Escrito por: Érica Aragão e Luiz Carvalho - CUT
Nessa quinta (31), dia em que o grito de “não vai ter golpe” soou em 16 países, mais de 200 mil pessoas ocuparam Brasília para defender a democracia. A mesma Brasília de onde a ditadura disparava o primeiro tiro contra a democracia para instaurar a ditadura militar há 52 anos.
A resposta dos movimentos sociais não poderia ser mais contundente. Nas ruas da capital federal, representantes de todas as etnias, regiões do país, gênero, classe social, eleitores ou não da presidenta Dilma Rousseff, mas todos com um ponto em comum: o desejo de defender o Estado de Direito.
No ato final, diante do Congresso, lideranças dos movimentos que encampam a luta pela democracia deixaram o recado: não irão aceitar o chapéu que os perdedores do último pleito pretendem aplicar e, para isso, vão conversar abertamente com o povo, falou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.
“Nós conseguiremos barrar o golpe nas ruas, mas fundamentalmente no Congresso Nacional. Temos que pressionar cada deputado e deputada deste país dizendo que quem votar pelo impeachment é golpista. E vamos mostrar a cara deles nos postes do país e em todas as redes sociais”.
Vagner também deixou um recado ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e alertou que nenhum articulador do golpe terá vida fácil.
“Pro Temer, que fique claro, nós não o reconhecemos presidente, Temer não foi eleito pelo povo e pra nós este golpista não comandará o país”.
Impeachment envergonhado – O dirigente destacou ainda que o impechment é um atalho curto para levar ao poder quem quer tirar direitos trabalhistas e instaurar um regime sem contestações de movimentos organizados. “Querem instaurar a ditadura do Capital, da toga e da mídia.”
Também em relação à velha mídia, Vagner disse que a mesma fumaça usada para enganar a população é utilizada como pilar de sustentação do golpe.
“A Globo quer provar que não é golpe, que é impeachment e está na Constituição. Assim como diziam que em 1964 não era golpe, era revolução. Vamos deixar bem claro, em alto e bom som, era golpe e em 2016 não vai ter golpe!.Não há nenhum motivo para a presidenta ser impedida de governar, se não houver crime de responsabilidade impeachment é golpe!”, reforçou.
Olhar para as bases
Um dos coordenadores do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Paulo Rodrigues apontou que há três grandes desafios a médio e longo prazo para os movimentos sociais: derrotar o impeachment, construir um pensamento de maioria na sociedade brasileira contra os fascistas, a partir de ideias progressistas, e levar o governo Dilma para o lugar correto.
“Assim que passar o impeachment, vamos trazer o governo Dilma para a esquerda, cobrar para que faça mudanças na política econômica, para melhorar as condições de vida do nosso povo e que seja um governo, de fato, representante dos sentimentos da maioria dos brasileiros.”
Na mesma linha, o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, ressaltou que é importante a presidenta olhar para quem está ao seu lado e a quem deve priorizar.
“Aqui não tem empresário, não estou vendo banqueiro, nem a elite desse país. O povo que está aqui é o que quer avanço nos direitos sociais, e é para quem a presidenta precisa olhar no momento de governar. Esse povo não quer ajuste fiscal, reforma da Previdência e políticas antipopulares. Quem precisa pagar a conta são os do andar de cima, os sonegadores, com a taxação de grandes fortunas”, defendeu.
Boulos também fez críticas à ação da Polícia Militar, acusada de criar dificuldades para quem tentava chegar ao local do ato e de ser um braço armado do golpe. O líder do MTST aproveitou, nesse momento, para ampliar o alerta sobre a forma como o sentimento de rancor podem transformar o país num barril de pólvora.
“A PM trata a pão de ló quem vem se manifestar pelo impeachment, libera metrô, tira selfie e hoje barrou dezenas de ônibus que vinham para cá. Estão jogando com a intolerância, estão brincando com fogo. Este jogo de intolerância, de também agredir quem está vestido de vermelho, covardemente, porque aqui não vem. Querem incendiar o país. Parem enquanto é tempo.”
Reação aos acertos
Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Adilson Araújo, defendeu que a intolerância ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidenta Dilma não vem de seus erros, mas dos acertos.
“Nós conseguimos conquistar mudanças estratégicas no nosso país e isso causou um impacto extraordinário. Foi a partir da eleição de um retirante nordestino, de um operário de chão de fábrica que a gente viu este país crescer. O Brasil de hoje não é o mesmo daquele Brasil no qual estava subordinado ao capital internacional. Por isso, tentam a todo custo enganar a população, mas a verdade é que anteciparam a batalha de 2018 porque sabiam que Lula iria voltar.”
Ao lembrar da luta da UNE (União Nacional dos Estudantes) contra a ditadura militar, a presidenta da organização, Carina Vitral, também ressaltou a responsabilidade em estar na trincheira de lutar pela permanência dos investimentos feitos na educação nos últimos anos.
“O que está em jogo é o nosso futuro. Nós sabemos muito bem tudo o que conquistamos , Fies, Prouni, foi com muita luta e resistência e tudo isso está em risco. Nós não vamos colocar nosso futuro em risco. É só na democracia que a gente avança.”