Valor Econômico
Assis Moreira,de Genebra
O sistema bancário paralelo ("shadow banking"), ou intermediários de crédito fora do sistema bancário tradicional, alcançou cerca de US$ 1 trilhão em 2013 no Brasil, sendo o terceiro maior entre os emergentes, mostra relatório do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês).
O segmento inclui fundos de hedge, corretoras, fundos de investimentos, fundos de private equity, veículos especiais de investimentos, fundos de pensão, instituições focadas em crédito hipotecário e outras. A avaliação é que esses intermediários podem contribuir para o financiamento da economia real, mas também se tornar fontes de riscos sistêmicos quando estão estruturados para atuar como bancos e quando sua interconexão com o sistema bancário tradicional é forte.
O FSB publicou ontem o quarto relatório de monitoramento do segmento, cobrindo mercados que representam cerca de 80% do PIB global e 90% dos ativos do sistema financeiro mundial. O objetivo é detectar se há aumento de riscos sistêmicos, como maturidade, alavancagem e outros itens, que poderiam resultar em rápida expansão do crédito fornecido por esse segmento.
O relatório constata que o sistema paralelo cresceu US$ 5 trilhões em 2013 e alcançou US$ 75 trilhões. Em termos absolutos, os países desenvolvidos têm a maior fatia do segmento, enquanto os mercados emergentes tiveram a maior taxa de crescimento, mas saindo de base relativamente baixa. Entre os intermediários que mais cresceram, estão "trust companies", com alta de 42% no ano, e outros fundos de investimentos, com 18%.
Os ativos do sistema paralelo aumentaram de 24% para 25% do total dos ativos financeiros globais. Já a fatia dos ativos dos bancos tradicionais declinou pelo segundo ano, para 46%. Os ativos totais incluem também bancos centrais, seguradoras e fundos de pensão.
No Brasil, o tamanho do sistema bancário paralelo é equivalente a mais de 20% dos ativos financeiros totais, cerca de metade dos ativos do sistema bancário tradicional e a 54% do Produto Interno Bruto (PIB). Os ativos do sistema bancário regular representam 101,5% do PIB.
O Brasil tem pouco mais de 1% dos ativos do sistema paralelo globalmente, comparado a 2% no caso da Coreia, 4% da China, 33% dos Estados Unidos e 34% da zona do euro.
Os ativos do sistema bancário paralelo no país cresceram 7% em 2013, ante 18,5% de expansão registrada em 2012. Ficou em linha com os 7% da alta mundial, enquanto na Argentina esse segmento - nem sempre regulamentado como o sistema bancário regular - cresceu 50,3% e na China 33,5%.
Desta vez, o FSB apresenta duas medidas: a mais restrita, que dá mais peso e considera como realmente "shadow banks", aponta ativos de US$ 998,2 bilhões no Brasil. A outra, mais ampla, captura também intermediários não bancários que podem trazer riscos potenciais para o sistema bancário, e, nesse caso, adiciona US$ 122,4 bilhões de ativos, totalizando US$ 1,120 trilhão no país.
O Brasil é um dos mercados onde o sistema paralelo tem vínculos importantes com os bancos locais, sobretudo por meio de fundos de investimentos. "As conexões diretas [dos intermediários não bancários] com o setor bancário são fortes no Brasil, Chile e Estados Unidos, onde têm um papel relevante no funding dos bancos", diz o FSB.
Mark Carney, presidente do FSB, diz em comunicado que a entidade quer reforçar a vigilância e a regulação do "shadow banking", para transformá-lo em fonte de financiamento mais transparente, resiliente e sustentável para a economia real.
Durante a crise global deflagrada em 2008, os "shadow banks" captavam recursos no curto prazo, operando com enorme alavancagem, investindo em ativos de longo prazo e iliquidez. Mas, ao contrário dos bancos tradicionais, foram poucos não supervisionados, ficando sem reserva de capital ou acesso aos seguros de depósitos, sem operações de redesconto e sem financiamento de última instância dos bancos centrais.
Companhias de seguro e caixas de pensão não estão incluídas na medida do FSB sobre sistema bancário paralelo, mesmo que estejam crescentemente ativas na intermediação de crédito - em alguns casos expandindo atividades de financiamento tradicionalmente feitas por bancos, conforme a entidade. Os ativos globais desses dois segmentos alcançaram US$ 54,8 trilhões em 2013. Os fundos de pensão cresceram no ritmo mais rápido desde 2009, com taxa de 8% na média anual comparada a 6% para as seguradoras.
Pelos dados do FSB, no Brasil os ativos dos fundos de pensão alcançaram US$ 312,2 bilhões e os das companhias de seguro US$ 236,5 bilhões em 2013.