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Com mais de 188 mil infectados pelo novo coronavírus e 13.149 pessoas mortas pela covid-19, o Brasil ainda está em plena curva ascendente e, pelo que tudo indica, ainda longe de atingir o pico da pandemia. É o que acredita o médico epidemiologista e intensivista Otavio Ranzani, do Hospital das Clínicas de São Paulo, da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Em conferência online realizada nesta quarta-feira (13) pelo Jornal da USP, o especialista afirmou ser difícil situar com exatidão o Brasil na pandemia. “Alguns modelos epidemiológicos levam a gente a acreditar que alguns estados podem estar perto do pico de aceleração. Mas eu estaria sendo otimista. Se eu for realista, direi que a gente não está próximo do pico, mas na fase de aceleração ainda, infelizmente”, disse.
Pico é o momento em que o número de pessoas infectadas se iguala ao de pessoas curadas. A partir de então, a quantidade de pacientes recuperados começa a superar a de novos casos e a doença deixa de avançar.
De acordo com o epidemiologista, pesam na sua interpretação a questão da subnotificação dos casos, do subdiagnóstico (número baixo de testes comparado com o tamanho da população) e do movimento de interiorização do vírus, que já se espalha por áreas muito densamente povoadas das capitais e do interior do país.
Ou seja, o vírus já se multiplica por todos os cantos de maneira descontrolada, o que faz com que os dados confirmados e não confirmados podem ser de oito a 10 vezes maiores. Isso porque uma pessoa que pega a infecção leva cinco dias para começar a transmitir. E só depois de uma semana que foi infectada é que vai sentir febre e outros sintomas e entra em quarentena. Mas até aí já contaminou diversas outras, que contaminaram dezenas de outras.
“Então, quando se vê um dado referente a número de infectados, esse número já está atrasado em 10 dias. Ou seja, os dados estarão atrasados sempre 10 dias”, explicou.
Embora modelos matemáticos voltados à epidemiologia pareçam coisa de outro mundo e gráficos façam sentido somente para a ampla minoria das pessoas, eles têm ensinado que a subida da curva da pandemia de covid-19 tem velocidade muito maior do que a descida. Na Itália e da Espanha, o número de mortes na subida corresponde a um terço comparado ao da descida. Ou seja, depois que a pandemia atingiu seu pico nesses dois países, é que o número de mortos passaram a aumentar.
Segundo Ranzani, a informação trazida pelos picos, porém, têm utilidade limitada na medida que são diferentes em cada estado brasileiro, que depende de intervenções diferentes. “Com esse confinamento que vai e vem, a gente nunca chega no pico. Vive alimentando a expansão da epidemia. A pandemia é um momento muito delicado. O mundo parou por causa disso, e ao mesmo tempo há muita mentira, muita tentativa de desacreditar. Um dos primeiros passos para contê-la é justamente acreditar nela”, disse, em referência ao presidente Jair Bolsonaro.
Assista à íntegra da conferência, da qual participou também a professora Regina Flauzino, do Departamento de Epidemiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da diretoria da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).