por Helena Sthephanowitz, para a RBA
A Globo Comunicações e Participações divulgou seu balanço de 2015. A receita vinda dos anúncios despencou 6,1% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, o lucro líquido da empresa aumentou astronômicos 30%. Motivo? Operações no mercado financeiro, sobretudo com o dólar.
O fato coloca os responsáveis por vazamentos da Lava jato, no mínimo, em desconforto. Pois os vazamentos e pirotecnia da operação tem causado reboliço nas cotações do dólar e da Bolsa – e o Grupo Globo, que recebe vazamentos em primeira mão, lucrou muito com o dólar.
Vamos desenhar um cenário: uma empresa jornalística qualquer passa a ter acesso antes de todo mundo a vazamentos que afetam a cotação do dólar. Sabe antes de outros investidores que o dólar vai subir ou descer quando publicar tais vazamentos. Se essa informação sair da redação antes de ser publicada e for parar nas mãos de quem opera o dinheiro da empresa com dólar, estaremos diante do uso de informação privilegiada.
É ganhar dinheiro tão fácil como roubar o doce de criança.
Virou um bom negócio investir na cobertura na Lava jato e operar no mercado financeiro. Os lucros podem ser potencializados controlando-se o que publica ou não, o momento de soltar as notícias, o tamanho do sensacionalismo, sempre de olho no efeito sobre as cotações.
O vazamento de informações protegidas, se feito por funcionário público, já é por si só crime de violação de sigilo funcional. Se usado como troca de vantagens indevidas, outro crime se consuma. Se usado para obter lucros, ainda que por terceiros, através da manipulação do mercado ou uso de informações privilegiadas, a coisa ganha dimensões bem piores.
Voltando à Globo, a Lava Jato parece que virou um grande negócio da emissora. Não para aumentar a audiência e anunciantes – ambos estão em queda. Mas para obter lucros no mercado financeiro, sem precisar vender anúncios.
Sem investigação, de nada se pode acusar. Mas crimes de vazamento são fatos que ocorreram indiscutivelmente. Falta investigar e descobrir a autoria e motivação. E, como já dissemos em nota anterior, já passou da hora de investigar se está ocorrendo a prática criminosa de inside information, ou seja, informação sigilosa vazada clandestinamente, sabe-se lá por quem, para investidores saberem de antemão a hora de comprar e de vender dólar e ações, fazendo fortunas em poucas horas.
Curiosamente, em escala bem menor do que o lucro obtido com o dólar, a Lava Jato também ajuda a cortar custos nas empresas jornalísticas através de demissões. Fornece “gratuitamente” conteúdo. As pautas que deixaram de ser produzidas por jornalistas demitidos são preenchidas por textos jurídicos da Lava jato, sejam os divulgados por ofício, sejam os vazados clandestinamente. O trabalho dos procuradores, policiais e juízes – remunerado com dinheiro público – substitui a mão de obra para empresas jornalísticas a custo zero. Para os patrões. Bom para os empresários da mídia corporativa, ruim para os trabalhadores que perdem seus empregos. E, no mínimo, suspeito para o contribuinte, que acredita estar bancando uma estrutura republicana...
Para a TV Globo manter a mesma performance financeira de 2014, considerando a inflação medida pelo IGP-M, teria de ter uma receita líquida de R$ 13,14 bilhões em 2015. Teve de R$ 11,16 bilhões. Encolheu 15,1%.
Em termos nominais, mesmo sem considerar a inflação, a TV Globo perdeu R$ 730 milhões na receita líquida de um ano para o outro.
O Grupo Globo, que inclui as outras empresas, como a programadora de TV por assinatura Globosat, teria de ter a receita líquida de R$ 17,96 bilhões em 2015 para manter a performance do ano anterior. Teve R$ 16,04 bilhões. Encolheu 10,7%.
Sem considerar a inflação, o Grupo Globo perdeu R$ 204 milhões na receita líquida em 2015.
As demissões fizeram os custos operacionais caírem R$ 50 milhões, de R$ 7,11 bilhões em 2014 para R$ 7,06 bilhões.
Mesmo com o encolhimento na receita, o lucro líquido cresceu quase 30%, ajudado pelas aplicações financeiras em dólar e pelos juros mais altos.