CUT Nacional
Marize Muniz
Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) revela que o Brasil tem 33,9 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que significa que 16,2% da população do país estão no grupo de risco de contrair a Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
Do total de idosos brasileiros, quase 8 milhões trabalham em locais onde ficam mais expostos a riscos do que os mais jovens e 24,9% contribuem com 50% ou mais de sua renda nas despesas da família.
Esse contingente de brasileiros é ignorado pelo presidente Jair Bolsonaro que defende que apenas os mais velhos fiquem em quarentena, sem levar em conta qualquer estudo sobre as necessidades ou como vivem as pessoas com 60 anos ou mais e suas famílias no país.
Para Bolsonaro, o isolamento social, única maneira de conter a disseminação da doença, que atinge de forma mais grave principalmente os idosos, nunca deveria ter sido adotado por governadores de estados mais atingidos pela doença, apesar das recomendações de cientistas e da Organização Mundial da Saúde (OMS), porque isso prejudica a economia.
Foi isso que levou o Dieese a fazer um estudo para mostrar que o fim da quarentena tem de levar em consideração a ciência e também a realidade do país que tem milhões de idosos ainda trabalhando e ajudando a família com parte dos seus recursos.
“Uma reflexão geral sobre esse estudo nos mostra que a sociedade tem o dever de proteger os idosos, principalmente nesse momento de pandemia”, diz a economista Patrícia Pelatieri, diretora técnica adjunta do Dieese, ao analisar o resultado.
A pesquisa do Dieese mostra, por exemplo, que do total de brasileiros com 60 anos ou mais, 22,9% trabalham, 83,2% moram com alguma pessoa e 21,9% moram com um parente que ainda frequenta a escola, o que indica que a obsessão de Bolsonaro pela volta ao trabalho, com poucas restrições, é um risco tanto para os idosos quanto para seus familiares.
“Qualquer medida relacionada a mudanças nas restrições às atividades econômicas tem que levar em conta que 7,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais estão trabalhando e uma parte atua em locais mais expostos do que os com menos de 60 anos”, afirma Patrícia Pelatieri.
“Enquanto, o percentual de trabalhadores de 60 anos ou mais trabalhando em locais expostos chega a 7,9%, o de trabalhadores com menos de 60 anos é de 6,2%”.
A economista ressalta, ainda, o fato do total de idosos que vive com outras pessoas, portanto, mesmo que não trabalhem podem ser contaminadas pelos familiares que sairão para trabalhar. De acordo com Patrícia, somente 8,16% dos idosos vivem sozinhos no Brasil.
A participação da renda dos idosos no orçamento familiar é outro dado da pesquisa que chama a atenção porque mostra a importância das pessoas desta faixa etária na vida de milhares de brasileiros. Do total de pessoas com 60 anos ou mais no país, 24,9% contribuem com 50% ou mais da renda com os gastos da família, segundo o levantamento do Dieese.
A pesquisa revela também a desigualdade social entre as regiões Sul e Sudeste e as regiões Norte e Nordeste. Nas duas primeiras regiões, a população tem mais acesso a saneamento básico, leitos hospitalares, tanto de enfermarias quanto de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), respiradouros e médicos, como mostrou pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, portanto, vive mais e melhor.
“Não há dúvida que as condições de vida determinam a longevidade. Então, não é de se estranhar que o Sul e o Sudeste tenham um número maior de idosos porque têm uma maior cobertura principalmente de saneamento básico e saúde e isso se reflete inclusive na longevidade”, afirma Patrícia.
O maior contingente de idosos, 7,8 milhões vive em São Paulo, estado mais afetado pela Covid-19, que já registrou 40 mil casos confirmados de coronavírus e 3.206 mortes, mas também o estado com mais leitos, equipamento, médicos e condições de vida. Em SP, 25,8% das pessoas com 60 anos ou mais trabalham, 82,8% não moram sozinhos, 17,6% moram com uma pessoa que ainda estuda e 24,7% contribuem com 50% ou mais da renda para pagar as despesas da família.
O Rio de Janeiro, segundo estado com mais casos confirmados de Covid-19, tem 3,6 milhões de idosos, sendo que 22,1% deles ainda trabalham. O Ceará, terceiro estado com mais casos, 1,4 milhão de pessoas com 60 anos ou mais - 21,3% delas ainda trabalhando -, tem menos leitos e médicos.
O Amazonas, onde a saúde pública entrou em colapso por não ter equipamentos nem profissionais de saúde para atender tantos doentes, o total de idosos é menor, 384 mil, mas o percentual dos que ainda trabalham é maior, 29,1%. E o Pará, que decretou lockdow para tentar reduzir a disseminação da doença, tem 1 milhão de idosos e 26% deles trabalham.
“O sofrimento das pessoas com 60 anos ou mais é muito maior neste momento em que a possibilidade de envelhecer e ter mais tempo de vida é uma enorme conquista da humanidade e nós precisamos que essa conquista seja vivida com respeito com amor e com dignidade”, conclui a diretora técnica-adjunta do Dieese.
Confira aqui a íntegra do estudo do Dieese.