio, por exemplo.
“Nossos governantes estão nos jogando para a morte. E o Santander também fez isso com seus trabalhadores, que fizeram sua parte para que o Santander Brasil (de controle espanhol) seja o mais lucrativo do mundo. Em torno de 30% do lucro mundial dele vem do Brasil.” A presidenta do sindicato observa ainda que a forma como o Santander lida com os trabalhadores é uma no Brasil e outra na Espanha, com um agravante: “Na Espanha tem governo. Aqui não tem. O Bolsonaro não governa”.
A diretora do sindicato e funcionária do Santander Maria Rosani afirma que o banco espanhol demite em plena pandemia e está desprezando a realidade brasileira, que já tem quase 40 mil mortos. “Na Espanha, o Santander tem agido de forma totalmente diferente, o que deixa claro que por aqui a direção optou por se alinhar com Bolsonaro na tentativa de enfraquecer as quarentenas e de prejudicar os trabalhadores”, diz Rosani.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Ivone Silva não poupa crítica ao governador João Doria (PSDB). “Se elegeu dizendo não ser político e não é mesmo, não governa. Na primeira crise, não sabe o que fazer.” E contesta também as indecisões da administração de Bruno Covas (PSDB) na capital. “Decretou feriado e os bancos não respeitaram. Não manda nada.”
Para ela, as negociação com governos não são confiáveis. “Não temos prefeito, não temos governador e não temos presidente”, critica. “Os bancos estão alinhados com esses governos. “É como se a vidas das pessoas não valessem nada.”
Ivone falou também do desafio que foi realizar uma eleição da diretoria do sindicato em meio a uma pandemia que exige o maior isolamento social possível. “Imagina como seria colocar 600 pessoas para percorrer 3 mil locais de trabalho.” A eleição, realizada por votação à distância na semana passada, elegeu a chapa 1, com 94% dos votos e conferiu mais um mandato a Ivone na presidência. A diretoria da gestão 2020-2023 toma posse em julho.