Os bancários iniciaram hoje (6) greve nacional em razão das dificuldades de obter, nas negociações, um reajuste que reponha a inflação dos últimos 12 meses e contemple a expectativa de aumento real, compatível com os lucros do sistema financeiro. Ante uma inflação acumulada de 9,88% de setembro do ano passado a agosto deste ano – a data-base da categoria é 1º de setembro – a proposta salarial da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para os salários se limita a 5,5% de reajuste, e de um abono pago uma única vez. Em meio a esse contraste entre a variação do custo de vida e a oferta patronal, uma notícia publicada hoje acrescentou tempero ao primeiro dia de paralisação: um estudo divulgado pelo portal iG (abaixo) revela que a maioria das instituições financeiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo prevê aumentar a remuneração fixa de diretores bem acima da inflação, em até 81%.
“Isso mostra que a generosidade deles é seletiva, eles são generosos com eles mesmos e são impiedosos com quem faz o dia a dia do banco, com quem realmente produz todo o resultado que o banco tem. Um bancário com o piso da categoria tem de trabalhar 17 anos da vida dele para poder ganhar o que o executivo de um banco ganha em um mês”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira.
“É uma disparidade que não tem cabimento, porque eles trabalham com dinheiro da sociedade, eles têm autorização do Estado para lidar com o dinheiro, então, isso tem de se reverter em ganhos para a sociedade e não para meia dúzia de diretores que trabalham nessas instituições”, afirma.
Frente aos problemas da economia, os bancos teriam de cumprir a sua responsabilidade social, gerar empregos, e eles não fazem isso, critica Juvandia. “Só o que eles ganham com tarifa bancária, que arrecadaram cerca de R$ 56 bilhões, eles contratariam 2,5 milhões de pessoas por um ano com salário de R$ 1,8 mil, que é a média do mercado de trabalho brasileiro. Se eles quisessem contribuir de verdade para a crise eles gerariam empregos e pagariam reajustes melhores para que o mercado interno se mantivesse aquecido.”
Segundo o levantamento, o Itaú Unibanco pretende destinar este ano a cada executivo um ganho líquido de R$ 984 mil, já descontado o repasse ao INSS. O valor não inclui bônus e outros prêmios variáveis conforme o desempenho das ações do banco no mercado de capitais. Dos 25 bancos que prestaram informações à Bovespa, 16 asseguram vencimentos superiores aos do ano passado e à inflação estimada para este ano. O maior reajuste, no Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal, ampliou as previsões, de R$ 577,8 mil para R$ 1,044 milhão para oito ocupantes de cargos de direção, que dividirão a soma de R$ 8,4 milhões.
Entre os bancos privados, o BTG estima gastar R$ 5,33 milhões com salários de diretores em 2015, com aumento de 41% sobre o ano passado. O Santander prevê aumento de 9,7% nas remunerações fixas, com ganho médio de R$ 2,575 milhões por diretor estatuário, fora os ganhos variáveis. Somadas, as 16 instituições que projetam reajustes acima da inflação têm pouco mais de um terço das agências bancárias do país.
No primeiro semestre deste ano, os cinco maiores bancos do país – Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Federal e Santander – tiveram lucro líquido de R$ 36,2 bilhões, resultado 18% superior, em média, ao mesmo período do ano passado. Os clientes participam generosamente desta conta, com o pagamento de tarifas e prestação de serviços. Segundo pesquisa divulgada ontem pela associação de consumidores Proteste, as tarifas cobradas pelos oito maiores banco do país nos últimos três anos subiram até 169%.
Fonte: Rede Brasil Atual