Escritor morreu na capital pernambucana, dois dias depois de sofrer um AVC
por Redação RBA
São Paulo – O escritor, dramaturgo e poeta Ariano Suassuna, de 87 anos, morreu na tarde de hoje (23), dois dias depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Ele foi internado na noite de segunda-feira (21), passou por cirurgia de emergência e foi encaminhado para a UTI do Real Hospital Português, do Recife. No ano passado, sofreu um enfarte agudo do miocárdio. Dois dias depois da alta, voltou ao hospital e passou mais quatro dias na terapia intensiva. Três meses atrás, brincou: "Foram dois sustos. Mas escapei bonito. Não acreditava em praga, agora estou acreditando". E contou que teve o enfarte cinco dias depois de afirmar, durante um evento em São Paulo, que nunca teria problema no coração. Na última sexta-feira (18), Ariano chegou a dar uma "aula-espetáculo" durante o Festival de Inverno de Garanhuns, no agreste pernambucano.
Ariano Vilar Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927 em João Pessoa. Durante a Revolução de 1930, o pai foi assassinado no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, no sertão do Cariri, também na Paraíba. Foi ali que ele viu um desafio de viola pela primeira vez.
Com 15 anos, Ariano foi viver em Recife, onde concluiu o secundário e iniciou o curso de Direito. Na capital pernambucana, fundou o Teatro do Estudante e escreveu, em 1947, sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Formou-se em 1950, voltou a Taperoá por razões de saúde e retornou a Pernambuco em 1952. Durante quatro anos, iria se dedicar à advocacia, mas sem deixar o teatro de lado. O seu trabalho mais conhecido, o Auto da Compadecida, foi escrito em 1955.
Ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 1990, explicou por que estava usando um uniforme feito por uma costureira e uma bordadeira do Recife: disse que levava em conta a distinção estabelecida por Machado de Assis – sobre o país "real" e o "oficial" – e uma frase de Ghandi que o impressionara. "Dizia ele que um indiano verdadeiro e sincero, mas pertencente a uma das duas classes mais poderosas de seu país, não deveria nunca vestir uma roupa feita pelos ingleses. Primeiro, porque estaria se acumpliciando com os invasores. Depois, porque estaria, com isso, tirando das mulheres pobres da Índia um dos poucos mercados de trabalho que ainda lhes restavam", afirmou Ariano.
"A partir daí, passei a usar somente roupas feitas por uma costureira popular e que correspondessem a uma espécie de média do uniforme de trabalho do brasileiro comum. Não digo que fiz um voto, que é coisa mais séria e mais alta colocada nas dimensões de um profeta, como Gandhi, ou de um monge, como D. Marcos Barbosa. Não fiz um voto; digamos que passei a manter um propósito." Ele acrescentava que não pretendia se passar pelo que não era. "Egresso do patriarcado rural derrotado pela burguesia urbana de 1889, 1930 e 1964, ingressei no patriciado das cidades como o escritor e professor que sempre fui. Continuo, portanto, a integrar uma daquelas classes poderosas, às quais fazia Gandhi a sua recomendação."
Foi um fundadores do Conselho Federal de Cultura, em 1967, e pioneiro do chamado Movimento Armorial, na década de 1970, que visava a unir a arte erudita e a cultura popular. Dessa época (1971) é o Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta.
De 1994 a 1998, Ariano esteve à frente da Secretaria de Cultura de Pernambuco, na gestão de Miguel Arraes. Em 1999, O Auto da Compadecidavirou série especial de TV, dirigida por Guel Arraes – no ano seguinte, se tornaria um longa-metragem. E em 2007 o diretor Luiz Fernando Carvalho comandou a minissérie A Pedra do Reino.
Também no seu discurso de posse na Academia, Ariano falava sobre "a futura edificação" do Brasil como nação. Para isso, seria necessário que, "pela primeira vez em nossa atormentada História, o Brasil oficial se torne expressão do Brasil real".
Em uma entrevista de 2013 ao Diário de Pernambuco, perguntaram se ele se considerava um "cânone" da literatura brasileira. "Eu sou escritor. O escritor convencido, além de antipático, é um indecente. Acho que só se pode avaliar o valor de um escritor muito tempo depois da morte dele", respondeu.
Em 2005, a revista Fórum questionou o que fazer para tornar a cultura brasileira mais presente em sala de aula, na educação formal. "Olhe, não sou muito bom nisso, não. Esse é mais um assunto de educador e de sociólogo, sou um escritor. Por acaso me interesso por esse tipo de coisa, mas não sei exatamente o que se pode fazer. Mas uma coisa eu sei, se os meios de comunicaçᆪo de massa dessem um pouco mais de audição para a nossa cultura isso ajudaria muito."