por Redação RBA
São Paulo – A Operação Lava Jato interceptou uma ligação telefônica entre a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A constatação está em documento anexado em um dos procedimentos que tramitam na 13ª Vara Federal em Curitiba, comandada pelo juiz Sérgio Moro.
A divulgação foi feita após despacho de Moro, que decidiu retirar o sigilo do processo. As justificativas ainda não foram divulgadas pela Justiça Federal no Paraná. Iniciada há dois anos, a Lava Jato já teve vários pedidos de quebra de sigilo negadas, sob o argumento do comando da operação de que esta seria prejudicada.
Após a confirmação da nomeação de Lula, Moro divulgou áudio e textos da interceptação telefônica.
Eis o diálogo registrado nesta quarta-feira:
– Dilma: Alô
– Lula: Alô
– Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.
– Lula: Fala, querida. Ahn
– Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!
– Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.
– Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
– Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
– Dilma: Tá?!
– Lula: Tá bom.
– Dilma: Tchau.
– Lula: Tchau, querida.
O juiz do Paraná afirmou que não há nenhum indício nas conversas, ou fora delas, de que as pessoas citadas tentaram, de fato, agir "de forma inapropriada".
Apoiadores do governo viram no gesto de Moro uma tentativa de insuflar o clima de tensão no país, que o governo tenta reverter com a presença da liderança de Lula no governo. Atribuem ainda ao gesto do magistrado uma evidência de que seu objetivo maior seria a prisão de Lula. "Na falta de evidências jurídicas, a estratégia da operação é a politização do caso por meio da imprensa e a promoção do linchamento público", disse um parlamentar.
Advogado de defesa do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin Martins repudiou a exposição de uma conversa entre a presidente da República e um ex-presidente que não tem nenhuma acusação formulada contra ele. Disse que o gesto, ao expor uma gravação referente a um processo que não é mais de sua alçada, revela um "objetivo político" de consequências incalculáveis para o país. "O que ocorreu hoje foi uma arbitrariedade muito grande e está estimulando uma convulsão social."
Deputados e senadores da oposição convocam manifestantes desde o início da tarde para “ocupar” o Palácio do Planalto. Ativistas pró-governo se dirigiram ao local e o clima é tenso.
Os grampos também atingiram, direta ou indiretamente, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como o presidente Ricardo Lewandowski, a ministra Rosa Weber e também o novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão.
Moro comentou o despacho de Rosa Weber sobre o pedido da defesa de Lula, que apontava conflito de competências sobre as investigações relacionadas ao "triplex do Guarujá", caso que, em tese, deveria ser investigado em São Paulo. "A eminente Magistrada, além de conhecida por sua extrema honradez e retidão, denegou os pleitos da Defesa do ex-Presidente", afirmou Moro.
Lewandowski também é citado. "Há diálogo que sugere tentativa de se obter alguma intervenção do Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski contra imaginária prisão do ex-Presidente, mas sequer o interlocutor logrou obter do referido Magistrado qualquer acesso nesse sentido", afirmou Moro.
Ele também comenta a percepção de Lula sobre o novo ministro da Justiça. "Parece nosso amigo", disse Lula. Todo o material recolhido por Moro será enviado ao STF, uma vez que, como ministro, o ex-presidente passa a ter foro privilegiado.