por Redação RBA
São Paulo – No final da noite da última sexta-feira (4), ao discursar na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que, no governo, é a economia que tem de estar subordinada à política, e não o contrário. Também tornou a dizer que não adianta fazer ações apenas com o objetivo de agradar o mercado financeiro. Fatos ocorridos nos últimos dias demonstram que o poder econômico, definitivamente, decidiu entrar em cena para influir no processo político, o que inclui derrubar a presidenta eleita em 2014, Dilma Rousseff.
Hoje mesmo, o jornal Valor Econômico já escancarou em sua manchete: "Mercado já opera com mudança de governo". Ou com o vice, Michel Temer, ou com um presidente escolhido em nova eleição. "Isso possibilitaria a inauguração de uma política econômica centrada no enfrentamento da crise fiscal, porém, com ganhos de credibilidade que permitissem antecipar os benefícios. Nesse caso, seria factível a interrupção do aprofundamento da recessão e a criação de condições para a retomada do crescimento pela expansão do investimento", diz o Valor.
"O comportamento dos mercados reforça essa expectativa", acrescenta o periódico, acrescentando que uma possível mudança de governo está "animando" a Bolsa e valorizado o real. Na semana passada, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, teve valorização de 18%, a maior alta semanal desde outubro de 2008. E o dólar recuou quase 6%.
Na manhã de hoje, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, reuniu-se com diversas entidades, entre as quais o Movimento Brasil Livre e o Vem pra Rua, assumidamente a favor do impeachment. Para Skaf, tirar Dilma da Presidência da República é mais urgente que tirar Eduardo Cunha do comando da Câmara dos Deputados. Ele confirmou presença no ato anti-Dilma marcado para o próximo domingo (13) na Avenida Paulista.
A aposta do mercado, sempre personificado, é evidenciada em um relatório divulgado pela Nova Futura Corretora, para a qual a sexta-feira teve o "pregão mais otimista dos últimos tempos", não só no Brasil. "A forte alta da confiança dos mercados impulsionou os preços dos ativos brasileiros, que estavam muito deprimidos desde que os agentes de mercado se desanimaram com a tese de impeachment. E vale lembrar: o mercado vê na saída de Dilma um forte potencial de resolução da crise econômica", afirma a corretora, explicando motivos para a volta do entusiasmo: "A delação de Delcídio (referência à delação não confirmada pelo próprio autor, senador Delcídio do Amaral) e a 'condução coercitiva' de Lula jogaram muito ânimo em apostas que estavam à míngua".
A corretora vê exagero em todo esse otimismo, já que os fundamentos econômicos continuam ruim. Mas constata que, no mercado interno, as ações passaram a subir devido à possibilidade de "virada de jogo" na política.
Não é só no Brasil que isso vem acontecendo. "O mais estranho nesses últimos dias de delações vazadas e a nova fase da Operação Lava Jato foi a gigantesca alta das ações da Petrobras no mercado americano: 30% em dois dias", diz o Jornal do Brasil. "Isso representa um ganho absurdo do mercado financeiro, que pode estar por trás dessa especulação toda sobre impeachment, sobre a queda de Dilma e a prisão de Lula."
No Brasil, as ações preferenciais da Petrobras, negociadas na Bolsa paulista, subiram mais de 2% hoje. Em uma semana, a alta foi superior a 50%.
Ao UOL, na sexta-feira, um analista foi mais do que explícito ao comentar o otimismo dos agentes com os acontecimentos políticos: "O mercado reage assim à medida que aumenta a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Desde a época da eleição o mercado torce pela troca de governo", disse Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos.
Essa é a turma da desregulamentação, da flexibilização das leis trabalhistas, da terceirização sem freio.