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São Paulo – Organizações de saúde coletiva, que compõem a Frente pela Vida, apresentaram um plano nacional de enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil. A proposta, divulgada na sexta-feira (3), é uma “resposta à omissão” do governo Bolsonaro. E levanta um conjunto de recomendações para os entes federal, estaduais e municipais, como forma de ditar os rumos às autoridades e à sociedade no geral.
O plano é assinado por 11 entidades, entre as quais a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Associação Brasileira Rede Unida (Rede Unida), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Ao todo, são 60 páginas analisando desde a complexidade da pandemia, aos agentes biomoleculares e clínicos. Assim como o panorama epidemiológico da covid-19 e as questões de consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e das políticas públicas de bem estar, principalmente entre as populações mais vulnerabilizadas.
“A presente proposta representa uma contribuição da sociedade viva na expectativa de suprir lamentável omissão do governo federal no cumprimento de seu papel perante a população”, diz um trecho da apresentação do documento.
A proposta é, portanto, de diálogo, mas os formuladores são descrentes quanto a essa possibilidade junto ao governo Bolsonaro. Isso porque a gestão federal é criticada desde o início da crise sanitária por sua lentidão e omissão. Mesmo assim, nenhuma mudança de postura foi adotada. É como avalia a presidente do Cebes, médica sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Lúcia Souto, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.
“Esse diálogo que não vai acontecer, porque o projeto do governo é muito claro, é um projeto genocida. Um projeto que em algum momento será responsável e responsabilizado criminalmente, porque é uma disseminação de propostas que realmente provocam o extermínio de uma larga parte da população brasileira. Então eu não tenho a menor expectativa de que o governo terá uma resposta positiva”, lamenta a especialista.
De acordo com Lúcia, “é absolutamente grave”, a destituição do Ministério da Saúde, hoje ocupado militarmente, e a falta de liderança do governo federal na articulação de um plano nacional. A presidenta do Cebes lembra que “as entidades foram obrigadas a se manifestar” diante dessa ausência. O objetivo do plano seria então de diálogo mas com o Congresso Nacional, o Judiciário, movimentos populares e sociais “para que realmente haja uma clareza na sociedade de quais são os rumos”, destaca a médica sanitarista.
Com mais de 1,6 milhão de casos confirmados da covid-19 e quase 65 mil vidas perdidas, o Brasil já é hoje “um dos piores, senão o pior país do mundo, no enfrentamento da pandemia”, adverte Lúcia. E com índices ainda de subnotificação da doença.
“E a população no desespero e na falta de orientação, parte para atitudes completamente bárbaras, como essa abertura sem nenhuma condição, que faz as pessoas irem e parece até que num desespero comemorando ninguém sabe o quê. Porque na verdade nós temos hoje é que lamentar as mortes evitáveis de milhares de brasileiros. A tentativa de lançamento do plano é ainda para interferir na sociedade. Nós consideramos que a partir de um plano denso, que tem muita orientação, ele possa ser um plano orientador”, explica a presidente do Cebes.
A Frente pela Vida é movimento criado por entidades de saúde coletiva em defesa da vida e de valores fundamentais para o enfrentamento da pandemia de coronavírus: a vida, a saúde, o SUS, a ciência, a solidariedade, a preservação do meio ambiente, a democracia. A primeira manifestação do grupo foi em 9 de junho.
Você pode ler o documento das entidades, na íntegra, clicando aqui.