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22 de Setembro de 2016 às 10:32

Prisão 'espetacular' de Mantega provoca reações de indignidade

Detenção do ex-ministro durante cirurgia da mulher, doente de câncer, é seguida de onda de protestos. "Espetacularização", acusa advogada. "Tratamento para outros é diferente", disse governador da Bahia


Crédito: FABIO R. POZZEBOM / ABR
Guido Mantega, ex-ministro de Dilma, foi preso dentro de um hospital, enquanto sua mulher passava por cirurgia para retirar um câncer

por Hylda Cavalcanti, da RBA

Brasília – Mesmo defensores da Lava Jato, apoiadores do governo que levou Michel Temer ao poder, detratores de Lula e do PT e até profissionais de imprensa da mídia tradicional, advogados, políticos e cidadãos diversos demonstraram indignação com as circunstâncias da prisão intempestiva do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, na manhã de hoje (22). Mantega foi preso no hospital Albert Einstein em São Paulo, retirado de dentro da sala de cirurgia em que acompanhava a cirurgia pela qual passava de sua mulher, para a retirada de um câncer.

O ex-ministro foi preso de forma preventiva, apesar de já ter prestado vários depoimentos anteriormente e de nunca ter se recusado a falar com a Polícia Federal sempre que convocado.

"Foi mais uma espetacularização que está superando todos os limites de respeito à dignidade da pessoa humana", disse a cientista política e advogada Marcela Mariz de Albuquerque,. "Se ao menos esperassem por umas horas, até o fim da cirurgia, para deter o ex-ministro, seria errado mesmo assim, mas ainda haveria certa admissibilidade."

Um dos primeiros políticos a se manifestar foi o governador da Bahia, Rui Costa (PT). Em entrevista a uma emissora de rádio de Salvador, o petista criticou a atuação dos juízes e promotores. Segundo ele, "ninguém, absolutamente ninguém está acima da lei. Nem governador, nem prefeito, deputado, presidente, nem ex-presidente, ministro ou ex. Mas é claro, nítida e transparente, a partidarização, a politização e um verdadeiro espetáculo promovido por alguns promotores e juízes em nosso país".

"O ex-ministro estava no hospital acompanhando a cirurgia da esposa e vai preso. Pergunto: qual o perigo que ele estava representando para a sociedade naquele momento?", questionou o governador.

Rui Costa afirmou que não pretende ficar falando em outros casos de siglas adversárias que deram repercussão nacional, mas fica evidente que, como envolveram políticos de outro partido tiveram tratamento diferenciado. "Acharam um helicóptero com 400 quilos de cocaína, provavelmente sabiam pra onde iria, mas faltou convicção a quem estava apurando. E aí congelaram o caso. As pessoas responsáveis pela investigação nunca mais tocaram no assunto. E agora um ex-ministro sofre esse espetáculo midiático de pessoas que não respeitam a Constituição Federal nem as leis do Brasil. Estão passando de todos os limites. A lei é clara sobre as garantias individuais", acrescentou.

'O povo sabe'

Costa destacou, ainda, que "o povo sabe o que está acontecendo". "Quem tem vastos elementos, contas no exterior, continua passeando, jantando em restaurantes chiques do Rio de Janeiro, e nada acontece".

Nas redes sociais, a reação também foi crítica. "Na minha opinião, prender um cidadão no hospital enquanto esse cidadão acompanha a cirurgia da mulher é uma canalhice. Nem um marginal de carteirinha merece um tratamento desses. Minha solidariedade ao ex-ministro Guido Mantega", afirmou o jornalista Gladston Holanda, ex-editor do Correio Braziliense e editor da revista Tema, em sua página no Facebook. Holanda sempre manifestou sua postura favorável à deposição da presidenta eleita, Dilma Rousseff.

A prisão também foi chamada por outros internautas de "cafajestagem, "ato nojento" e classificada por muitos como "mais uma politização da Lava Jato para reduzir o impacto do ato nacional programado para esta quinta-feira", quando milhares de trabalhadores prometem ir às ruas protestar contra o governo Temer e perdas de direitos.

Desdobramento da Lava Jato

Guido Mantega foi preso na chamada Operação X, um desdobramento da Lava Jato e será levado ainda hoje para Curitiba (PR), segundo informações da Polícia Federal.

De acordo com os dados liberados pela PF referentes às investigações contra ele, a prisão diz respeito a denúncias de que em 2012, quando ministro da Fazenda, Mantega teria agido diretamente no comando das empresas Mendes Júnior e OSX, do empresário Eike Batista, contratadas pela Petrobras para negociar o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha de partidos políticos aliados do governo do PT.

Ele teria sido citado em delação premiada da publicitária Mônica Moura, esposa do publicitário João Santana, responsável pela campanha eleitoral da presidenta Dilma Rousseff.

Para justificar a prisão, os argumentos apresentados foram de que as acusações podem implicar em envolvimento do ex-ministro em crimes como "fraude de processo licitatório, corrupção de agentes públicos e repasses de recursos a agentes e partidos  políticos responsáveis pelas indicações de cargos importantes da estatal".

Embora tenha Mantega como principal alvo, no total, a operação Arquivo X resultou em 33 mandados de busca e apreensão, oito mandados de prisão temporária e outros oito de condução coercitiva. A operação está sendo realizada no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia.

 

 
 

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