Durante o primeiro encontro nacional dos seringueiros, em outubro de 1985, deu-se a primeira proposta da criação da União dos Povos da Floresta. Extrativistas, ribeirinhos, quilombolas e indígenas reuniram-se para defender territórios de madeireiros e grileiros. À frente dessa organização estava o ambientalista Chico Mendes, que não chegou a ver nenhum dos territórios conquistados, até sua morte, em 1988.
Agora, mais de 500 lideranças indígenas reuniram-se na aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto-Jarina, em Mato Grosso, para reativar os compromissos em comum. O movimento foi liderado pelo Cacique Raoni e com muitas das lideranças participantes do movimento da década de 1980, que garantiu a participação dos povos da floresta na constituinte pós-redemocratização.
Julio Barbosa, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), esteve na primeira reunião e também nesse encontro de 2020. Para ele, apesar das conquistas na demarcação de territórios, a retomada da aliança faz-se necessária pelas ameaças impostas pelo governo Bolsonaro.
“A luta de 40 anos atrás era pelo reconhecimento do território e, agora, é para a gente preservar o nosso legado. A quantidade de terras em conservação que estão reconhecidas e demarcadas é muito grande. É uma conquista enorme dos povos da floresta e não podemos deixar isso ser destruído”, afirmou, em entrevista à repórter Juliana Almeida, da Rádio Brasil Atual.
Em um documento oficial do encontro dos povos indígenas do Xingú, a aliança reafirma o comprometimento com a população indígena do país e não só a região Norte, como diz o presidente da CNS. “Estamos deixando claro que, diferente de 1989, quando estávamos olhando para a Amazônia, estamos ampliando nossa luta para outros biomas, que também estão ameaçados. O Serrado, o Pantanal e a Caatinga fazem parte da nossa luta e precisamos ter uma agenda comum”, acrescenta Julio.
Segundo Ângela Mendes, filha de Chico Mendes e coordenadora do Comitê Chico Mendes, a aliança é parte da resistência pela existência desses povos. “A importante de existir essa aliança se dá pelas ameaças nos territórios tradicionais. Trinta anos depois de tantas conquistas, chegamos num momento em que não conseguimos mais avançar e precisamos garantir o que já conquistamos até aqui”, explica.
Ela ainda comenta que a luta da aliança ultrapassou a pauta de sua reunião contra madeireiros e grileiros, passando a ser também contra o governo. “Hoje, dentro do cenário político, a retomada da luta é mais do que necessária. Precisamos ter novas estratégias, porque temos como adversário não só os fazendeiros, mas o governo também.”
Para Mário Nicácio, indígena do povo Wapichana, de Roraima, a retomada da aliança vai além da demarcação territorial e engloba a garantia de que os indígenas também tenham direitos assegurados. “É defender as políticas conquistadas na Constituição Federal, que fala sobre saúde, educação e atividades sociais, mas correm risco com o governo Bolsonaro. A bandeira de luta ainda é forte”, disse.
Fonte: Rede Brasil Atual