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São Paulo – A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) protocolou uma denuncia contra o presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro é acusado pelo crime de constrangimento ilegal, após ter ameaçado um jornalista. Mas pelas recorrentes agressões à liberdade de imprensa, a parlamentar disse que Bolsonaro “é um delinquente contumaz”. “Estou com vontade de encher a tua boca na porrada, tá?”, reagiu o presidente, neste domingo (23), ao ser perguntado por um repórter do jornal O Globo sobre os depósitos do ex-assessor Fabrício Queiroz – que somam R$ 89 – na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Já o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), por outro lado, afirmou que a ameaça de agressão do presidente configura crime contra o exercício de direitos individuais e improbidade administrativa. Ambos são considerados crimes de responsabilidade. A denúncia será acrescentada a um pedido de impeachment que foi apresentado pelo seu partido. A reação do presidente também provocou uma enxurrada de manifestações nas redes sociais. Desde ontem, já são mais de 1 milhão de manifestações que repetem a pergunta: “Presidente @jairbolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”. Até a manhã desta segunda-feira (24), os termos “Queiroz”, “Michelle”, “presidente” e “Micheque” e “R$ 89.000”, estavam entre os termos mais citados do Twitter.
Além disso, entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Repórteres Sem Fronteiras e a ONG Conectas também condenaram, em nota, a atitude do presidente.
Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a pergunta incômoda ao presidente deveria ocupar faixas, cartazes e outdoors.
Inúmeros artistas e personalidades também passaram a endossar o questionamento. Desde o cantor e compositor Caetano Veloso, passando pelo influenciador digital Felipe Neto, até a atriz Paola Oliveira, por exemplo, passaram a cobrar o presidente.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) acusa o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) de chefiar uma “organização criminosa” que desviava para suas contas pessoais os salários de assessores nomeados no seu gabinete, quando era deputado estadual. Da mesma forma, Queiroz é apontado como “operador” do esquema, conhecido como “rachadinha”.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), divulgado em dezembro de 2018, já havia identificado um depósito de R$ 24 mil de Queiroz na conta da primeira-dama. Foi esse documento, então, que deu origem às investigações do esquema, ao revelar “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão nas contas do ex-assessor.
Na ocasião, o então presidente eleito Jair Bolsonaro já havia agredido verbalmente um repórter, ao ser questionado: “Ô, rapaz, pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo?”. Por outro lado, Bolsonaro justificou o dinheiro recebido por Michelle como pagamento de parte de um empréstimo de R$ 40 mil feito por ele ao amigo Queiroz.
Ademais, no início de agosto, reportagem da revista Crusoé revelou que Michelle Bolsonaro teria recebido 21 depósitos em cheques do ex-assessor. Os pagamentos ocorreram entre 2011 e 2018, e totalizaram R$ 72 mil. Posteriormente, novas apurações apontaram que a mulher de Queiroz também havia repassado dinheiro para a primeira-dama, totalizando R$ 89 mil.