Brasília - Em defesa da soberania nacional, dos direitos e do emprego, bancários e bancárias de Brasília se somaram a milhares de trabalhadores de outras categorias durante grande ato convocado pela CUT e demais centrais sindicais. Na manhã desta quarta-feira (30), a classe trabalhadora do DF e de outros estados fez ecoar na Esplanada dos Ministérios que haverá luta contra qualquer investida sobre o patrimônio do povo brasileiro.
A defesa das empresas públicas e, principalmente, dos bancos públicos, foi uma das bandeiras levantadas pelos parlamentares e pelos movimentos sociais e sindical, tendo em vista a importância dessas instituições para o desenvolvimento do país. O ato nacional foi organizado em menos de um mês, demonstrando o poder de organização e a força dos trabalhadores na luta em defesa dos direitos.
Presidente do Sindicato, Kleytton Morais afirmou que “não se faz soberania, que se refere também à inclusão do povo no orçamento, sem as empresas estatais. Do ponto de vista do espectro mundial, temos a China, grande potência, com 55 mil empresas estatais. Grande referência do liberalismo e deste governo, os Estados Unidos contam com 7 mil empresas estatais”.
De acordo com Kleytton, a classe trabalhadora está agindo de forma acertada ao defender o patrimônio público por se tratar de reservas estratégicas. “No caso dos bancos públicos, são eles os responsáveis por impulsionar e aquecer a economia”, reforça o bancário do BB.
“O recado está dado: a classe trabalhadora não aceitará os ataques deste governo aos nossos direitos. O movimento sindical entende que o acesso à educação é fundamental para a classe trabalhadora formar seus filhos e filhas; que as riquezas naturais são importantíssimas para fomentar o desenvolvimento do Brasil e para a distribuição de renda para os trabalhadores e que a política econômica deste governo não atende essas exigências”, declarou o professor e secretário-geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.
Para o bancário Peppe Amaril, de São Paulo, “a defesa dos bancos públicos tem que estar na ordem do dia. Não existe desenvolvimento neste país, nem agricultura, nem comida na mesa do trabalhador ou infraestrutura sem a interveniência dos bancos públicos, especialmente Banco do Brasil, Caixa e BNDES. Os neoliberais têm um mito de que basta privatizar que tudo acontece, mas a história do Brasil diz exatamente o contrário”.
Do alto do carro de som, a deputada federal e bancária aposentada da Caixa Erika Kokay (PT-DF) discursou em defesa do patrimônio público e contra o desgoverno de Jair Bolsonaro. “As empresas públicas são do povo brasileiro, não pertencem a esta quadrilha que se instalou no Palácio do Planalto. Quadrilha esta que não consegue esconder sua relação com a milícia e que acha que tem o direito de dizer que, se tiver manifestação, vai colocar a polícia nas ruas, repetindo a experiência do golpe militar de 64”, enfatizou a parlamentar. “A história das empresas públicas está grudada no povo brasileiro”, finalizou.
Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), que coordenou no dia anterior o Seminário Nacional em Defesa dos Bancos Públicos e Soberania Nacional, realizado no Sindicato, reiterou a necessidade da unidade da luta entre as categorias de trabalhadores e reforçou que a sociedade precisa questionar a política econômica adotada pelo governo.
“O que o povo quer é renda, emprego e não a precarização e a entrega do patrimônio público, as pesquisas mostram isso. Só com empresas públicas fortes, com política de investimento do governo é que isso vai acontecer. Esta política que o governo Bolsonaro está praticando é a mesma já adotada no Chile e o resultado foi desastroso, com a população empobrecida, altos índices de suicídio e de pessoas em situação de rua”, contextualiza a bancária.
Carta aberta
Durante o ato foi distribuída uma carta à população explicando os motivos da mobilização. Confira a íntegra da nota abaixo.
CARTA ABERTA AO POVO BRASILEIRO
Nós, brasileiros e brasileiras, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, mulheres, jovens, negros e negras, construtores e construtoras do movimento sindical e das lutas populares do nosso país, nos mobilizamos nesta quarta-feira, 30 de outubro de 2019, nas ruas da capital federal, para manifestar nossa indignação com o governo Jair Bolsonaro e sua política econômica que agrava a crise econômica, não gera empregos, ataca nossos direitos sociais e a soberania do nosso país.
