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9 de Setembro de 2020 às 08:23

Enquanto Amazônia e Pantanal queimam, Bolsonaro desmonta soberania nacional


RBA
Eduardo Maretti

São Paulo – A privatização “fatiada” da Petrobras – com a venda do controle da gigante BR Distribuidora e da Liquigás –, assim como o marco regulatório da água, aprovado recentemente no Congresso Nacional, a Eletrobras e a Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA) na mira da agenda do ministro da Economia, Paulo Guedes. Esses são alguns dos maiores exemplos do trabalho de destruição da soberania nacional posto em marcha desde o governo Michel Temer, projeto ao qual Jair Bolsonaro dá seguimento, embora em velocidade menor do que desejaria o próprio Guedes.

Na lista do desmonte do patrimônio nacional estão ainda os Correios e o porto de Santos, o esvaziamento do papel do BNDES, a tentativa de privatizar a Caixa Econômica Federal por partes e o Banco do Brasil, que Guedes já afirmou ser “um caso pronto de privatização”. Todos juntos, são paradigmas da degradada soberania do país.

Escalado desde o início como “superministro”, Guedes já afirmou que, se a Eletrobras continuar nas mãos do Estado, “a luz vai apagar”. Segundo o ministro, a estatal “está condenada a desaparecer no tempo, a não ser que nós consigamos privatizar”.

Para Maria Aparecida de Aquino, professora da pós-graduação do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), as pretendidas privatizações, sobretudo de Petrobras e Eletrobras, são “muito graves”. “A pedra fundamental é a Petrobras. Não vão sossegar enquanto não fizerem isso. Aliás, essa situação vem desde a década de 50, quando a empresa foi criada. A luta sempre foi grande e foi inclusive um dos motivos da desestabilização de Getúlio Vargas e o posterior suicídio”, diz.

Eletrobras, Petrobras, Amazônia

Em pronunciamento nesta segunda-feira (7), dia da Independência do Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “o maior crime que um governo pode cometer contra o seu país” é abrir mão da soberania nacional. “Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão e submissão”, declarou. Em seu pronunciamento, Lula disse também que a soberania pressupõe “defender nosso povo, nossas riquezas minerais, nossas florestas, nossos rios, nossa água”.

Maria Aparecida afirma ter esperança de que as privatizações da Petrobras e da Eletrobras não ocorram. “Mas, se isso vier a acontecer, e está em processo, é tão terrível quanto a política de desmatamento e de queimadas. Uma parte do Pantanal já se foi. Quando você diz isso, é como tirar um pedaço do país, como tirar um pedaço da gente, porque representa a nossa nação”, lamenta.

“Colocar duas empresas absolutamente estratégicas, e que a muito custo se mantiveram sob nosso poder, é algo que não tem como repor, assim como não tem como repor a floresta amazônica. A velocidade do desmatamento nesse um ano e oito meses é tão rápida que a ideia da desertificação já é muito concreta”, afirma a historiadora.

Política externa

Além das privatizações, que colocam em xeque estatais estratégicas, a professora da USP chama atenção para um outro tema que, para ela, compromete gravemente a soberania nacional. “Não se pode esquecer a política externa. O Brasil passou por ditadura, regimes autoritários e por momentos democráticos. Mas sempre teve uma política externa independente, muito bem planejada, que era elogiada no mundo inteiro. O que se observa agora, com a política externa deste cidadão, esta criatura estranha, Ernesto Araújo, é que passamos de uma postura independente e altiva para uma subserviência absoluta e total.”

As relações exteriores de Bolsonaro e Araújo têm sido baseadas prioritariamente nas relações com os Estados Unidos e seus aliados. “Não há mais uma política voltada para o Mercosul, para países que tenham semelhança conosco, a exemplo do conjunto dos BRICS” (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “A política externa é um elemento muito importante de desarticulação, uma política destrutiva do governo Bolsonaro.”

Além dos ataques gratuitos à gigante China, que os palacianos do clã Bolsonaro acusam de ser responsável pela existência da pandemia de coronavírus no mundo, entre outros vexames internacionais, o próprio presidente brasileiro chegou ao ponto de atacar a esposa do presidente francês, Brigitte Macron, pelas redes sociais. “Isso não cabe em nenhum manual com o qual se tenha aprendido alguma coisa,”, conclui Maria Aparecida.


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