Pesquisa do Dieese também aponta dificuldades de implementação de ações de combate ao racismo, misoginia, e preconceito contra jovens, deficientes e LGBTs
Escrito por: Henri Chevalier e William Pedreira - CUT Nacional
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou nesta terça (29), durante a 14ª Plenária Nacional da CUT, uma pesquisa que delineia o perfil dos dirigentes da CUT (Nacional, Estaduais e Ramos) e as políticas implementadas para o combate ao preconceito. O perfil majoritário é masculino (62,2%), heterossexual (98,3%), negro (65,8%), não jovem (89,1%) e sem deficiência física (95%). Quando o recorte é a CUT Nacional, 59% são homens, 92% não são jovens e 51% são negros.
CONFIRA A PESQUISA APRESENTADA
A pesquisa, uma demanda do último Congresso da CUT como forma de criar condições para estabelecer políticas de enfrentamento ao preconceito, foi realizada entre 24 de fevereiro a 21 de março de 2014, com 1024 telefonemas para todo o Brasil. Foram entrevistados 85% dos dirigentes estaduais e nacionais da Central.
Mulheres
Segundo o Dieese, as mulheres representam 37,8% dos dirigentes, enquanto os homens somam 62,2%. A secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva, destaca o aumento da participação feminina nas instâncias de poder CUTistas, mas lembra que a paridade de gêneros, deliberação do último Congresso da CUT, será implementada apenas em 2015. A pesquisa apontou que 44% das entidades de base dos dirigentes da CUT têm cotas para mulheres. Entre essas, 58% tem 30% de mulheres na direção e 13% tem 50% de vagas destinadas a elas.
Rosane aponta, também, a necessidade de extrapolar os limites sindicais na discussão sobre o machismo. "Um dos temas discutidos nas Plenárias é a CUT assumir uma pauta feminista, não apenas da mulher trabalhadora. É tratar a questão das mulheres na sociedade como um todo. A CUT, por exemplo, foi a primeira a discutir a questão do aborto, antes de várias entidades. E lutar pela descriminalização do aborto é deliberação da CUT desde 1991. No último Congresso, tivemos o debate da paridade, valendo para 2015. Estamos avançando", afirmou. Para a secretária, os dados do Dieese demonstram que a CUT tem política para mulheres, mas esse é um processo longo de luta.
Negros
Os negros são maioria. E, apesar desse quadro, o debate sobre o preconceito, tema que entrou na pauta da CUT nos anos 1980, ainda não foi suficiente para acabar com a discriminação. "Mesmo com todos os avanços, observamos que o combate ao racismo precisa se tornar uma política. O problema não é a participação de negros e negras na Central. Precisamos fazer com que o combate ao preconceito não seja uma tarefa apenas da Secretaria de Combate ao Racismo. A política precisa ser uma política do conjunto da direção e dos militantes da CUT", disse a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira.
Jovens
Os dirigentes com até 35 anos representam 10,9% dos dirigentes da CUT. As pessoas entre 40 e 59 anos são maioria (73,4%). As maiores dificuldades de implementação de políticas para a juventude apontadas pelos entrevistados são a falta de interesse dos jovens em participar do sindicato (41,5%), falta de interesse da entidade (35,3%) e falta de representatividade dos jovens na categoria (16,8%). As políticas mais implementadas são eventos, debates e encontros sobre a questão dos jovens (61,1%) e formação para o exercício da representação sindical (43,7%).
Alfredo Santos Jr., secretário Nacional de Juventude da CUT, destacou que o histórico de lutas na Central está sendo reconhecido na nova pesquisa, mas, para aumentar a participação jovem, é preciso compreender as novas demandas sociais. Para ele, ao invés de perguntar como atrair os jovens para os sindicatos, é preciso discutir como fazer com que as organizações abracem os temas da juventude. "A atuação da CUT, quando passa a discutir políticas e conteúdo para juventude, supera a forma recreativa de atrair jovens. Antes, apontavam futebol, videogame, etc. Agora apontam seminários", destaca.
Deficiência
No recorte de deficiência física, 95% dos dirigentes não possuem. A ação destacada pelos entrevistados para incluir pessoas no quadro de direção é o cumprimento de cotas legais (59,2%). Para Expedito Solaney, secretário Nacional de Políticas Sociais da CUT, a pesquisa é uma ferramenta de trabalho para as próximas direções, que podem usá-la para conceber políticas de inclusão mais efetivas. "Para mim, o que fica é que a CUT tem trabalhado no combate aos preconceitos e que os sindicatos precisam reproduzir o que a Central e as Estaduais fazem", destaca. Solaney lembra também que há o Coletivo Nacional de Trabalhadores com Deficiência da CUT, atuante nas questões da categoria.
LGBT
Os dirigentes que se autointitulam heterossexuais são 98,3%, os homossexuais são 1,1% e bissexuais são 0,6%. Segundo a pesquisa, o maior problema na implementação de políticas de afirmação é a falta de interesse da direção 39,4%.
Segundo a supervisora das pesquisas sindicais do Dieese, Vera Lúcia Mattar Gebrim, a intenção inicial da pesquisa era abordar a totalidade dos dirigentes da CUT, que são mais de 1000. "A primeira etapa foi cumprida e bastante satisfatória. A ideia é estender essa primeira etapa aos demais dirigentes".
Fortalecer as ações da CUT
O final do segundo dia da Plenária foi reservado para o lançamento das campanhas e publicações da CUT.
A primeira apresentação esteve relacionada à campanha permanente pelo combate ao racismo. Na presença de dirigentes dos ramos que integram a campanha, a secretária Nacional de Combate ao Racismo, Maria Julia Nogueira, afirmou que “a luta contra a discriminação racial deve ser feita todos os dias e não somente no trabalho, mas na vida.”
Já Alfredo Santos Jr., secretário nacional de Juventude, lançou oficialmente a 3ª edição da revista da Juventude da CUT cuja temática é “as negociações sindicais no campo e na cidade”.
A publicação reúne pesquisas, dados e normas para convenções coletivas no tema da juventude. “Os jovens têm consciência política e as manifestações de junho mostraram sua disposição em participar da política. Nosso desafio é compreender a dinâmica de como o movimento sindical faz para incorporar as demandas da juventude”, ressaltou.
Por fim, ocorreu também o lançamento do filme ‘CUT pela base’ que narra a história de fundação da Central Única dos Trabalhadores. O negativo com as imagens estava na Cinemateca e após um intenso trabalho de recuperação promovido pelo Cedoc (Centro de Documentação e Memória Sindical da Central Única dos Trabalhadores) consolidou-se mais um material com o registro histórico da CUT.