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São Paulo – Para o diretor de redação da revista Fórum, Renato Rovai, é preciso rever o funcionamento das agências de checagem no Brasil. Ligadas a determinados grupos de comunicação, essas agências – ainda que o trabalho de checagem seja uma atividade necessária ao jornalismo –, esbarram em rotulagens de fake news por discordâncias editoriais. E a seletividade, por parte da agências de checagem, podem pôr risco a sobrevivência de determinados veículos, e privilegiar outros.
Na última quarta-feira (3), a revista Fórum foi incluída em uma lista elaborada pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News como um dos veículos que produz notícias falsas. O relatório foi elaborado por consultores externos, com base em pareceres dessas agências. O mal-entendido foi resolvido no dia seguinte e a revista, excluída da relação.
Cinco matérias foram apontadas como inverídicas. Mas, segundo Rovai, são julgamentos subjetivos, baseados em interpretações “imperiosas” e “absolutistas” realizadas pelas agências.
Um das matérias classificadas comofalsa afirmava que o papa Francisco havia enviado um terço ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando estava na prisão, em Curitiba. O veículo oficial do Vaticano acabou reconhecendo o envio. Ainda assim, as agências rotulavam a informação como inverídica. Divergências sobre estimativa de público de uma manifestação realizada em Curitiba, em favor da liberdade de Lula, também foi suficiente para ser rotulada como fake news.
Outro texto, com o título “The New York Times denuncia julgamento parcial e sem provas para ‘sepultar Lula'”, foi apontado como inverídico, pois se tratava de um artigo de opinião publicado no jornal novaiorquino, e não uma matéria. “A gente contestou, alegando que havíamos dito que era um artigo. Mas, segundo a agência, dá a entender no título que não é um artigo. Sendo um artigo ou não sendo, deu ou não deu no New York Times?”, questiona Rovai.
Em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (8), o diretor de redação da revista Fórum destaca que essas mesmas agências não checam as produções do veículos a que são vinculadas. A Agência Lupa, por exemplo, tem ligação com a revista Piauí. O E-Farsas é ligado ao portal R7, do grupo Record. “O R7, que produz coisas bizarras, tem uma agência de checagem. Somos checados por eles, que não checam as empresas para as quais trabalham. Deveria ser ao contrário,”
Segundo Rovai, os sites especializados em fake news não têm CNPJ, nem editor responsável. O que dificulta serem acionados judicialmente. “Eu tô aqui dando a cara a tapa. Os processos chegam. Eu discordo da cobertura da Gazeta do Povo, por exemplo. Acho que, em alguns momentos, resvalam na fake news. Mas você pode lidar com eles na Justiça. Se cometeram um exagero ou me difamaram, vou lá e processo. Se for combater fake news com censura, dessa forma estúpida, vai levar o país a um dos piores momentos da sua história”, alertou o jornalista.
Em nome da isenção, ele defende que essas agências de checagem deveriam ser ligadas a universidades, centros de excelência ou entidades da sociedade civil. “Dois consultores legislativos podiam ter encerrado a vida de um veículo de 19 anos. É um tipo de censura padrão. Isso pode, isso não pode. Esse é limpinho, aquele é mal-cheiroso”, afirmou.
Ele lembra que veículos da imprensa tradicional já publicaram conteúdos inverídicos graves e não foram punidos. Foi o caso da Folha de S.Paulo, que publicou, em abril de 2009, uma ficha falsa do Dops da então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. Ou ainda as constantes acusações da revista Veja contra integrantes do PT, que nunca foram comprovadas.