As ações e as reações do governo – e a falta delas – só fazem piorar a situação do povo brasileiro. A economia não cresce. Os desempregados já são 12,6 milhões. Somando desempregados, trabalhadores desalentados e aqueles que só conseguem trabalhos com jornadas parciais, o Brasil tem hoje 27,8 milhões de trabalhadores subutilizados.
A desigualdade social só aumenta. O 1% mais rico do país, que são 2,1 milhões de pessoas, ganham 34 vezes mais do que os 104 milhões de brasileiros que compõem a metade mais pobre da população. Os rendimentos dessa parcela mais rica cresceram 8%, enquanto o dos mais pobres caiu 3%. De toda a renda do Brasil, 40% estão nas mãos de apenas 10% da população, dados que revelam recordes históricos de desigualdade.
Temos um governo que assiste e promove a destruição do país. O ano iniciou com mais um crime da Vale, matando 251 trabalhadores em Brumadinho e vemos, até agora, a inércia do Estado na responsabilização e punição dos envolvidos. Assistimos, depois, a escalada criminosa das queimadas na Amazônia e, agora, o óleo que mancha e polui o litoral do Nordeste sem que o presidente Bolsonaro se digne sequer a visitar a área. É sempre o lucro acima da vida.
Não podemos mais aceitar que o povo trabalhador seja tratado como responsável por essa crise, como querem Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Para eles, a “solução” é tudo para os ricos e patrões e a destruição, o corte e a comercialização dos direitos da maioria do povo. Assim foi com a reforma da Previdência, com os cortes na educação, o congelamento dos investimentos sociais e as propostas de reforma administrativa, tributária e de mais cortes nos direitos dos trabalhadores.
Como se não bastasse todo esse retrocesso e inércia, Bolsonaro e Paulo Guedes colocam o Brasil à venda. Querem liquidar nosso patrimônio, vendendo empresas públicas lucrativas, estratégicas, que são motivo de orgulho para os brasileiros. Entregam nosso futuro planejando o leilão das nossas reservas de petróleo e minando a capacidade de nossas universidades produzirem pesquisa, ciência e tecnologia. Entregam nossa soberania e, com ela, destroem nossa capacidade de projetar um desenvolvimento econômico e social independente e de superar mais essa crise.
Com essa agenda de retrocessos, não espanta a baixa popularidade do governo. O presidente e seus ministros(as) fazem o brasileiro passar vergonha internacional em todas as oportunidades, alinhando-se ao que há de mais atrasado na política internacional. A prática e o discurso de Bolsonaro são fontes de ódio e ataques à diversidade, às mulheres, à população negra, LGBT e a todos/as que lutam por seus direitos.
Frente a esse cenário sombrio, o povo brasileiro está desafiado a resistir e enfrentar esses ataques nas ruas, como fazem nossos irmãos do Chile e do Equador. Na Argentina, o povo já disse basta a esse neoliberalismo autoritário e fracassado. Na Bolívia, Colômbia e Uruguai, quando a democracia é respeitada, o povo escolhe o caminho do desenvolvimento com paz, inclusão social e integração regional. Nos solidarizamos e nos somamos à resistência latino-americano contra um projeto de saque das nossas riquezas e exclusão dos povos da nossa região.
Esse caminho da exclusão não nos representa, assim como Bolsonaro, Paulo Guedes e aqueles que apoiam no Congresso esse governo e sua política. Defendemos e lutamos pelas alternativas que façam do governo parte da solução dos problemas dos brasileiros. Nos comprometemos a dialogar com a classe trabalhadora e todo o povo brasileiro em torno das alternativas que estimulem o crescimento econômico e a geração de empregos de qualidade, garantam nossos direitos, promovam a justiça social e se comprometam com a soberania e a democracia no Brasil.
Chega de Bolsonaro e Paulo Guedes!
Brasília, 30 de outubro de 2019
Frente Brasil Popular
Frente Povo Sem Medo
CUT
Força Sindical
UGT
CTB
CSB
Intersindical
Joanna Alves, do Seeb Brasília, com informações da CUT Nacional e CUT Brasília