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16 de Dezembro de 2015 às 23:00

A noite em que 20 mil gritaram #NãoVaiTerGolpe em Brasília


Crédito: CUT/BRASÍLIA

Brasília - Adília Lopez, de 67 anos, advogada, foi uma das milhares de brasileiras que se somaram à marcha em defesa da democracia e contra o ajuste fiscal realizada em Brasília, nesta quarta-feira (16). Acompanhada das netas gêmeas de 10 anos, ela fez questão de mostrar a camisa vermelha estampada com a figura do líder da Revolução Cubana, Che Guevara, e contar sua história de luta em defesa da democracia e dos direitos do povo. Em meio à multidão que reuniu cerca de 20 mil pessoas na capital do país, a senhora que se deleitava com a grandiosidade da manifestação disse que estar nas ruas neste 16 de dezembro é “dar seguimento à nossa história de luta”.

“Vi meu pai ser fuzilado durante a ditadura. Eu tinha nove anos, e a partir daí eu decidi lutar por um mundo melhor. Eu sou da geração da Dilma. Eu lutei, fui da guerrilha, apanhei da ditadura militar, fui presa, exilada, voltei e estou aqui firme e forte. Meu propósito é que a democracia se mantenha. A gente lutou pela democracia. Lutamos para ter a livre expressão do pensamento, e ninguém pode destruir o que fizemos durante essas décadas”, se emocionou dona Adília ao lado das duas netas.


A vontade de mudar o Brasil, de garantir e aperfeiçoar a democracia e também de cobrar mudanças na atual política econômica, que prejudica a classe trabalhadora e os mais pobres, foi compartilhada pelos outros manifestantes que se concentraram nesta quarta-feira (16), a partir das 16h, no estacionamento do estádio Mané Garrincha. “Nós queremos a mudança da política econômica do país. A política do Brasil tem que respeitar a democracia e encaminhar mudanças necessárias para que o Brasil continue crescendo”, discursou o secretário-geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.

Entre falações, cantos, batucadas e muita disposição de luta, trabalhadores do campo e da cidade, estudantes, integrantes de movimentos sociais, também pediram a saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acusado de ser um dos mandantes de grandes esquemas de corrupção. Mesmo com a “ficha suja”, Cunha acolheu o pedido de impeachment contra a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e vem jogando pesado para que a ex-combatente da ditadura, eleita pela vontade popular nas urnas, seja destituída da principal cadeira do Executivo Federal.

“Não aceitamos mais o deputado Cunha. A CUT e as demais entidades da sociedade exigem a imediata saída dele da presidência da Câmara. Não vai ter golpe! O povo na rua mantém a democracia”, discursou o dirigente da CUT, Ismael José César. “A democracia brasileira é jovem e nós precisamos amadurecê-la. A classe trabalhadora lutou muito para chegar aqui e não vamos deixar isso ser em vão, não vamos deixar ter golpe. Somente em uma democracia a classe trabalhadora tem direitos e pode fazer parte do poder”, completou a dirigente nacional da CUT, Graça Costa.

“Os trabalhadores têm que entender que a defesa da democracia é de fundamental importância para toda a sociedade. Querem utilizar o golpe, como fizeram no Paraguai, no Brasil, em 1964. Entretanto, não podemos confundir a defesa da democracia com a nossa insatisfação com a política do ministro Levy (Joaquim Levy, da Fazenda) e contra o ajuste fiscal”, lembrou o secretário de Formação da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimento de Crédito – Fetec Centro/Norte, Jacy Afonso.

Kaety Hellei Costa, do Levante Popular da Juventude, compartilha do mesmo pensamento do dirigente sindical. “A juventude acredita que não pode haver golpe. Fomos às ruas para eleger Dilma e ela foi eleita com um programa favorável à classe trabalhadora, aos movimentos sociais. E a gente acha que ela tem que ficar. Mas a gente também acha que ela deve mudar a política econômica que ela vem aplicando, uma política que traz retrocesso para a classe trabalhadora e ganhos para a burguesia. A gente também está aqui para dizer ‘Fora Cunha’, ele que é o ícone da corrupção no nosso país. E é ele que está encabeçando todo esse golpe”, afirma. “Em nome da CUT, convocamos todos os jovens a se unirem a e esta luta e dizer não ao golpe”, convoca a secretária de Juventude da CUT Brasília, Maria do Socorro Santos.

Ao contrário das “minifestações” realizadas no ultimo dia 13 de dezembro por setores conservadores que pedem a saída de Dilma (e chegam a clamar pela volta da ditadura), aqueles que vestem a camisa vermelha e trazem no peito o verde e amarelo da bandeira do Brasil deram uma lição de organização e mobilização. Para o dirigente da CUT Nacional, Pedro Armengol, este é o resultado da “conscientização da classe trabalhadora, que já entendeu que há um golpe sendo implementado”.

“Temos que defender a democracia. Uma democracia conquistada com muita luta, muito suor, muito sangue. E hoje, esses setores (reacionários) querem manipular nossa realidade com o uso da grande mídia, sob a desculpa de uma crise política e econômica, que não é só no Brasil. Sem nenhuma justificativa, eles querem dar um golpe não só contra o governo, mas contra os trabalhadores, contra a sociedade; querem entregar o Estado brasileiro ao grande capital, diminuir direitos dos trabalhadores para proporcionar uma grande massa de explorados”, analisa Armengol.

Segundo a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), a multidão que tomou as ruas da capital federal, ação reproduzida na mesma proporção em vários estados brasileiros, tem na luta o meio mais eficiente para defender a dignidade. “A democracia é cara para todos aqueles que têm os direitos violados: os negros, as mulheres, os jovens, os LGBTs, os excluídos”, afirma.

Após marcharem cerca de 5 Km, os manifestantes que deram corpo à manifestação em defesa da democracia e contra o ajuste fiscal nesta quarta-feira (16) ocuparam o gramado do Congresso Nacional e finalizaram o ato marcando mais um dia histórico para o Brasil em que o povo gritou que não vai aceitar outro golpe, não vai aceitar retrocesso e vai lutar para construir um país mais justo e igualitário.

Fonte: CUT Brasília


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