Escrito por: Rosely Rocha - CUT
A Arábia Saudita, maior importadora de frango do Brasil, excluiu 33 frigoríficos brasileiros de sua lista de exportadores e milhares de trabalhadores e trabalhadoras podem ser demitidos nos próximos dias.
Dos 58 frigoríficos habilitados pelo Ministério da Agricultura para exportar para a Arábia Saudita restaram apenas 25 na lista dos árabes. Entre as unidades descredenciadas estão JBS e BRF, gigantes do setor.
O anúncio do país, onde 90% da carne consumida é brasileira - o que dá ao Brasil um saldo comercial de US$ 1,012 bilhão -, feito nesta terça-feira (22), é uma retaliação à decisão de Jair Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém.
Ao atender aos caprichos da bancada evangélica que acredita que Jerusalém é a capital santa do povo judeu, Bolsonaro colocou em risco o emprego de mais de 240 mil brasileiros que trabalham nos frigoríficos cujas plantas são especializadas no corte Halal, especialmente feito para consumo daqueles países, respeitando a religião do povo árabe.
São 80 mil empregos diretos e outros 160 mil indiretos ameaçados após a suspensão da importação de carne de frango- Célio Elias, secretário de Saúde da Confederação Democrática Brasileira dos Trabalhadores da Alimentação (Contac-CUT)
“Cada planta tem entre 1.500 a 2.000 mil trabalhadores, contando os granjeiros, os produtores de milho para ração, pequenos agricultores, motoristas de caminhão, além do comércio de 35 cidades brasileiras que dependem economicamente desses frigoríficos, o estrago será muito grande”, afirma o dirigente.
“Há muita preocupação entre os trabalhadores por causa do desemprego”.
Já para o presidente da Contac-CUT, Siderlei de Oliveira, a decisão do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro é um tiro no pé para a recuperação econômica do país, lembrando que o setor esperava um aumento nas exportações.
“Isto vai liquidar com a nossa economia, pois esperávamos um aumento nas exportações do setor”, diz Siderlei, acrescentando que acredita que outros países árabes irão na mesma direção da Arábia Saudita e suspenderão toda a importação de carne de frango brasileira.
Os estados que devem ser mais afetados economicamente com a decisão de Bolsonaro são Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Groso do Sul, Minas Gerais e Bahia, onde estão localizados a maioria dos frigoríficos que tiveram a importação de carne de frango suspensa pela Arábia Saudita .
“Já tem outros países de olho no mercado árabe. Vamos perder para o Canadá, Espanha e os Estados Unidos que disputam o mercado de frango com o Brasil, por uma questão religiosa de Bolsonaro”, critica Siderlei.
Entenda o caso
Os judeus consideram Jerusalém sua capital, mas os palestinos também querem que a cidade seja a futura capital quando for criado o Estado da Palestina.
A ONU, ao criar o Estado de Israel em 1948, não reconheceu Jerusalém como capital dos judeus.
É por isso que todos os países mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, adotando a prática sugerida pelas Nações Unidas de neutralidade em Jerusalém, já que o local é sagrado para as três maiores religiões monoteístas: a judaica, islâmica e cristã.
Israel ocupa Jerusalém Oriental desde a guerra de 1967 e, posteriormente a anexou num ato nunca reconhecido pela comunidade internacional.