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17 de Novembro de 2015 às 09:04

Marcha das Mulheres Negras nesta quarta (18) denuncia abismo social


Crédito: Divulgação

O racismo e o sexismo podem ser considerados como eixos basilares para a perpetuação da desigualdade social no Brasil, já que são condições que refletem diretamente na distribuição de recursos. As mulheres negras vivenciam estas duas experiências, criadas a partir da perspectiva da dominação representada pelo homem branco, heterossexual, com alto poder aquisitivo.

Pesquisas dos principais institutos brasileiros comprovam a afirmativa em números. E é contra essa conjuntura que mulheres de todo o Brasil realizarão nesta quarta-feira (18), em Brasília, a Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e o Bem Viver. A concentração para o ato será no Ginásio Nilson Nelson, às 9h, com caminhada até o Congresso Nacional.

A marcha, que acontece no mês da Consciência Negra, tem como objetivos a repercussão da luta contra a opressão secular da mulher negra brasileira e a cobrança de que o Estado e todos os setores da sociedade tenham respeito e compromisso com a promoção da equidade racial e de gênero.

A marcha é precedida por outras atividades. As milhares de manifestantes ocupam o Ginásio Nilson Nelson desde o dia 16. No espaço, são realizadas várias oficinas e vários debates com a abordagem de temas como violência, saúde, racismo e etc, todos analisados sob a ótica de raça e gênero.

Veja a programação completa.

A primeira Marcha das Mulheres Negras foi realizada em 2011, durante o Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodecendentes.

DF no ranking dos que mais matam mulheres negras

As mulheres negras representam 25% da população brasileira. Isso significa que 49 milhões pessoas estão sujeitas, diariamente, aos ataques racistas e sexistas, e se tornam alvo vivo da desigualdade social.

Elas são as principais atingidas com a violência de gênero. O Mapa da Violência 2015 traça o perfil preferencial das mulheres vítimas de homicídio. Segundo o estudo, de 2003 a 2013, observou-se que as taxas de homicídio das mulheres brancas caiu de 3,6 para 3,2 por 100 mil, queda de 11,9%; enquanto as taxas entre as mulheres e meninas negras cresceram de 4,5 para 5,4 por 100 mil, aumento de 19,5%. Com isso, a vitimização de negras, que era de 22,9% em 2003, cresce para 66,7% em 2013. Isto significa que:

– Em 2013 morrem assassinadas, proporcionalmente ao tamanho das respectivas populações, 66,7% mais meninas e mulheres negras do que brancas.

– Houve, nessa década, um aumento de 190,9% na vitimização de negras.

– Alguns estados chegam a limites absurdos de vitimização de mulheres negras, como Amapá, Paraíba, Pernambuco e Distrito Federal, em que os índices passam de 300%.

Há ainda a violência doméstica. No Brasil 2,4 milhões de mulheres são agredidas anualmente, segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE. As mulheres negras representam 60% desse grupo.

Além de ser a principal vítima da violência, a mulher negra também está no topo das listas que apontam a pobreza, o analfabetismo, os mais atingidos pelo racismo institucional, os que têm mais dificuldade de acessar a saúde e outros serviços públicos.

De acordo com a professora de ciências sociais da Universidade Federal de Londrina, Maria Nilza da Silva, a realidade racista do Brasil induz a um ciclo de prejuízos. “O ingresso no mercado de trabalho do negro ainda criança e a submissão a salários baixíssimos reforçam o estigma da inferioridade em que muitos negros vivem”, afirma a docente em estudo sobre a mulher negra.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, 49,6% dos negros e pardos trabalham informalmente enquanto os brancos representam 36%. As mulheres negras, por sua vez, sofrem com as oportunidades desiguais e dificilmente chegam a cargos de chefia e de destaque nas empresas. Além disso, as mulheres continuam ganhando em torno de 30% a menos que os homens, e essa diferença aumenta ainda mais quando se diz respeito ao salário das mulheres negras.

Coadjuvantes no mundo sindical

Apesar de serem as mais prejudicadas no mundo do trabalho, com inclusão precoce e precarizada nos setores de atuação profissional, as mulheres negras ainda são coadjuvantes nas direções sindicais.

“As mulheres, principalmente as negras, são oprimidas fora do mundo sindical. E isso acaba refletindo na participação delas nessas organizações e, consequentemente, refletindo também na ocupação de cargos estratégicos nas direções sindicais. Mas é importante observar também que o machismo é uma realidade nos sindicatos. Por isso, se é difícil para uma mulher driblar a barreira do preconceito e ser uma líder sindical, diga lá para uma mulher negra”, avalia a secretária de Mulheres da CUT Brasília, Izaura Oliveira Santos.

Antônia Ferreira, mulher negra que ocupa a Secretaria de Administração e Organização do Sindprev-DF – sindicato que representa os servidores federais da Saúde, Trabalho e Previdência Social no Distrito Federal –, fala das dificuldades para chegar a ser dirigente sindical.  “Para eu chegar onde eu cheguei não foi fácil. Dentro da própria categoria, às vezes, eu me sentia com medo de ser discriminada, já que havia outras diretoras brancas. E a gente acaba se sentindo menor, por que o mundo cria a gente assim. Mas eu não deixei me abalar”, desabafa.

Há menos de um ano, Antônia foi alvo de injúria racial. Ela conta que o agressor foi um filiado, que se alterou e cometeu o crime durante uma discussão sobre as dependências do Sindprev. “Ele (agressor) me chamou de macaca, de tudo. Eu fiquei muito abalada. Quando eu virei as costas, a filha dele me agrediu fisicamente. Isso me deixou muito triste”, conta a sindicalista, e continua: “A gente às vezes pensa até em desistir. Mas não vou desistir agora”, fala demonstrando resistência.

Nilza Cristina dos Santos, secretária de Formação da CUT Brasília e do Sindicato dos Professores, avalia que a destinação do espaço para mulheres no mundo sindical, proporcional ao dos homens, é importante, mas não é suficiente.

“Por muitos anos a paridade entre homens e mulheres na direção sindical foi negada. De fato, ela só passou a valer para a CUT Nacional e as estaduais no último Congresso da Central, realizado em outubro deste ano, e foi uma vitória histórica. Entretanto, eu não acredito apenas na ocupação do espaço, mas sim no empoderamento das mulheres para que este espaço seja ocupado. As mulheres precisam estar preparadas para que tenham condições de dar andamento às políticas necessárias. Não podemos deixar, por exemplo, que mulheres machistas ocupem os espaços de poder, seja no sindicato ou em outros locais. Para isso, é preciso formá-las”, afirma a dirigente CUTista.

A CUT, maior central sindical da América Latina e do Brasil, foi a primeira do setor a adotar o sistema de paridade para composição da direção da entidade. O desafio agora é garantir que esses espaços sejam, segundo Nilza dos Santos, legitimados e assegurando a equidade de raça.

Fonte: CUT Brasília


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