CUT Nacional
Andre Accarini
Representantes de trabalhadores e trabalhadoras dos vários setores da indústria brasileira se reúnem, nesta quarta-feira (12), por videoconferência, no Encontro Nacional do Macrossetor da Indústria da CUT (MSI-CUT).
A primeira ‘etapa’ do encontro foi realizada no dia 5 de agosto para ouvir as propostas elaboradas em encontros regionais, realizados anteriormente, para um plano de reorganização e recuperação da indústria brasileira que vem sofrendo desmonte, falta de investimentos e participação nacional na produção.
Desde a crise de 2016, depois do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, a atividade industrial, que já apresentava índices de crescimento inferiores aos registrados nos 2000, sofreu retração ainda maior.
Este cenário levou os dirigentes da CUT a realizar o encontro para construir e articular um plano para salvar a indústria brasileira e, por consequência, os empregos de milhões de trabalhadores e trabalhadoras do setor.
Lucineide Varjão, presidenta da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNRQ-CUT) e uma das coordenadoras do macrossetor, afirma que um dos objetivos principais do encontro é “salvar os empregos e os direitos dos trabalhadores e repensar a atuação sindical, já que muitos trabalhadores vivem outras formas de organização no trabalho”.
Ela destaca a efetiva participação de lideranças regionais na elaboração das estratégias - para salvar empregos – como um caminho correto no momento conjuntural pelo qual passa o país.
“Parte importante do debate do Macrossetor Indústria da CUT é construir ações a partir dos debates regionais realizados”, diz Lú Varjão.
O encontro, realizado em parceria com o Instituto Trabalho, Indústria e Tecnologia (TID), resultará na conclusão da proposta do Plano 10+, um conjunto de diretrizes para orientar políticas, programas e ações relativas ao setor para os próximos 10 anos.
A proposta está sendo construída a partir da visão dos trabalhadores e com base em um projeto de desenvolvimento econômico e social que busca a melhoria da qualidade de vida e da distribuição de renda da população.
O Plano 10+ tem como diretrizes priorizar a inovação e a modernização tecnológica por meio de investimentos, além de uma política externa soberana que promova a indústria nacional, o desenvolvimento regional e a geração de empregos de qualidade.
Como todos os setores econômicos, a indústria brasileira sofreu fortes impactos com a crise econômica aprofundada pela pandemia do novo coronavírus. Já fragilizado desde o início da recessão em 2015, o setor industrial teve uma retração de 19,74% na comparação do segundo trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados nesta terça-feira (11).
A queda de fevereiro até junho deste ano – período que coincide com o início da pandemia no Brasil - chega a 13,5%. Ainda que a demanda por bens industriais tenha avançado 5,2% entre maio e junho deste ano, a queda acumulada em doze meses na produção industrial é de 5,6%.
Para o setor, o cenário recente não é animador. De acordo com dados pesquisados pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os anos posteriores ao agravamento da crise econômica, em 2016, mostram que a produção em janeiro deste ano era menor do que a média da produção em 2012.
Ainda de acordo com o Dieese, a queda na atividade se deu pela estagnação da economia brasileira, pelo pouco crescimento de investimentos, além do ritmo lento do consumo interno, ou seja, pessoas comprando menos, e o excesso de estoques.
Com o início da pandemia, o cenário se agravou com a paralisação dos mercados interno e externo, a queda da procura por produtos, a contenção de custos por parte das empresas e a suspensão de investimentos.
O setor industrial foi um dos que mais desligou trabalhadores no período. No mercado de trabalho total, de março a maio de 2020 houve uma queda de 2,4 milhões no número de ocupados na Indústria e nas atividades de Construção, se comparado ao trimestre anterior.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), apontam que o setor eliminou 1,2 milhões postos de trabalho com carteira assinada, de janeiro a junho deste ano.