por Redação RBA
São Paulo – Dezenas de movimentos sociais e reunidos nas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo realizam nesta sexta-feira (10) um dia nacional de mobilização em defesa dos direitos sociais e trabalhistas. Desde abril, quando a primeira fase do processo de impeachment passou na Câmara dos Deputados, liderado por Eduardo Cunha, centenas de atividades de protesto vêm acontecendo quase diariamente em todo o país e no exterior.
De acordo com levantamento feito pelo PT, teria sido realizados 420 eventos em mias de 90 cidades do Brasil e do exterior, muitos deles de forma espontânea, em defesa da democracia. As atividades externas envolvem brasileiros residentes fora do país e também estrangeiros recusando-se aceitar a legitimidade do governo em exercício.
Em São Paulo, a principal manifestação está marcada para as 17h no Vão Livre do Masp, na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro, também à tarde, haverá concentração na Candelária seguida de passeata até a Praça XV. Em Brasília, o ponto de encontro será no Museu da República, em Belo Horizonte na Avenida Liberdade e em Porto Alegre, na Esquina Democrática. Todos às 17h.
No ato de São Paulo, é esperada a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidenta Dilma Rousseff estará na cidade, mas ainda não está confirmada sua participação. Dilma estará momentos antes a poucas quadras do Masp, às 15h, em encontro promovido pelo Fórum 21 no hotel Maksoud Plaza, na companhia do historiado e brasilianista James Green (da Universidade de Brown, em Rodhe Island, Estados Unidos), do presidente da CUT, Vagner Freitas, e do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.
O ato de amanhã é o primeiro teste que reúne em um único dia a maioria dos movimentos ligados a correntes distintas de pensamento e diversas áreas de atuação social, trabalhadores da cidade e do campo, estudantes, intelectuais, artistas, organizações da juventude, feministas, LGBT, de moradia. As bandeiras que unificam os protestos são "Fora, Temer" e "Nenhum direito a menos".
"O presidente ilegítimo e golpista, Michel Temer, não esconde o que estava por trás do afastamento ilegal da presidenta Dilma Rousseff: Reforma da previdência, com arrocho nos direitos dos trabalhadores, desvinculação do orçamento da educação e saúde, suspensão de programas sociais como Minha Casa Minha Vida, Fies, Prouni, e Pronatec, criminalização e perseguição dos movimentos sociais", diz a convocação dos atos assinada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo sem Medo.
A CUT considera que o dia pode ser um marco na preparação de uma greve geral mais adiante. “Segundo a central, a greve geral está sendo construída para ocorrer quando o governo interino do vice-presidente interino Michel Temer encaminhar ao Congresso Nacional medidas de retirada de direitos que vêm sendo anunciadas via imprensa”, diz Vagner Freitas, esclarecendo que alguns jornais noticiaram incorretamente que uma greve geral já estaria sendo pretendida nesta sexta. Segundo o presidente da central, o que está certo é que diversas categorias promoverão atrasos na entrada ao expediente e assembleias em locais de trabalho.
Para esta sexta, algumas categorias já informaram que o protesto será em forma de paralisações. Os bancários de São Paulo, Osasco e região aprovaram o "dia em defesa dos direitos" com interrupção de atividades nos locais de trabalho. A decisão foi objeto de votações realizadas nos últimos dias em agências e grandes departamentos. Foram coletados 14.941 votos, dos quais 12.095 (81%) defenderam as paralisações.
A principal movimentação será no polo financeiro da região da Avenida Paulista ao longo do dia, com concentração unificada como os demais movimentos às 17h no tradicional ponto de partida de manifestações, o vão livre do Masp. "Os bancários deram um grande recado por intermédio das urnas que percorreram os locais de trabalho: nenhum direito a menos. Por que não taxar grandes fortunas, heranças, mudar a tributação que penaliza tanto os assalariados? Não, eles querem é retirar direitos e isso não vamos aceitar", disse a presidente do sindicato da categoria, Juvandia Moreira.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) informa que promoverá paralisações de 24 horas a partir da meia-noite de hoje. "Como em outros momentos da nossa história, o petróleo está novamente no centro do golpe que coloca em xeque o Estado democrático. Os trabalhadores, que precisam reagir enquanto ainda há tempo. A venda de ativos será intensificada por Pedro Parente (novo presidente da estatal), que chegou avisando que entregará às multinacionais os bilhões de barris de petróleo do pré-sal a que a Petrobras tem direito", diz a federação em nota.
Os profissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão de pesquisa científica ligada ao Ministério da Saúde,promoverão o evento Ocupa Fiocruz neste dia 10 e no próximo dia 16, que prevê paralisação de 24 horas e diversas ações no campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Os eventos de amanhã começam às 9h, com piquete e panfletagem nas portarias, em ações coordenadas pelo Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN). Haverá oficinas, apresentação teatral e atividades culturais, com participação de personalidades e artistas, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Frente UFRJ contra o fim do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação também participam.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) orienta a participação nas localidades onde houver programação. "À frente do Ministério da Educação está Mendonça Filho do, DEM, aquele partido que entrou com uma ação no STF pedindo inconstitucionalidade das cotas raciais e do Prouni, e também foi contra a destinação dos royalties do pré-sal para educação e saúde", diz em nota a organização.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, está em jogo um embate contra um modelo que resultará em demissões constantes e ampliação da pobreza. "Não temos outra saída para preservar os empregos e os direitos que não seja combater esse governo, especialista em dar dinheiro para quem não precisa e cortar direito de quem precisa, quem utiliza os programas sociais e é beneficiado pelas políticas de combate à desigualdade."
Ontem, durante evento na ocupação da sede da Funarte em Belo Horizonte, Guilherme Boulos, um dos coordenadores da Frente Povo sem Medo, reafirmou a importância de as esquerdas e movimentos progressistas unificarem forças em defesa da democracia. "Democracia é, sim, um presidente ou uma presidenta democraticamente eleita cumprir o seu mandato até o fim, mas não é só isso. Para nós, não há democracia em um Estado que assassina a juventude negra na periferia, que bloqueia o direito das mulheres de decidir sobre seu corpo, o direito à diversidade sexual, e em uma sociedade em que 1% tem mais que os outros 99%", disse Boulos, defendendo que as esquerdas devem repensar seu papel para além da resistência ao golpe.