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23 de Julho de 2018 às 16:00

Fake news para agradar banqueiro


César Fonseca
Blog Independência Sul-americana

Qual peso maior na formação do lucro dos bancos hoje no Brasil: a especulação sobre a dívida pública mediante juros especulativos ou o consumo insuficiente da população que paga juro de agiota no cartão de crédito, cuja taxa no especial alcança mais de 350% ao ano, forçando aumento da inadimplência, especialmente, com avanço do desemprego produzido pela recessão neoliberal?

Até o Supremo Tribunal Federal considerou absurda agiotagem os lucros dos bancos, taxando-os de anatocismo, crime contra economia popular, juros sobre juros, condenados pela súmula 121.

Evidentemente, não é crível que o crédito artificialmente escasso e caro para as pessoas físicas, por conta dos spreads absurdos cobrados, mesmo com redução do juros selic, seja o motor dinâmico da lucratividade bancária, se a renda disponível para o consumo, com o congelamento neoliberal,  diminui, criando ambiente econômico dominado pelo subconsumismo, resultado do desemprego e arrocho salarial, que acompanha redução da oferta de emprego, fator de achatamento da renda social.

Voz do mercado especulativo

A manchete do Valor Econômico, porta voz do mercado financeiro, é puro fake news.

Tenta, em tempo eleitoral, criar imagem positiva dos banqueiros, odiados pela população, pela prática da agiotagem bancária: juros altos, reajustes dos serviços de forma abusiva, cobranças ilegais de tarifas, juridicamente, contestadas na justiça etc.

A cadente renda disponível para o consumo decorrente do congelamento neoliberal seria suficiente para garantir lucratividade bancária em escala especulativa?

Fortalece ou enfraquece consumo interno?

Aumenta ou diminui crédito para pessoa física sustentar lucros abusivos de 20% ao ano, superior 8 vezes à inflação cadente por conta da recessão?

Não seria razoável supor que salários desvalorizados pela recessão e pela reforma trabalhista, que aumenta poder do capital sobre o trabalho, na vigência da regra do negociado preponderar sobre o legislado, seja motor contínuo mais importante para garantir lucratividade especulativa bancária.

É forçar demais a barra para apresentar o mercado especulativo como bonzinho, para atenuar sua imagem de carrasco da população, com a agiotagem desenfreada, no compasso do desemprego, de 13 milhões de pessoas, mais 30 milhões de desocupados pela recessão neoliberal anticapitalista.

Imagem retocada

Em tempo de eleição, a banca cuida de melhorar sua imagem de agiota, para se tornar palatável àqueles que são, praticamente, escalpelados, no ano inteiro, por ela, através da cobrança cada vez mais cara da mercadoria mais valorizada no mercado capitalista: o dinheiro.

Quem lê Gillian Tett, autor de “Ouro dos tolos”, que retrata a migração dos lucros dos bancos da área comercial para a financeira, dando lugar aos derivativos de créditos, a partir dos anos 1980, responsáveis pelo crash de 2008, entende porque é fake news a manchete do Valor Econômico, nessa sexta feira.

Na prática, não discutida pela grande mídia, porta voz do mercado financeiro, o absurdo lucro dos bancos tem sua alavancagem na especulação a partir do Orçamento Geral da União(OGU).

40% do seu total de R$ 2,7 trilhões, realizado no ano passado, são destinados ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública.

Os bancos estão protegidos, constitucionalmente, contra qualquer ajuste fiscal,  qualquer congelamento/contingenciamento neoliberal, conforme determina art. 166, § 3º, II, letra b, da Constituição.

Arte de mentir

Já os 60% das verbas orçamentárias não financeiras restantes, que atendem o universo das despesas sociais – saúde, educação, segurança, infraestrutura etc – estão sistematicamente congelados/contingenciados, pelo governo golpista, por 20 anos.

Arrocho para os assalariados; afrouxamento para a especulação.

A renda congelada disponível para o consumo(60%) é necessária para sobrar renda descongelada para agiotagem financeira.

O gasto não financeiro que gera desenvolvimento é congelado, para multiplicar o gasto descongelado financeiro, que esteriliza as forças produtivas em geral.

Nesse contexto, é irreal, como canta a manchete do Valor/Globo, que “Crédito para pessoa física sustenta lucro dos bancos”, simplesmente, porque ele é insuficiente para garantir rendimentos de 20%, quase 8 vezes o tamanho da inflação.

A inadimplência atinge, nesse momento, mais de 60% dos consumidores endividados no crediário mais caro do mundo.

No ambiente da globalização midiática, a “verdade” manchetada fabrica a opinião publicada dominante, que multiplicada, dia e noite, vira verdade, sem, entretanto, corresponder à realidade.

Descompasso total entre “verdade” e realidade, no fake news econômico escancarado.

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César Fonseca é repórter de política e economia, blogueiro e editor do Independência Sul Americana


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