Escrito por: Érica Aragão - CUT
A unidade dos movimentos sociais é essencial para democratizar a comunicação.
Está é a afirmação das convidadas e convidados do debate “Discurso de ódio, regulação e democracia na mídia: como enfrentar o conservadorismo e as violações dos direitos humanos nos meios de comunicação” organizado pelo Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC).
A atividade, que aconteceu na última sexta (27), fez parte da reunião ampliada do Conselho Deliberativo da realizada no último fim de semana, em São Paulo, no Centro de Estudos e Mídias Barão de Itararé, no auditório Vito Gianotti, local recém renomeado em homenagem ao grande militante pela democratização da Comunicação, falecido neste ano.
Para a coordenadora-geral do FNDC e secretária de Formação da CUT, Rosane Bertotti, o tema foi muito apropriado para o momento de resistência e de luta dos movimentos sociais que enfrentam o conservadorismo e intolerância instalados no país.
“Saímos de uma belíssima Marcha das Mulheres Negras, tivemos o 25 de novembro, dia Internacional da Não a Violência Contra Mulher, que é debatido e tem ações sobre o tema, e estamos vivendo uma luta efervescente dos estudantes em São Paulo, uma grande resistência da juventude para conquistarem seus espaços na educação”.
“A mídia, principalmente o jornalismo, na maioria das vezes não cumpre seu papel de mediação social, ouvindo e dando espaço aos diversos lados envolvidos dos fatos, e limitando a liberdade de expressão e excluindo um setor da sociedade”.
A diretora do Geledés Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, destacou que a intolerância com os negros só cresce e que no meio virtual isso só é possível porque o agressor pode fugir da impunidade porque não tem regulação. Ela citou dois casos recentes na internet. Os casos das jornalista e atriz, Maria Júlia Coutinho e Thais Araújo, vítimas de comentários racistas e de preconceito nas redes.
“Esses discurso de ódio vem acompanhado de ações, como o homicídio contra a juventude negra, com as mulheres negras e homossexuais, por exemplo”. Nilza propôs que a cada manifestação de ódio ou preconceito na internet, ou qualquer outro meio de comunicação, se transforme numa ação propositiva daqueles que lutam pelos direitos humanos.
Os meios de comunicação que são concessões públicas, como a televisão, também promovem estes tipos de ação, observam os convidados. Programas policiais que passam durante a tarde em canais abertos muitas vezes incitam a violência contra mulher, contra os homossexuais e incitam o preconceito e o ódio. É necessário ter consciência de onde termina a liberdade de expressão e começa a violação dos direitos humanos, alertam.
Paulo Mariante, coordenador de direitos humanos do grupo identidade, diz que a ação propositiva de enfrentamento a estes discursos de ódio e intolerância precisa ter unidade dos movimentos sociais.
Ele citou o exemplo de 2005, uma iniciativa judicial do coletivo Intervozes em parceria com os movimentos sociais LGBT contra um programa do João Kleber na RedeTV!, que tinha práticas anti-humanos. A ação conseguiu tirar a emissora do ar e ainda fazer com que a pena fosse transmitir 30 programas educativos de direitos humanos.
“A gente teve a produção feita por todos os movimentos sociais envolvidos e produzimos programas de alta qualidade. A questão do enfrentamento ao discurso de ódio não pode ser de forma fragmentada. Não acredito em humanizar o capitalismo e nem humanizar a empresa de comunicação, precisamos estar articulados”, finalizou Paulo.
Bruna Provazi, feminista e comunicadora da Marcha Mundial das Mulheres, disse que as mulheres também são discriminadas e excluídas da grande mídia. “As mulheres não são fontes e não são representadas na grande mídia. A gente não fala, mas a gente vende”, destacou criticando as propagandas que usam os corpos das mulheres para vender os produtos.
Bruna também lembrou das ações contra o machismo que estão acontecendo nas redes e nas ruas e que a grande mídia não mostra.
“As campanhas #MeuPrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto, denunciam nas redes sociais práticas de violência contra a mulher, muitas vezes na primeira infância, e as ações nas ruas, como marchas que acontecem pelo Brasil pra dizer não a qualquer tipo de retrocesso, a Marcha das Margaridas e a Marcha das Mulheres Negras que reuniram milhares de mulheres pedindo fora Cunha e não ao racismo”.
“A gente tem certeza de que a saída é sempre coletiva, porque querer individualmente mudar o sistema capitalista e patriarcal não vai dar. Ninguém tem a solução sozinha”, finalizou Bruna.
Angela Meyer, presidenta da União Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES), que participa efetivamente da luta dos estudantes em São Paulo contra a ‘reorganização do ensino’ do Governador Geraldo Alckmin criticou a grande mídia que não está fazendo a cobertura real das ocupações. “Já são mais de 230 escolas ocupadas organizadas pelos próprios alunos e quando você vê qualquer notícia do movimento que eles tratam com invasão dos estudantes e não é invasão é ocupação, coisas bem diferentes. A gente ocupa, porque a escola é nossa”.
Ela diz que a mídia alternativa está cumprindo muito bem seu papel de contrapor esta narrativa midiática que coloca a população contra o movimento. “A mídia alternativa e os próprios alunos estão fazendo isso muito bem. Eles estão tão organizados, tem um grupo de estudantes para cada tarefa, desde limpar a escola, fazer comida e até em fazer a comunicação do movimento”, disse Angela.
Rosane Bertotti lembrou a frase de Mandela e fez uma provocação para o público do debate e para todos os movimentos sociais. “Ninguém nasce odiando as pessoas, é o mundo que ensina odiar. Se o mundo é capaz de ensinar a odiar, a gente tem que construir processo de ensinar a amar. E isso só dá a certeza o quanto é importante lutar pela liberdade de expressão e a regulação da mídia, mas garantindo a diversidade e os direitos humanos”, finalizou.