* Por Alex Solnik
A barbeiragem de hoje do juiz Sérgio Moro ultrapassou qualquer limite da imaginação.
Nunca antes um juiz cometeu um ato tão irresponsável: mandou prender um ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma expondo-o a um vexame nacional e internacional e logo em seguida anulou a medida por razões humanitárias.
Ou seja: se ele não tivesse sido preso no hospital onde sua mulher, acometida de câncer estava prestes a ser submetida a uma cirurgia ele não teria sido solto?
Afinal, havia algum motivo consistente a justificar sua prisão, ainda que por cinco horas?
Segundo Moro, ele deveria ser preso temporariamente porque Eike Batista havia delatado seu pedido de 5 milhões de reais para quitar dívidas de campanha do PT, em novembro de 2012, sem apresentar uma prova sequer de que esse pedido realmente aconteceu.
E disse que não cabe a ministro de estado pedir contribuições ao seu partido.
Moro tem toda a razão. No entanto, a 15 de agosto último o então presidente interino Michel Temer reconheceu ter feito exatamente a mesma coisa que Moro condena agora: pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht na sede do governo, o Palácio do Jaburu:
"Eu não tenho medo dessas coisas. Eu já confirmei que jantei com Marcelo Odebrecht, no Jaburu, em 2014. Como é natural, o partido me pressionava para obter recursos para os seus candidatos. A Odebrecht contribuiu? Claro que sim. Eu era presidente do partido e ele acertou uma contribuição. Até se falou em R$ 10 milhões, mas na verdade foram R$ 11,3 milhões que ele entregou ao partido — tem a prestação de contas para todos os candidatos a governador...Eu não sei se ele falou. A coisa vai para a imprensa e você não sabe se é fruto da delação, se é fruto do advogado. Você não sabe de onde veio. Então, o que eu faço? Eu não vou negar que ele esteve comigo, como tantos outros empresários estiveram comigo. Ainda hoje, quando não há a menor possibilidade de pessoa jurídica eles vêm me perguntar como vão colaborar. Quando havia a possibilidade das doações, era uma enxurrada de gente pedindo para colaborar."
Mantega é acusado de pedir 5 milhões enquanto ministro de estado. Sem provas se de fato pediu e se de fato pediu dinheiro limpo ou sujo, apenas a palavra de um empresário falastrão e falido. E ele nega.
E por esse motivo Moro o prende.
Temer admite ter pedido 10 milhões enquanto vice-presidente da República dentro do palácio do Jaburu ao empresário Marcelo Odebrecht. O dobro do que Mantega teria pedido.
E por esse motivo Moro não o prende.
Não importa que Mantega tenha sido solto cinco horas depois.
A fim de ser restabelecida a Justiça, Temer teria que ser preso também por cinco horas e então libertado.
Por favor, Moro, prenda Temer.
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016).