RBA
São Paulo – Os entregadores de aplicativos prometem para o domingo, 12 de julho, uma nova greve contra a exploração trabalhista das plataformas de delivery. De acordo com informações do Brasil de Fato, a paralisação dará seguimento ao movimento que ficou conhecido como Breque dos Apps e que reuniu a categoria em atos e marchas nas principais capitais do país na quarta-feira (1º).
Na pauta continuam as reivindicações pelo mínimo de condições para o trabalho. Os entregadores denunciam que, em plena pandemia do novo coronavírus, estão se arriscando diariamente sem itens básicos de proteção à saúde, como álcool em gel e máscaras. Os trabalhadores também cobram o aumento do valor mínimo das entregas e dos pagamentos recebidos por quilômetro rodado.
As imagens da primeira greve nacional ocuparam a mídia brasileira, expondo o drama de quem chega a trabalhar mais de 12 horas por dia “com fome e carregando comida nas costas”, como descreveu o líder dos Entregadores Antifascistas, Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo.
Um estudo da Associação Aliança Bike indica que os entregadores ganham em média R$ 992 reais com uma jornada de 12 horas. A remuneração é menor do que o salário mínimo (R$ 1.045). Na pandemia, as empresas de aplicativos tiveram um aumento expressivo na demanda. Mesmo assim, levantamento da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) da Unicamp apontou uma queda na remuneração entre 60,3% dos entregadores entrevistados.
O segundo ato, para o próximo dia 12, reforça também a cobrança pelo aumento do valor mínimo das entregas e dos pagamentos recebidos por quilômetro rodado. Assim como a demanda pelo fim dos bloqueios indevidos e dos sistemas de pontuação dos aplicativos. Diversos especialistas consideram a mobilização por direitos da categoria como “histórica” e um marco contra o avanço da precarização e da chamada uberização do trabalho.
O apoio ao #BrequeDosApps também foi massivo por parte dos consumidores e internautas. E ficou nas redes sociais como um dos assuntos mais comentados durante a greve. Nas lojas de aplicativos, as plataformas ainda receberam mais de 50 mil avaliações negativas em apoio aos direitos trabalhistas dos entregadores.
Antes da paralisação desta quarta, no entanto, chegou a circular pelos grupos de motofretistas no Whatsapp um áudio de ameaça aos entregadores do Ifood que cogitavam participar da greve. Segundo reportagem de Carlos Juliano Barros para a coluna do UOL, um Operador Logístico (OL) diz que a categoria “entregadores OL” seria diferenciada das demais e por isso não se envolveria em nenhum tipo de manifestação.
Os OLs são uma espécie de serviço terceirizado da empresa que subcontrata “motoboys”. No áudio, o funcionário que trabalha para o Ifood diz que “em caso de insatisfação” do funcionário “essa questão poderia ser resolvida”. Entregadores também denunciam terem sido punidos por apoiar as manifestações.
O Ifood afirma que “defende o direito livre à manifestação”. Mas o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) endereçou nesta quinta (2) um ofício à empresa de delivery, pedindo explicações sobre as denúncias de ameaças. “Coibir, dificultar a livre organização e expressão fere nossa Constituição e as resoluções da OIT. As reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras de aplicativos que se mobilizaram só mostram a necessidade de garantir o direito ao trabalho com direitos”, destaca em nota o vice-presidente do CNDH, Leonardo Pinho.
O órgão ressalta que a Lei 7.783/1989 assegura o direito à greve. Assim como a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante o direito dos trabalhadores à tomada de decisões coletivas, entre elas, o direito à paralisação das atividades.