CUT Nacional
André Accarini
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, e de outras 10 centrais sindicais brasileiras lançaram nesta quinta-feira (17) uma campanha e um abaixo-assinado pela manutenção do valor do auxílio emergencial em R$ 600,00 até o mês de dezembro.
Nas redes sociais a campanha vai usar a hashtag #600PeloBrasil e a palavra de ordem será “Bota pra votar já, Maia”, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que decide a pauta da Casa. O pedido é para Maia pautar a votação da Medida Provisória (MP) 1000/2020, encaminhada pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) ampliando o pagamento do auxílio até dezembro, mas reduzindo o valor de R$ 600,00 para R$ 300,00 e mudando os critérios de acesso ao benefício para tirar milhões de trabalhadores da lista de quem pode receber.
MP de Bolsonaro exclui quase 6 milhões de pessoas do auxílio emergencial
O auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso Nacional em março, no início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), previa ainda o pagamento de R$ 1.200,00 para mães chefes de família, foi até este mês a única fonte de renda de 66 milhões de desempregados, autônomos e microempreendedores individuais de todo o país.
Na Câmara dos Deputados, já foram apresentadas mais de 260 emendas para manter o valor do benefício sem os cortes feitos por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Apontada pelos sindicalistas como o principal instrumento de luta neste momento, a campanha #600peloBrasil terá a missão de pressionar Maia para que o presidente da Câmara não ceda aos acenos do governo que não quer que a MP seja votada, prefere que e caduque após o prazo legal de 120 dias, que coincide com o fim do pagamento do auxílio emergencial.
“Quer que não seja votada e quer reduzir pra R$ 300,00. E opera isso no Congresso de forma aberta”, disse o presidente da CUT, Sérgio Nobre, criticando a manobra do governo. E para reverter esse quadro, completou, “é essencial a pressão e o trabalho de convencimento dos parlamentares para votar e manter o auxílio em R$ 600,00”.
Além da pressão sobre os deputados e sobre os presidentes, tanto da Câmara, como do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para quem os presidentes das centrais já pediram audiências, a campanha será feita por meio de um abaixo aberto a toda a sociedade.
Além de poder assinar o abaixo-assinado pela internet, as assinaturas também serão recolhidas nos municípios com sindicatos e movimentos sociais dialogando com a população e conscientizando sobre a necessidade de manter o auxílio emergencial em R$ 600,00.
A campanha também será realizada por meio das redes sociais das centrais e movimentos sociais e terá apoio dos veículos de comunicação ligados a entidades sindicais bem como veículos de imprensa progressistas em todo o Brasil, como portais informativos, jornais e rádios comunitárias.
Os presidentes das centrais sindicais destacaram durante a apresentação da campanha, feita por videoconferência, na manhã desta quinta-feira, que o auxílio emergencial foi fundamental desde o início da pandemia para que não fosse ainda maior o estrago na economia brasileira, provocado por uma crise sem fim dada a falta de políticas de desenvolvimento, geração de emprego e renda, por parte do governo.
“Se a economia não está pior é por conta do auxílio emergencial. Os R$ 600,00 foram a única fonte de renda de milhões de pessoas, que utilizaram esse dinheiro, na maioria dos casos, para comprar alimentos, produtos de higiene e remédios”, disse Sérgio.
Ele aponta ainda o aumento da inflação e o dos preços de alimentos que compõem a cesta básica, como o arroz que já acumula alta de 19,5% em 2020. “Esse valor de R$ 300,00 sequer dá pra comprar uma cesta básica”, diz o presidente da CUT, lembrando que “todos os países que enfrentam bem a crise, destinaram 35% do PIB para proteger a vida do povo”.
E ao contrário do que diz Bolsonaro, o valor de R$ 600,00 foi fruto da pressão das centrais sobre os parlamentares para que, no início da pandemia, em março deste ano, fosse aprovado um valor maior do que o que queria o governo, que propunha R$ 200,00, lembrou Sérgio.
“Foi nosso trabalho que trabalho de convencimento dos parlamentares, a pressão do movimento sindical, conscientizando sobre o que seria não ter esse programa durante a pandemia que garantiu o valor maior”, afirmou.
O dirigente ainda alerta que se o valor for reduzido para R$ 300,00, como quer o governo, o Brasil vai entrar em uma crise sem precedentes. Ele explica que o valor maior é fundamental para manter atividade econômica brasileira. “Foi o auxílio que movimentou a economia e por isso tivermos produção do país. O povo compra, a indústria produz e mantém a roda da economia“, pontuou.
Miguel Torres, presidente da Força Sindical, concordou e reforçou que se o auxílio se mantiver como quer o governo, em R$ 300,00, a crise vai aumentar. “Temos que convencer toda a sociedade, todos os parlamentares da importância prorrogação até dezembro, como o mesmo valor pago até agora, de R$ 600,00”.
Ricardo Patah, presidente da União Geral de Trabalhadores (UGT), citou o comércio e serviços como setores em que o auxílio emergencial teve grande importância. “Manteve um equilíbrio nos empregos e ajudou a sustentar pequenas empresas”.
O dirigente lembrou que a popularidade de Bolsonaro cresceu por causa do auxílio emergencial. Bolsonaro faz propaganda de si mesmo afirmando que o programa é uma inciativa do governo federal, quando na verdade, foi, como disse Sérgio Nobre, fruto do trabalho das centrais.
“Ele nada de braçada numa questão que não é dele, é do movimento sindical e temos que mobilizar nossas bases”, disse o presidente da UGT.
Nesse sentido, Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores Brasileiros (CTB), reforçou que a campanha é “tudo o que o movimento sindical tem em mãos para disputar a narrativa pelos R$ 600,00”.
Também participaram do lançamento da campanha os presidentes das centrais, José Calixto Ramos, da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), José Gozze, da Pública – Central do Servidor, Ubiraci Dantas, da Central Geral de Trabalhadores Brasileiros (CGTV), Atnagoras Teixeira Lopes, da CSP-Conlutas e o coordenador da Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora, Emanuel Melato.