Até agora a notícia não mereceu atenção da nossa grande mídia, mas o fato é que uma empresa eletrônica sul-coreana resolveu fazer o que empresários brasileiros não fizeram ainda - apesar de o governo brasileiro já ter denunciado há mais de um ano: apresentou queixa em um tribunal de Nova York contra sete grandes bancos mundiais, acusando-os de prejudicarem seus negócios através da manipulação das taxas de câmbio.
Em setembro de 2012, a presidenta Dilma Rousseff abriu a 67ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) com um discurso condenando a guerra cambial, ou seja, a política monetária de países ricos que forçavam a desvalorização de suas moedas prejudicando as exportações de outras economias, como a brasileira.
O governo brasileiro chamou a atenção para a forma velada de prática anticoncorrencial no comércio internacional. As críticas na ONU não eram novidade, já vinham sendo feitas em outros fóruns desde o início do governo Dilma.
Mas essa batalha do Brasil não encontrou apoio determinado de grande parte do alto empresariado brasileiro, que deveriam ser os maiores interessados, mas preferiram posicionar-se visceralmente a favor das "leis de mercado". Muito menos recepção teve na imprensa tradicional que, muitas vezes, é tomada por uma obsessão oposicionista quase suicida até para a saúde financeira de suas próprias empresas de mídia.
Voltando aos dias de hoje, as manipulações afetaram bilhões de dólares em operações com divisas e outros produtos, como investimentos de fundos de pensões e contas de poupança indexadas ao câmbio, segundo a queixa da Simmtech.
O alvo da ação são os bancos estadunidenses Citigroup e JP Morgan Chase, os britânicos Barclays e Royal Bank of Scotland, o alemão Deutsche Bank e os suíços UBS e Credit Suisse - juntos, eles controlam 60% das transações mundiais em divisas, segundo a Simmtech, que menciona outras investigações semelhantes apresentadas nos EUA, Reino Unido, Suíça, Hong Kong e Singapura.
Os próprios bancos reconheceram estarem sendo investigados por possᆳvel manipulação da cotação de moedas nos mercados mundiais de câmbio e o caso já se candidata a ser o próximo grande escândalo financeiro mundial, depois da recente manipulação da taxa de juro interbancária de referência Libor.
O escritório de advocacia Kim and Bae, representando a Simmtech, trabalha para transformar este processo em um recurso coletivo de várias outras empresas sul-coreanas na mesma situação. O gestor de fundos de pensões Haverhill Retirement também entrou com recurso coletivo semelhante, em nome de empresas dos EUA que se sentiram lesadas.
Mas e por aqui? Por onde andam as lideranças empresariais brasileiras das Federações de Indústrias, das Confederações Nacionais e outras entidades de classe, que ainda não se mexeram como os sul-coreanos? O próximo passo está com nossa classe empresaria, pois o governo já faz a parte que lhe cabe
Só ficar influindo no noticiário econᄡmico nativo dos jornalões na tentativa de pressionar para capturar a política econômica governamental para seus interesses, inclusive através das urnas em 2014, não resolve o problema do necessário empreendedorismo empresarial no enfrentamento de cartéis internacionais, fora da jurisdição do governo brasileiro.
Fonte: Helena Sthephanowitz - Rede Brasil Atual