por Hylda Cavalcanti, da RBA
Brasília – Na reunião da comissão especial do impeachment hoje (3), parlamentares que apoiam a presidenta Dilma Rousseff disseram que ela foi vítima de atos de misoginia, de golpe por parte de políticos que tentam chegar ao poder sem passar pelas urnas e da traição de pessoas “que até os últimos dias atuavam como ministros do governo do PT e beijavam a mão dela”. A sessão dura mais de três horas e não tem hora para acabar. Já houve bate-boca em meio a gritos, ameaça de suspensão dos trabalhos e vários pedidos de calma por parte do presidente, senador Raimundo Lira (PMDB-PB).
José Medeiros (PSD-MT), um dos mais enfáticos do dia na defesa do relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG), declarou que ali “cada um defende o seu lado” – o que, para ele, explica as críticas dos parlamentares contrários ao afastamento da presidenta. “Não podemos deixar de admitir que isto aqui é uma luta pelo poder”, disse.
Medeiros afirmou que ao longo dos trabalhos da comissão houve momentos de temperatura alta, mas ele acredita que, mesmo assim, o Senado saiu forte e desempenhou um bom papel na apreciação da matéria. Na opinião do parlamentar, as acusações de que o processo de impeachment tem caráter golpista são “vazias”.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) afirmou que não poderia deixar de dizer que o relatório é totalmente equivocado. “Como é possível alguém dizer que a presidenta cometeu crime, se não há provas? Perdão, senador, mas decretos de verbas suplementares semelhantes aos que o senhor se refere no seu texto que foram assinados da mesma forma pelo usurpador Michel Temer, embora não exista nada contra ele”, ironizou.
Vanessa ainda disse que o resultado do processo pode consistir na transformação do Congresso “num colégio eleitoral de exceção”.
Fátima Bezerra (PT-RN) ateve-se a uma das primeiras frases do relatório de Anastasia, no trecho em que o documento afirma que a presidenta Dilma Rousseff violou a Constituição. Segundo ela, a verdadeira afronta à Constituição “é tirar dos brasileiros um dos seus pontos mais importantes, que é o direito de escolha dos governantes por sufrágio”.
De acordo com a senadora, o processo de impeachment é uma tentativa de golpear projetos como o Mais Médicos e programas sociais dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma que ajudaram a reduzir a desigualdade no país. Ela também acusou o grupo que integra o governo provisório de querer abrir o Brasil ao capital estrangeiro, “principalmente na questão da flexibilização do pré-sal”.
“Apesar desse consórcio criminoso continuaremos resistindo bravamente, porque o golpe significa desprezo pela democracia. Acho lamentável quererem governar o país sem conquistar o voto dos brasileiros”, afirmou Fátima, para quem o relatório é uma “farsa”.
Anastasia ainda não se pronunciou sobre o discurso da senadora, tido como um dos mais duros em relação ao seu texto, mas o presidente da comissão, Raimundo Lira, pediu de imediato que a palavra "farsa" seja tirada das atas taquigráficas da sessão.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse – apesar das reclamações de que as mulheres estão apelando, ao abordar questões como sexismo e misoginia contra a presidenta no trâmite do processo – acreditar que houve claro ataque a Dilma também por ser mulher. E ponderou que dificilmente a situação seria observada da mesma forma, "se quem estivesse sendo julgado fosse um presidente do gênero masculino". Gleisi lembrou declarações da presidente da ONU Mulheres, Nadine Gasman, nesse sentido, feitas em março.
Lúcia Vânia (PSB-GO) elogiou o relatório, afirmando que o texto elaborado por Anastasia “pormenoriza e detalha dados apresentados ao longo da tramitação do processo”, além de refutar os argumentos da defesa e registrar o que ela chamou de “irregularidades cometidas pela presidenta Dilma Rousseff”.
Dois momentos em especial provocaram cenas de nervosismo, durante a segunda fase dos trabalhos. Um deles foi quando Regina Sousa (PT-PI) lembrou que vários senadores presentes, até poucos dias antes da votação do impeachment pela Câmara, participavam do governo Dilma e viviam no Palácio do Planalto “beijando a mão da presidenta”.
“Hoje sabemos que eram beijos de Judas e é interessante ver essas pessoas, que participaram praticamente de todo o governo, agora mudarem tanto de opinião”, destacou Regina.
O outro momento foi protagonizado por bate-boca entre João Medeiros e Kátia Abreu (PMDB-TO). Kátia fez críticas ao senador por ter pedido ontem que ela não participe da votação, pelo fato de ter sido ministra da Agricultura do governo Dilma e deposto como uma das testemunhas de defesa no processo.
A senadora resolveu contestá-lo de modo contundente e ele respondeu: “Aqui tem um homem. A senhora não pense que vai me ganhar no grito porque não vai conseguir”. “O senhor pode ser homem, mas não é dois para me barrar”, rebateu Kátia.