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12 de Dezembro de 2016 às 06:07

Dilma: próxima etapa será atacar concentração de riqueza

Em seminário promovido pela Fundação Perseu Abramo, presidenta defende Diretas Já e demonstra confiança na volta do PT. Cristina Kirchner também participou


Crédito: Paulo Whitaker/Reuters
Para Cristina Kirchner "É preciso construir frentes sociais para recompor os campos nacionais, democráticos e populares. Isso exige uma estratégia clara"

Escrito por: Isaías Dalle - CUT

Apesar dos cartazes junto ao palco que pediam a anulação do impeachment pelo STF e dos gritos “Volta Dilma”, a presidenta Dilma Roussef defendeu ontem que “temos de reinvindicar a saída por baixo. E a única maneira de fazermos isso é com eleições diretas”.

Dilma já havia feito a defesa dessa ideia – também abraçada pelo ex-presidente Lula e pela coordenação da Frente Brasil Popular – em encontro realizado no último dia 30, na sede da CUT.

Na noite da última sexta-feira, no entanto, ao falar durante a Conferência “A Luta Política na América Latina Hoje”, Dilma foi além e demonstrou confiança na volta das forças progressistas, democráticas e populares ao governo federal.

Essa confiança foi traduzida na seguinte frase de seu discurso: “Nós, (enquanto governo), atacamos a concentração de renda. Mas não conseguimos alterar a concentração de riqueza. Essa seria a segunda etapa de nosso projeto. Seria e será nossa próxima etapa”.

A Conferência foi realizada pela Fundação Perseu Abramo, com o apoio de outras entidades, entre elas a CUT. A ex-presidenta Cristina Kirchner também participou. Ambas foram recebidas como estrelas pelo auditório lotado da Casa de Portugal, capital paulista.

Dilma defendeu a taxação das grandes fortunas, das heranças e dos dividendos de acionistas, todos isentos de tributação no Brasil. Criticou também a diminuição de impostos para os mais ricos – sem citar as desonerações que seu governo aplicou na tentativa de atrair investimentos do setor privado.

Ela lembrou que, no mundo, só o Brasil e a Estônia não taxam dividendos. E em seguida perguntou, de si para si: “E por que isso não foi feito antes. Porque o Congresso não aprova”. Fez então a defesa da reforma política. E ao fazê-lo, indiretamente reafirmou sua postura naquilo em que é frequentemente criticada: a falta de diálogo. Lembrou que no Brasil existem 33 partidos políticos. “Não resta dúvida que é muito difícil que existam 33 programas com consistência ideológica. De todos os que estão aí, sobram uns quatro ou cinco. Então, para você se eleger e governar, tem de negociar, debater privilégios, lidar com o fisiologismo. Querem saber: que se dane o fisiologismo”, arrematou, sob aplausos.

Dilma prevê um golpe dentro do golpe, que seria a queda de Temer no ano que vem para que um novo mandatário seja escolhido pelo colégio eleitoral – quem votaria seriam apenas os deputados e senadores. Por isso, a defesa das Diretas Já.

 

Ataques especulativos de fora

Cristina Kirchner, ao falar de seus governos e os do falecido marido Néstor, destacou o fim da dívida com o FMI – “que intervinha em nosso país como se ainda fôssemos colônia” – e a negociação da dívida externa, que deu maior liberdade de ação ao governo. A negociação seria derrubada depois, em 2014, por medida de um juiz de Nova Iorque, atendendo a pedido de um pequeno grupo de especuladores, conhecidos como “fundos abutres”.

Durante o período em que vigiu acordo com a imensa maioria dos credores, que aceitaram o alongamento da dívida e a diminuição das taxas de juros, a Argentina, lembrou Cristina, foi capaz de investir em educação, saúde e fortalecimento das negociações salariais. Ela já havia afirmado que a era Kirchner foi a que registrou o mais longo período de crescimento econômico com diminuição das desigualdades.

O golpe representado pela decisão do juiz nova-iorquino produziu profundo desgaste para o governo de Cristina, pois impediu que o país continuasse pagando mensalmente suas dívidas nos termos do acordo anterior, tornando-o portanto inadimplente perante a comunidade internacional.

Essa condição só seria suspensa, pelo mesmo juiz, após o atual presidente, Maurício Macri, ter aceitado condições exigidas pelos “fundos abutres”, em 2016. Hoje, segundo Cristina, as tarifas públicas na Argentina estão descontroladas, a inflação atingiu dois dígitos e os contratos de trabalho estão sendo flexibilizados.

“É preciso construir frentes sociais para recompor os campos nacionais, democráticos e populares”, disse. E completou: “Isso exige uma estratégia clara”. Em busca dessa estratégia, vários encontros têm sido realizados pelo Brasil pelas forças de esquerda. A conjuntura exige rapidez, conforme lembram algumas lideranças.


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