Escrito por: Luiz Carvalho - CUT
Como nos debates sobre os rumos da política no país, também nas discussões a respeito das relações trabalhistas, o que era motivo de vergonha tornou-se razão para orgulho e temas como a precairzação das condições de trabalho em nome do lucro já não causam mais contrangimento.
Esse novo cenário ficou claro na audiência pública que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) promoveu nessa quarta-feira para discutir o PLC 30/2015 (Projeto de Lei da Câmara), que trata da terceirização sem limites.
A mesa composta por representantes das confederações nacionais da indústria (CNI), Alexandre Furlan, e do comércio (CNC), Laércio Oliveira, contou também com professores da Faculdade de Economia da USP (Universidade de São Paulo) favoráveis ao projeto, Hélio Zylberstajn e José Pastore.
Eles criticam o que definiram com viés ideológico do debate, afirmaram que é preciso abrir espaço para a terceirização também na atividade-fim (a principal da empresa), porque não é possível distingui-la da atividade meio e Oliveira chegou a defender a ampliação dessse modelo de contratação também para o serviço público.
Tradicional assessor de partidos como o PSDB e fonte constante para assuntos trabalhistas na velha mídia, Pastore chegou a admitir que a há precarização na terceirização, mas disse que o PLC 30, oriundo do PL 4330, vai resolver introduzir questões como a corresponsabilidade nos contratos e garantias trabalhistas.
Já Zylberstajn minimizou a proporção de terceirizados que, segundo ele, não seria tão grande como dizem as centrais sindicas e as diferenças salariais que, segundo ele, seria muito pequena.
Teoria e prática
Na prática, o discurso dos economistas não se sustenta, conforme comprova o dossiê “Terceirização e desenvolvimento: uma conta que não fecha”, lançado em fevereiro deste ano. Segundo o documento, os cerca de 15 milhões de terceirados recebem 25% a menos do que os contratados diretos para realizar as mesmas atividades.
A cada 10 trabalhadores que adoecem, oito são subcontratados. Além disso, entre 2010 e 2014, 90% dos trabalhadores resgatados nos 10 maiores flagrantes de trabalho escravo eram terceirizados, que trabalham cerca de três horas a mais por semana e foram 80% dos mortos em serviço entre 1995 e 2013 na Petrobras.
Com esses argumentos a CUT, ao lado da Força Sindical, as únicas representantes dos trabalhadores na audiência pública, defendeu a estratégia de engavetar o PLC 30, explicou a secretária de Relações do Trabalho da Central, Maria das Graças Costa.
“O PLC 30 é uma continuidade do PL 4330, por isso, queremos que seja arquivado e tenhamos uma nova proposta com base no projeto apresentado pelas centrais sindicais. Não estamos fazendo só discurso, temos um texto pronto para ser apreciado pelos parlamentares”, disse Graça, após o encontro.
Durante a audiência, Graça ressaltou que, se abertas as portas para a terceirização sem limites, o número de mortes, difernça salarial no mesmo local de trabalho e a subcontratação serão escancaradas. “Vamos ter queda de renda do trabalho e negação dos direitos”, falou.
A dirigente comentou ainda que não há um só argumento além da redução do custos com precarização das condições de trabalho para justificar o modelo de contratação terceirizada.
“É verdade, muitas terceirizadas assinam carteiras, mas, mesmo assim, o conceito de terceirização ligado à precarização é o conceito real aplicado no Brasil. Não podemos olhar só para o que os empresários podem ganhar, temos que olhar para as condições dos trabalhadores. Queremos vida para trabalhar e ajudar, inclusive, para que os empresários se mantenham produzindo”, afirmou.
Agenda Brasil atrasou a discussão – Após a audiência, Graça lembrou que a Agenda Brasil atrapalhou a discussão ao incluir a terceirização em um documento que não prevê um amplo debate pelo país, como ocorre no caso do PLC 30, cuja discussão já passou por 16 estados e deve correr todo o Brasil até o final do ano.
“O problema é bastante sério, tínhamos um PL sendo distribuído para cinco comissões e quando a terceirização entrou na Agenda Brasil, criou-se uma comissão especial para analisar. Se passar, vai direto para o plenário do Senado e da Câmara, o que encurtou o tempo para nós”, lembrou Graça.
Para ela, a razão é simples: os empresários, financiadores das campanhas, estão cobrando a conta dos parlamentares. “Querem votar isso rápido porque estão sendo pressionados. Vamos ter que ficar atentos porque precisaremos mobilizar em curto tempo.”