por Vitor Nuzzi, da RBA
São Paulo – Com a perspectiva de maioria conservadora sólida no Congresso, caberá aos partidos de esquerda, se quiserem preservar direitos sociais, se unificar, superar possíveis traumas causados pelo impeachment e mostrar capacidade de diálogo com setores de centro. A análise é do diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, que identifica, neste momento, ampla base de apoio ao governo Temer, o que abre passagem para possíveis mudanças no sentido de flexibilização de direitos, tendo como face mais visível o projeto de lei (PLC 30) em tramitação no Senado sobre terceirização.
O rearranjo de forças na Câmara, neste momento, garante grande maioria governista. Toninho calcula que há uma "oposição consistente" de apenas 100 deputados, além de aproximadamente 50 independentes. Ficariam, em tese, mais de 360 prontos para votar a favor de propostas vindas do Executivo.
"Não há divergência na base do governo a respeito dessa agenda mais liberal", diz o diretor do Diap. "Há um governo monolítico, homogêneo, que tem uma pauta que ameaça conquistas. Antes (com Dilma) havia mais cuidado, mais parcimônia."
Mas o analista faz ponderações. "Você tem uma base ampla dos partidos de centro e centro-direita. Parte estava na base da presidenta Dilma, mas com perspectiva de poder. Agora, não há na oposição perspectiva de poder no curto prazo. Se você tinha antes uma esquerda mais flexível, que convivia com a direita, agora ela está sozinha na oposição e não tem de fazer concessão nenhuma", observa.
Os próximos passos exigirão diálogo. "Se a oposição, que agora é de esquerda, tiver capacidade de unificar os movimentos de resistência em torno dessa agenda e estabelecer algum tipo de relação com setores de centro, tem condições de engrossar esse movimento."
Ele prevê muita pressão, daqui em diante, para aprovar o projeto da terceirização. E faz alertas: o fato de ser um ano eleitoral não significa que os parlamentares ficam automaticamente mais sensíveis, e Temer foi relator da reforma previdenciária de Fernando Henrique Cardoso, além de coordenador, no atual governo, do "pacote de maldades" representado pelas medidas provisórias (664 e 665) que mexiam com benefícios previdenciários e trabalhistas.
Há ainda a questão do negociado sobre o legislado, um dos itens defendidos por entidades empresariais e que encontra resistência de todas as centrais. Mas Toninho lembra que, se aprovado, o projeto da terceirização, por si só, "dispensa qualquer reforma trabalhista".
Por isso, ele insiste na questão da unidade, inclusive entre as entidades sindicais, que tiveram posicionamentos diferentes em relação ao impeachment. "É preciso reduzir o tensionamento para ampliar o leque de aliados."