Carolina Mandl e Talita Moreira
Valor Econômico | De São Paulo
O Itaú Unibanco deu ontem a mais clara sinalização de que quer se consolidar como um banco latino-americano. Em sua maior transação já feita fora do Brasil, a instituição unirá suas operações no Chile e na Colômbia com o CorpBanca, da família chilena Saieh.
Sem envolver desembolso de recursos, a transação dará origem ao Itaú CorpBanca, um banco com US$ 43,4 bilhões em ativos no Chile, equivalente a uma instituição do porte do Votorantim, nono maior banco brasileiro.
É dessa nova instituição que o Itaú Unibanco terá uma participação de 33,58%, o que dará ao banco brasileiro a posição de maior acionista individual. Aos Saieh caberá uma fatia de 32,92%, enquanto os minoritários ficarão com 33,5%.
"A operação vem coroar nossa estratégia de nos consolidarmos como um banco líder na região da América Latina", disse Ricardo Villela Marino, vice-presidente do Itaú Unibanco e responsável pela internacionalização desde abril de 2011. Além de Chile e Colômbia, o Itaú já tem bancos no Paraguai, no Uruguai, na Argentina, na Colômbia, um incipiente negócio de cartão de crédito no México, país em que pretende abrir uma corretora neste ano. Somados, esses negócios representavam US$ 19,9 bilhões em ativos antes da transação com o CorpBanca.
Um acordo de acionistas fechado com a família controladora do CorpBanca garantirá ao Itaú Unibanco o controle do novo banco, que nasce como o quarto maior banco chileno em crédito, com uma carteira de US$ 33,2 bilhões. Juntos, a família chilena e o Itaú controlarão o Itaú CorpBanca por meio de uma holding da qual o banco brasileiro deterá 50,5%.
Para chegar a esses termos, o Itaú fará um aporte de US$ 652 milhões no Itaú Chile e, em seguida, levará para dentro do CorpBanca esses ativos. Por fim, as operações do Itaú BBA na Colômbia serão incorporadas pela unidade que o banco chileno tem nesse país.
A operação toda é avaliada em cerca de US$ 7,2 bilhões. O cálculo leva em conta o valor de mercado do CorpBanca anteontem, na véspera do acordo, o valor de mercado da fatia a que o Itaú terá direito com o aumento de capital e o montante a ser pago aos minoritários do CorpBanca Colombia.
Não foi fácil chegar a essa equação. Depois de idas e vindas, a família Saieh decidiu colocar o banco à venda em meados do ano passado. Nessa disputa pelo CorpBanca, o Itaú teve de derrotar o espanhol BBVA e o ScotiaBank. O banco brasileiro iniciou as tratativas em setembro. Desde então, houve reuniões tanto no Brasil quanto no Chile.
A proposta do Itaú saiu vencedora porque era mais vantajosa financeiramente e porque o banco brasileiro ofereceu uma parceria aos atuais acionistas do CorpBanca, afirmou Mark Rosen, chefe do banco de investimentos do Bank of America Merrill Lynch (BofA) na América Latina. A instituição assessorou os Saieh no negócio.
Segundo Rosen, pesou decisivamente para a família chilena os planos do Itaú para expandir as operações.
O acordo prevê que o Itaú CorpBanca seja uma plataforma para atuar nos países andinos - especialmente Peru e Colômbia - e na América Central. As demais operações que o Itaú tem na América Latina continuam pertencendo apenas ao banco brasileiro, mas os novos sócios chilenos terão no futuro a opção de se associar a elas.
Bastante importante também, para o acordo, foi uma linha de crédito rotativo de US$ 950 milhões, de sete anos, que o Itaú BBA colocou à disposição do CorpGroup. Com negócios bancários, no varejo e na mídia, o conglomerado dos Saieh atravessa um momento de turbulência. A rede varejista SMU enfrenta dificuldade para ter lucro, além de estar endividada. A linha de financiamento do Itaú BBA trará um alívio ao grupo.
Como garantia da operação de crédito, o Itaú ficará com 16% das ações do Itaú CorpBanca. Alguns refinanciamentos já devem ser feitos, principalmente aqueles que tinham os papéis do CorpBanca como garantia da operação.
Mesmo sendo baseada principalmente em troca de ações, a transação também trará alguma liquidez imediata aos Saieh.
O acordo tem cláusulas que barram temporariamente o Itaú e os acionistas chilenos de vender suas participações no Itaú CorpBanca. Porém, o contrato também dá o direito de os Saieh venderem no mercado 6,6% das ações do novo banco sem restrição.
Ao mesmo tempo, a família detém investimentos indiretos de 12,38% no banco colombiano. Levando-se em conta o preço que o Itaú CorpBanca vai pagar aos minoritários do banco colombiano, pode-se estimar que essa fatia valha US$ 329 milhões.
Desde que concluiu a fusão, em 2011, o Itaú Unibanco começou a dar fôlego a seu projeto de internacionalização na América Latina. É um caminho que pode ajudar o banco a ganhar eficiência, já que traz escala. Além disso, diversifica riscos políticos e econômicos.
A decisão do Itaú de sair do Brasil remonta aos anos 90, quando o banco decidiu abrir as portas na Argentina. Depois, o banco comprou subsidiárias do BankBoston no Chile e no Uruguai. Mais recentemente herdou do Unibanco um banco no Paraguai.
"A aquisição proposta é o mais visível passo na estratégia de internacionalização estabelecida quando o Itaú e o Unibanco se fundiram em 2008", afirmou o Goldman Sachs em relatório a clientes.
No Chile, as ações do CorpBanca encerraram o dia com a maior queda da bolsa de Santiago. Os papéis recuaram 13,71%, para 6.067 pesos chilenos, depois de terem subido fortemente nas últimas semanas. A queda reflete a frustração dos acionistas com o fato de que a transação não prevê uma oferta aos minoritários.
No Brasil, as ações preferenciais do Itaú caíram 1,93%, superando a baixa de 1,09% do Ibovespa.
Fonte: Valor Econômico