Escrito por: Leonardo Severo - CUT
“Incomodados com as conquistas que os trabalhadores tiveram nos últimos anos, nossos adversários buscam o retrocesso. Não foram poucas as coisas que o movimento sindical e social conseguiu neste país. E isso a elite não se conforma”, afirmou o ex-presidente Lula, nesta terça-feira à tarde, durante reunião com 210 delegados internacionais, de mais de 70 países, presentes ao Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (ConCUT). O evento acontece até sexta-feira no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo.
Para Lula, o protagonismo dado a pessoas que sempre foram tratadas como “párias”, gente pobre que era reduzida a mera “estatística”, é um fator determinante para turbinar o preconceito. “Abrimos espaço para a participação na elaboração e na decisão das políticas públicas. Foram 74 conferências nacionais para discutir sobre Lgbt, portadores de hanseníase, negro, índio, convocando a sociedade para ajudar a discutir as políticas que o governo ia colocar em prática. Provamos que é possível crescer distribuindo renda concomitantemente, que é possível fortalecer o mercado interno e ampliar o externo, valorizar os salários sem causar inflação”, sublinhou.
Ressaltando o papel da educação, o ex-presidente lembrou: “no meu governo e no de Dilma tivemos mais gente humilde indo pras universidades: foram construídas 18 universidades federais, 73 extensões universitárias no interior, 455 escolas técnicas, contra 140 ao longo de todo um século”.
Na avaliação de Lula, o ódio de classe fica à flor da pele quando uma pequena elite reacionária vê os que “nasceram para ser nada” virarem alguma coisa a partir de brechas de ascensão social possibilitadas, por exemplo, com a política de cotas. Daí, segundo ele, a origem do “preconceito contra um homem pobre, nordestino, que é ainda maior agora contra Dilma”.
Enfatizando o papel do mercado interno e da luta contra o catastrofismo criado pelos meios de comunicação, o ex-presidente lembrou que foi para a televisão no dia 22 de dezembro de 2009 enfrentar a campanha de desinformação midiática. “A imprensa mundial dizia que os trabalhadores iam perder emprego, pois o comércio e a indústria iam quebrar. E eu disse: isso vai acontecer se vocês não forem às compras, comprem como responsabilidade. E a economia se aqueceu”, ressaltou, resgatando a importância do enfrentamento à “marolinha”.
Diferente disso, assinalou, é o desvio de dinheiro público do Orçamento para banqueiros e especuladores que os donos do mundo querem impor como mantra neoliberal, reduzindo o Estado a ser um mero apêndice dos seus negócios. “Para tentar salvar o sistema financeiro foram injetados mais de 10 trilhões de dólares. Enquanto isso, temos milhões de pessoas pobres do Norte da África tentando encontrar um lugar para sobreviver”, condenou o ex-líder metalúrgico, frisando que na concentração de renda e no vertiginoso crescimento da desigualdade é onde se encontra a raiz do problema dos refugiados.
De acordo com Lula, nunca foi tão importante a participação consciente da classe trabalhadora, pois “a política foi terceirizada”. “A verdade é que o povo elegeu para tomar decisão, não para dar procuração. O problema é mais político, já vivemos crises muito maiores que esta”, sublinhou o ex-presidente, recordando a vitória sobre a Alca, que já completará 10 anos.
Conforme Lula, é preciso abrir os horizontes e trocar a palavra corte por investimento, focando no desenvolvimento, para ampliar a geração de emprego e renda. Afinal, reiterou, “todos os países que fizeram ajustes” só o que conseguiram fazer foi cavar mais fundo no poço da recessão, deteriorando as condições de trabalho e de vida.
Compuseram a mesa ao lado de Lula o presidente da CUT, Vagner Freitas; o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa; o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felicio; a secretária-geral da CSI, Sharan Burrow e o secretário-geral da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas, Victor Báez.