por Daniel Isaia, da Agência Brasil
Brasília – A Procuradoria-Geral da República (PGR) decidiu investigar a conduta do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) após receber 17,8 mil reclamações de cidadãos que criticaram a conduta do parlamentar durante a votação da abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no último domingo (17).
Em breve discurso antes de votar a favor da abertura do impeachment, Bolsonaro exaltou o coronel Carlos Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores da ditadura militar brasileira, falecido no ano passado.
As reclamações foram recebidas em todo o país por meio de um serviço eletrônico do Ministério Público Federal (MPF) que permite aos cidadãos denunciar qualquer tipo de crime.
O procedimento aberto pela PGR será analisado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, porque Bolsonaro é deputado. Como parlamentar, ele também tem direito ao foro de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também vai avaliar as declarações de Bolsonaro. O caso foi incluído na pauta da próxima reunião do Conselho Federal da OAB, que ocorrerá no dia 17 de maio, com a presença da diretoria e dos 81 conselheiros da entidade.
Hoje (20) à tarde, em Porto Alegre, o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, disse que casos como este são propícios para se questionar a extensão da imunidade parlamentar de um deputado. “Até onde vai esse direito de um parlamentar, utilizando sua imunidade, incitar o crime nesta ou naquela direção? Precisamos avaliar exatamente qual é a amplitude do direito de imunidade que tem um deputado”.
Ontem (19), a OAB emitiu uma nota oficial em que repudia a manifestação do deputado “em clara apologia a um crime, ao enaltecer a figura de um notório torturador (Bolsonaro homanageou o Coronel Ustra em seu voto) ”. Ainda conforme a nota, a postura de Bolsonaro “é um evidente desrespeito aos direitos humanos e ao Estado Democrático de Direito”.
Claudio Lamachia também criticou a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, de paralisar a votação de projetos enquanto o impeachment não for votado no Senado.
“Eu espero que a primeira coisa que ande, inclusive enquanto o rito do impeachment estiver acontecendo no Senado Federal, seja exatamente o processo de cassação do deputado Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados”, disse o presidente da OAB.
Segundo Lamachia, a permanência de Cunha na presidência da Casa fere o princípio constitucional do devido processo legal. “Nessa condição de presidente, ele interfere no processo que está sendo julgado e que diz respeito a ele. Portanto, a OAB já tem uma posição muito clara no sentido do imediato afastamento desse deputado da presidência da Câmara”.
Lamachia disse, ainda, não acreditar na possibilidade de anistia a Eduardo Cunha, que está sendo levantada por alguns deputados aliados a ele nos bastidores da Câmara dos Deputados. O presidente da OAB garantiu que fará “tudo o que estiver ao alcance” para evitar que isso aconteça.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse que foi eleito presidente da Casa por dois anos e que vai cumprir o mandato até o último dia.