RBA
Tiago Pereira
São Paulo – Representantes de movimentos sociais que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo se reuniram em plenária virtual nesta quarta-feira (27), discutindo estratégias de mobilização para ampliar a pressão pelo “Fora Bolsonaro”, com o afastamento do presidente da República. A medida é considerada urgente, diante da resposta “caótica” do atual governo no combate à pandemia e seus efeitos econômicos.
A saída, segundo avaliação dos movimentos, passa pela unificação do campo popular e a construção de uma frente ampla, sem vetos. Citam o movimento pelas Diretas Já, na década de 1980, que contribuiu decisivamente para o fim da ditadura e o restabelecimento da normalidade democrática no país.
Além das dezenas de pedidos de impeachment protocolados no Congresso Nacional, existe também a possibilidade de cassação da chapa Bolsonaro/Mourão pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há ainda dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), que investigam as milícias virtuais bolsonaristas e a tentativa de intromissão do presidente na Polícia Federal (PF) para salvar seus filhos e amigos.
Ação e reação
Ações de solidariedade também foram defendidas como forma de garantir a sobrevivência de grupos mais vulneráveis ameaçados pela fome e, de quebra, disputar “corações e mentes” dessas pessoas para que tomem consciência da necessidade de uma mudança política para resgatar o futuro do país.
Falando pelo MST, João Pedro Stédile apontou um “impasse” na correlação de forças, com a direita tradicional se distanciando de Bolsonaro, mas ainda sem um nome que unifique os seus interesses, ao mesmo tempo que tentam isolar os setores populares ligados aos movimentos sociais e ao PT. Já o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, mostrou que o presidente usa o desespero das pessoas em favor do seu projeto autoritário.
A secretária-geral da CUT, Carmen Foro, defendeu a ampliação do movimento #EleNão, reeditando a mobilização das mulheres contra Bolsonaro durante a campanha eleitoral, agora usando #ElesNão por se referir a todo o atual governo . “Não nos interessa cassar Bolsonaro e deixar Mourão.” Por sua vez, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, ressaltou o êxito da mobilização virtual dos estudantes pelo adiamento do Enem como exemplo de ação virtual bem-sucedida para derrotar o governo.
Para Stédile, Bolsonaro está em processo de desgaste cada vez maior e se isola das forças organizadas da sociedade. Ele destacou os choques crescentes entre o presidente e o Supremo Tribunal Federal (STF), bem como com os governadores, até mesmo alguns antigos aliados. O que ainda mantém o atual governo, segundo ele, é a “tutela” dos militares.
“Cresce a indignação entre os mais pobres, a classe trabalhadora e amplos setores da sociedade. Já há sinais de uma insatisfação crescente. O Fora Bolsonaro já está pegando raiva. Não só é uma necessidade, como está se transformando numa indignação. É preciso trocar o governo para salvar vidas – e empregos”, afirmou.
Para Boulos, estamos “ao Deus dará”, diante da pandemia. “Não temos testagem em massa, não temos monitoramento epidemiológico. Não temos, sequer, recurso emergencial digno para a Saúde. O governo liberou até agora R$ 8 bilhões. É pouco mais de um terço do que a saúde perdeu com a emenda do teto de gastos nos últimos anos.”
Ele afirmou que, por trás da aparente falta de planejamento, está a aposta no caos. Além da explosão do número de mortes, no momento em que o Brasil se torna o epicentro da propagação da covid-19, as consequências econômicas serão “sem precedentes”. O cenário, segundo Boulos, deve incluir a elevação do desemprego para a casa dos 25 milhões, com a informalidade alcançado mais que o dobro disso. O risco é de uma convulsão social, quando a fome apertar em decorrência da falta de renda.
“Há possibilidade de violência generalizada e saque. É possível que a gente tenha um cenário de convulsão. Nossa avaliação é que Bolsonaro aposta verdadeiramente nisso.” Bolsonaro se aproveitaria dessa situação para decretar estado de sítio ou outras medidas de caráter autoritário, que representariam o “endurecimento” do regime.
Carmen Foro aposta na luta coletiva para derrubar o governo. “Todos queremos ver a chapa de Bolsonaro cassada, com pressão na Justiça, no Congresso e nas redes. E que o povo decida o próximo presidente.” Ela destacou que o vídeo do presidente com seus ministros divulgado na semana passada demonstrou uma “reunião de horrores“. “Não é possível achar que alguém desse governo sirva para qualquer coisa. Eles não, porque esse governo não serve mais para a classe trabalhadora e para a sociedade brasileira.”
Segundo Montalvão, não há contradição entre a necessidade de priorizar a defesa da vida e, ao mesmo tempo, fazer a luta política pelo Fora Bolsonaro. “Como temos um governo que contribui para que a crise sanitária seja ainda pior, é necessário que ele seja retirado do caminho.”
Ele defendeu a aproximação dos setores populares com artistas e influenciadores digitais para amplificar a capacidade de diálogo com o conjunto da sociedade. Para o presidente da UNE, a divulgação do vídeo da reunião ministerial teve repercussão majoritariamente negativa nas redes sociais. Contudo, os bolsonaristas foram mais bem-sucedidos em propagar as palavras de ordem em defesa do presidente acuado. A saída é unificar o discurso.