São Paulo – “Chegou o limite de não ter mais o que fazer. Já são 10 anos tentando retornar e todas as tentativas de reabilitação, ou sofri assédio moral, ou não respeitavam as restrições, do INSS ou do meu médico particular. O programa de retorno não existe. Nenhuma das pessoas com quem eu tive contato e que também estavam no programa conseguiu se reabilitar. Nunca vi nenhuma reabilitação bem sucedida. Tem o caso de uma menina que tentou suicídio. Ela fez um acordo com o banco para ser demitida e agora ela fala que encontrou a paz dela. E é o que eu quero. Vou fazer 26 anos de banco e só quero minha paz.”
O depoimento de uma bancária do Itaú resume o que é o programa de reabilitação médica do banco. Ela passou por 12 assaltos em diferentes agências onde trabalhou e, por causa disso, desenvolveu síndrome do pânico. A situação impossibilitou-a de continuar trabalhando no atendimento ao público e levou a se afastar pelo INSS. O órgão emitiu laudo comprovando a doença e orientando o banco a transferi-la para uma área administrativa.
Entretanto, quando tentou voltar a trabalhar no banco, foi designada para a mesma agência onde tinha sofrido diversos assaltos, o que levou a bancária a se afastar novamente.
O INSS emitiu um certificado de reabilitação profissional determinando que o Itaú a reintegrasse em área administrativa. Ela conta que chegou a se formar em um curso técnico administrativo para que pudesse ocupar outra função longe de agência.
“Quando entreguei a reabilitação para o médico do banco, ele disse que nunca tinha visto aquele documento, me deu um Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) e me mandou para mesma agência ocupar mesma função. Me deu apto para exercer a mesma função na mesma agência. É uma piada, né? Eu começo a dar risada, porque é inacreditável”, conta.
“Os trabalhadores do Itaú quando voltam de licença médica, após alta, chegam ao banco esperando apoio e respeito em sua volta, mas o que acontece é discriminação, humilhação e total descaso com recomendações médicas”, comenta Valeska Pincovai, dirigente sindical e bancária do Itaú. “O mais trágico é que essas recomendações são endossadas pelo médico do trabalho do banco e nem assim são seguidas pelo Itaú.”
O Sindicato tem acompanhado vários casos semelhantes. Gestores e médicos da empresa não respeitam recomendações médicas como diminuição de carga horária, proibição de exercer a mesma função, e retorno para um local de trabalho diferente.
“Ou seja, o bancário volta para o mesmo local e nas mesmas condições de antes de sair de licença. É inadmissível o que o Itaú faz com esses bancários, que adoecem pela rotina massacrante nos locais de trabalho, com cobrança de metas abusivas e assédio moral”, critica Valeska.
A dirigente relata que recebe vários telefonemas desesperados de bancários. “Eles ligam chorando, com crise de pânico, alguns chegam até a desmaiar, outros abandonam o local no meio do expediente com surtos psicóticos”, relata.
Demissões – Questionado sobre as denúncias, o banco alega que faz de tudo para ajudar na reinserção. “Mas o bancário não quer mais trabalhar! Até metas são cobradas como se esse funcionário nunca tivesse passado por um tratamento médico”, afirma Valeska.
E o desrespeito e a falta de sensibilidade não param por aí. Muitos desses trabalhadores estão sendo demitidos em pleno programa de reabilitação, porque, segundo o banco, não alcançam os resultados exigidos.
“Parece piada, mas não é. Que vergonha, Itaú! Programa de Reabilitação para quê?
Esse tratamento está levando diversos funcionários à loucura, muitos saem de licença por lesão por esforço repetitivo e acabam adquirindo problemas psicológicos, como depressão, síndrome de pânico, entre outros. Um programa que ao invés de reabilitar o bancário, acaba com sua vida!”, protesta Valeska.
O depoimento da bancária endossa as críticas feitas por Valeska. “Cheguei em um estágio de stress tão grande que desencadeou em outras doenças, desenvolvi um tumor na tireoide, estou com hepatite medicamentosa de tanto tomar remédio, diabetes, pedra na vesícula. Chegou ao ponto de minha saúde ser mais importante. Agora só quero minha paz.”
Fonte: Rodolfo Wrolli, Spbancários