RBA
Gabriel Valery
Entregadores de aplicativos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Salvador aderiram em grande número à greve nacional da categoria desta quarta-feira (1º). Os serviços foram paralisado às 9h, e foram organizados atos públicos, marchas e manifestações pelas ruas da principais capitais do país..
As reivindicações são pelo mínimo de condições para o trabalho. Mesmo em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, esses trabalhadores se arriscam diariamente sem itens básicos de saúde, como álcool gel, máscaras faciais e outros. O movimento também é por melhor remuneração pelas entregas (atualmente em torno de R$ 2 por quilômetro), auxílio alimentação e outros direitos básicos.
O apoio dos internautas aos entregadores foi massivo. Nas redes sociais, a #BrequeDosApps figurou nos trending toppics do Twitter durante todo o dia. Imagens de grandes atos foram postados nas demais redes, como Instagram e Facebook.
Para a pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Adriana Coelho, o levante dos trabalhadores informais é uma marca histórica na luta trabalhista. “Em um mundo duramente atingido pelo desemprego, os entregadores poderiam parecer ser os únicos trabalhadores que teriam conseguido driblar a crise agravada pela pandemia. Não são”, disse.
Ela explica que a pandemia acirrou a concorrência. De fato, os entregadores se queixam da redução na remuneração nos últimos meses. “Apesar do grande número de entregadores circulando nas ruas; apesar de sabermos que esse ramo foi um dos únicos que cresceu vigorosamente durante a pandemia; a realidade desses que estão carregando a sociedade pandêmica nas costas é bem pior do que imaginamos.”
Sem vínculos com as empresas para quem prestam serviço (Ifood, Rappi, Uber Eats, etc), as condições destes trabalhadores é de extrema precariedade. Durante suas jornadas, que chegam a 12 horas por dia, 30 dias por mês, não têm nem mesmo banheiro. Vale-refeição, assistência médica – considerando que a atividade representa constante risco de acidentes – também não têm. A renda mensal média dos entregadores de aplicativo é de um salário mínimo.
Essa é uma nova fronteira da precarização, que especialistas chamam de “uberização”. Sob a falácia de “empreendedorismo”, cada vez mais os entregadores estão sem as mínimas condições de trabalho.
Para a pesquisadora do CNPq, esse conjunto de motivações para o movimento desta quarta-feira amplia a importância da greve. “O caráter histórico dessa luta revela-se como surgimento de uma luz no fim do túnel. Isso porque aponta para formas de finalmente frear a crescente e destrutiva desregulamentação neoliberal do trabalho. Assim, a organização autônoma desses trabalhadores não só surpreende favoravelmente, como é vista com muito otimismo e solidariedade por todas e todos que ainda acreditam e lutam por uma sociedade mais justa e menos desigual”, completa Adriana.
Paulo Lima, o Galo – considerado uma liderança da categoria em São Paulo que vem ganhando importância – vem denunciando fortemente os problemas dos entregadores de aplicativos. “Estamos mostrando que se nos unirmos podemos trazer o poder para as mãos da gente. Através do sofrimento comum, estamos unidos contra os aplicativos. Os aplicativos são nossos e não dos caras. O futuro é de uma classe trabalhadora unida e forte”, disse aos Jornalistas Livres.
A ex-presidenta Dilma Rousseff também se pronunciou em apoio aos entregadores. “Todo apoio ao #BrequeDosApps. Entregadores de aplicativos pararam as atividades em pelo menos 14 capitais e grandes cidades, exigindo vínculo empregatício e melhores condições de trabalho. Essa categoria tem sido submetida a uma nova forma de servidão”, disse.