Segundo dados apurados pelo Balanço das Negociações do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mesmo que o Brasil tenha diminuído o ritmo do seu crescimento nos últimos anos, é possível destacar importantes motivos para a manutenção de ganhos reais dos salários, até mesmo para vencer a crise.
O País deve encerrar 2015 com recuo na produção de riqueza, com o Produto Interno Bruto (PIB) inferior, em termos reais, ao de 2014. No entanto, estudos indicam que a aplicação do ganho real nos salários possibilita a ampliação do nível de rendimentos das famílias, que tem sido o pilar da melhoria da distribuição de renda no Brasil nos últimos anos.
Em um cenário em que a economia não cresce, o governo reduz os seus gastos. Se o salário não tiver ganho real, a conjugação desses fatores levará a uma redução ainda mais forte no consumo, conduzindo a economia a uma espiral negativa, puxada pela redução da demanda agregada.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, no Brasil, 74,4% da renda familiar advém do trabalho. Neste contexto, uma melhoria dos salários reais exerce efeito imediato sobre o nível de bem-estar das famílias, com efeito sobre saúde, educação e até mesmo sobre a produtividade do trabalho.
Nem todos os setores estão em crise, e os impactos desta são muito diferenciados de setor para setor. Vários setores da economia obtiveram lucros expressivos no primeiro semestre. Ademais, a crise também não é sentida da mesma forma em todo o Brasil. Há municípios, estados e regiões que estão sendo mais ou menos atingidos. Peculiaridades locais e setoriais devem ser levadas em consideração nas mesas de negociação.
Ainda, de acordo com dados do Sistema de Acompanhamento de Greves (SAG-Dieese), os trabalhadores, que vinham tendo ganhos reais nos últimos anos (ainda que modestos), não irão aceitar perdas sem mobilização. Em 2013 (o levantamento ainda não foi fechado), foram registradas cerca de 2.050 greves, o que corresponderia ao maior registro da série histórica do Sistema organizado pelo DIEESE. Se os empresários insistirem em transferir os efeitos da crise para os salários, é possível haver forte reação sindical, com a organização de greves e outras formas de mobilização. Isso, por suposto, não interessa às empresas.
Enquanto a economia brasileira patina, somente no primeiro semestre deste ano, os cinco maiores bancos que operam no País (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa) lucraram R$36,3 bilhões. Um crescimento de 27,3% em relação ao mesmo período do ano passado. A expansão de lucro líquido do Sistema Financeiro em um contexto em que a economia não cresceu revela o quanto o sistema financeiro está descolado do ciclo produtivo do país e quanto a política monetária está voltada para garantir o lucro dos rentistas.
Mas não é apenas o setor financeiro que, mesmo com a crise, tem apresentado ótimos resultados. Segundo a consultoria Economática, no segundo trimestre deste ano, 321 empresas de capital aberto, no Brasil, acumularam lucro de R$ 41,9 bilhões, alta de quase 15% em relação aos R$ 36,5 bilhões obtidos no mesmo período de 2014. Os bancos lideraram os ganhos, com lucro de R$ 19,15 bilhões, uma alta de 43% sobre o resultado do setor no segundo trimestre do ano passado.
Além dos bancos, entre os setores mais lucrativos estão mineração (R$ 5,09 bilhões), alimentos e bebidas (R$ 3,25 bilhões), energia elétrica (R$ 3,12 bilhões), telecomunicações (R$ 2,33 bilhões), seguradoras (R$ 1,62 bilhão), papel e celulose (R$ 1,35 bilhão) e indústria química (R$ 1,35 bilhão). Apesar de todo o alarido da crise, os dados da Economática mostram ainda que, das 60 empresas que vendem ações na Bolsa de Valores de São Paulo, 33 tiveram aumento de lucratividade, 27 tiveram queda do lucro (mas tiveram lucro) e apenas cinco registraram prejuízo no 2º trimestre, na comparação com 2014.
De acordo com o estudo, muitos empresários e entidades patronais argumentam que o reajuste salarial pode implicar uma redução do número de postos de trabalho. Todavia, nenhum está disposto a negociar a estabilidade no emprego ou mesmo a manutenção do nível de emprego, em um cenário de manutenção ou até mesmo redução dos salários reais. Sendo assim, não há motivos para que os trabalhadores que continuam no emprego tenham seu poder de compra reduzido, ou não lutem por aumentos.
Fonte: Contraf-CUT