CUT Nacional
André Accarini
Entregadores de aplicativos de todo o Brasil estão organizando uma nova paralisação de 24 horas no dia 25 de julho, próximo sábado, e prometem que greve será maior do que a do dia 1°. Eles reivindicam melhores condições de trabalho, segurança e um valor maior e mais justo pelas entregas.
A mobilização do próximo sábado é uma resposta ao silêncio das operadoras, como Rappi, Ifood, Loggi, Uber Eats e demais, que não negociaram até agora nenhuma das reivindicações, explica um dos organizadores do “breque dos App”, Diógenes Silva de Souza. Segundo ele, as empresas se limitaram a comunicar, por meio à imprensa, que estão garantindo equipamentos de segurança.
“Soltaram nota na imprensa dizendo que fornecem álcool em gel e máscaras e que ajudam o motoboy, mas não é o que vemos na rua”, afirma Diógenes.
Ele reforça que o aumento do valor por quilômetro rodado, o fim dos bloqueios indevidos e sem direito a defesa do trabalhador, o fim do sistema por pontuação e ranking, que obriga o motoboy a trabalhar nos horários que os aplicativos querem, nem foi citado, negociado ou, ao menos, colocado em pauta para ser negociado com a categoria.
Enquanto não houver nenhuma resposta às nossas reivindicações, seguiremos com as paralisações- Diogenes Silva
O breque dos apps
A mobilização do próximo sábado está sendo organizada em diversos estados no país como forma de sensibilizar as plataformas para as condições precarizadas de trabalho dos motoboys em todo o Brasil.
Diógenes diz que a paralisação do próximo sábado terá uma “imagem” diferente da anterior. “No dia 1°, juntamos muitos motoboys, fizemos carreatas, conseguimos chamar a atenção na mídia e da população. Essa segunda manifestação, talvez, para a mídia e para o público, pareça diferente, pareça menor”.
Isso porque, segundo Diógenes, o método da próxima paralisação será com parada dos trabalhadores nos pontos de coleta, como os restaurantes, shoppings e outros estabelecimentos conveniados aos aplicativos e, assim, bloquear efetivamente a retirada de pedidos dos lugares.
“A gente parava, mas fazia passeata e o pessoal voltava a fazer pedidos e isso fez com que os aplicativos não sentissem tanto. Agora, vamos evitar a coleta o dia inteiro. O visual não vai ser tanto, mas a paralisação será mais efetiva”, ele diz.
Acelera, Rubinho
Questionado sobre o dia-a-dia cansativo e estressante de um motoboy, Diógenes Silva contou sua própria experiência no trabalho mal pago e cansativo.
“Uma coisa que as pessoas não sabem é que a partir do momento em que eu aceito o pedido, tenho um tempo para entregar. Sou obrigado a chegar ao destino em um horário pré-determinado, e se não chegar, perco o pedido, não ganho e ainda fico uma hora parado. O App obriga o motoboy a correr”, ele relata se referindo aos riscos que a categoria corre no trabalho diário.
Frequentemente, ele diz, se o motoboy demora a entregar o pedido ele é punido, mesmo não tendo responsabilidade sobre o problema que causou a demora. “Se a restaurante demora para aprontar o pedido, o App culpa o motoboy. Tudo sobra para gente e não temos como nos defender”, critica o trabalhador.
Diógenes conta que um entregador foi bloqueado porque simplesmente pediu mais de uma vez informações para o próprio aplicativo sobre o caminho que deveria fazer para buscar a entrega.
Esse também é um dos motivos da mobilização, ou seja, mais respeito ao trabalhador, afirma Diógenes. “Eles querem que você faça o mais rápido possível, sem se preocupar com segurança e ainda pagando muito pouco pra gente”.
Mais exploração
As operadoras de aplicativos, em nome da modernização e da prestação de serviços, criaram novos sistemas de entrega, aumentaram o leque de opções aos clientes. Se por um lado, o cliente tem mais comodidade, por outro lado, o preço é pago pelos trabalhadores.
Ifood e Rappi já oferecem um serviço de entregas de compras, em que o cliente seleciona produtos que quer receber e quem faz a compra é o próprio motoboy, que perde ainda mais tempo tendo que fazer as compras, não recebe nada por isso e se houver um mínimo erro, como um produto diferente da lista, ele é que será punido.
“Eu tenho que fazer as compras e levar para o cliente. A gente assume responsabilidade maior. Se errar, eu sou punido”, ele diz, que complementa: “A gente gasta uma hora fazendo compras para ganhar 7 ou 8 reais pela entrega. É um absurdo”.
Reivindicações
Os trabalhadores e as trabalhadoras de aplicativos reivindicam o fim dos bloqueios injustos de entregadores, ou que tenha um canal de defesa, aumento na taxa mínima nacional de entrega com reajuste anual, seguro contra roubo e furto, de acidente e de vida, uma base de apoio para descanso e alimentação e o fim a pontuação e ranking do aplicativo, que obriga o trabalhador fazer a jornada que o aplicativo quer, o que, segundo eles, tira a autonomia da categoria.
Os trabalhadores têm tentado dialogar com representantes das empresas, mas sem sucesso.