RBA
Cida de Oliveira
São Paulo – O Palácio do Planalto anunciou hoje (29) o adiamento da posse do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, que estava marcada para esta terça-feira (30). A decisão foi tomada após a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, negar que ele tenha obtido titulação de pós-doutorado (pós-doc) na instituição. Ainda não há nova data marcada.
A instituição informou que o ministro fez pesquisas na universidade durante três meses, em 2016, sem ter concluído nenhum programa de pós-doutorado.
A crise envolvendo as falsas afirmações no currículo do sucessor de Abraham Weintraub é grave, segundo o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara. “O Brasil não pode ter um ministro que mente sobre o seu currículo, que cria falsas informações no currículo Lattes. Porque o ministro da Educação, além de gerir a área, tem de dar exemplo”, afirmou.
O currículo Lattes é um currículo virtual mantido em uma plataforma online gerenciada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. As informações nele detalhadas incluem a formação em nível de graduação e pós-graduação, além de experiências na produção científica e acadêmica.
“Está claro que, comparando os antecessores mais próximos, a partir do governo de Michel Temer, os ministros da Educação são péssimos. Sem exceção, são ministros que não honram a pasta. Essa é a realidade”, disse Cara. “Mas concretamente, o ministro Decotelli, sucessor do Abraham Weintraub, que foi um desastre, já demonstra não ter condições de assumir a pasta, porque não tem nenhuma credibilidade. É preciso credibilidade para gerir uma área tão importante para o desenvolvimento do país.”
O episódio é visto pela União Nacional dos Estudantes (UNE) como mais um exemplo de falta de compromisso com as instituições, com a verdade e com a educação. No entanto, para a entidade, o anúncio de títulos acadêmicos que acabaram desmentidos não é o mais grave em relação ao possível novo ministro.
“Decotelli tem outro perfil. É diferente de Weintraub, que é mais ligado à turma terraplanista. É mais palatável, mais alinhado à política neoliberal de Paulo Guedes, de acabar com a universidade pública. O governo quer alguém para implementar seu projeto de privatização, de desmonte (do ensino público). Mas as primeiras medidas, como a agenda de cortes, assim como os ataques à autonomia universitária, não tiveram o êxito desejado porque houve muita resistência”, disse a vice-presidenta da UNE, Élida Elena.
A desconstrução do currículo do ministro começou na sexta-feira (26), um dia após o presidente Jair Bolsonaro apresentar seu escolhido para substituir Weintraub, destacando sua formação acadêmica. O reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, desmentiu o doutorado na instituição. Franco Bartolacci afirmou que a tese havia sido reprovada. E sem ela não há doutorado.
Universidade de Rosário desmente doutorado de ministro da Educação
No sábado (27), foi a vez de o mestrado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) ficar sob suspeita. O economista Thomas Conti publicou em seu Twitter a dissertação de Decotelli, comparando-a com um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), destacando diversos trechos idênticos entre a tese e o material publicado por aquele banco. No mesmo dia, a instituição comunicou que iria investigar o possível plágio.