Jim Brunsden
Bloomberg
O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, disse que as autoridades reguladoras podem direcionar suas miras tanto para os salários fixos quanto para os bônus salariais, como forma de coibir os incentivos a abusos de mercado e tomada excessiva de riscos.
Carney, que também é presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), criticou as novas regras europeias que limitam as bonificações porque "têm o efeito secundário indesejado" de tornar mais difícil controlar o pacote total de remuneração de um executivo de banco de investimento.
"Isso justifica [que se façam] reformas adicionais para assegurar que o ônus pela assunção excessiva de risco e por más condutas dos funcionários ainda possa recair sobre esses funcionários", disse Carney, em discurso, ontem, em Cingapura. "Pode ser necessário desenvolver normas para colocar em risco a remuneração que não se dê na forma de bonificações e a que seja fixa. Isso potencialmente poderia ser alcançado por meio de pagamentos em instrumentos que não sejam em dinheiro."
O alerta de Carney quanto a uma nova investida dos reguladores sobre a remuneração chega uma semana depois de seis bancos, entre os quais o Royal Bank of Scotland Group Plc e o HSBC Holdings Plc, terem sido multados em US$ 4,3 bilhões como parte de uma investigação mundial sobre a manipulação de referenciais do mercado de câmbio. A Autoridade de Conduta Financeira (FCA), do Reino Unido, anunciou que vai pressionar os bancos que foram multados a reavaliar bonificações e a recuperar salários que já tenham sido pagos.
O setor bancário vem sofrendo uma ofensiva constante sobre suas políticas de bônus salariais desde a crise financeira de 2008 - uma reação aos escândalos de manipulação de mercados e aos pacotes de socorro financeiro com dinheiro público.
Parlamentares da União Europeia vetaram em 2013 bonificações que fossem mais que o dobro do salário fixo, para tentar acabar com o que chamam de uma cultura de apostas, a quem culpam por alimentar as turbulências no mercado. Embora o governo do Reino Unido tenha entrado com ação para revogar essa medida, argumentando que é contraproducente e ultrapassa os limites dos poderes da União Europeia, as autoridades reguladoras britânicas estão empenhadas em outras medidas para controlar a remuneração.
Em outubro, a Autoridade Bancária Europeia (EBA) fechou uma lacuna que permitia aos bancos remunerar o pessoal por meio de diferentes medidas e, assim, driblar o limite da União Europeia aos bônus salariais. Há 39 bancos que vêm pagando os funcionários por meio de uma remuneração com base no cargo que classificam como salários fixos, mas que viola as regras das bonificações, segundo a EBA.
A proposta de William Dudley, presidente do Federal Reserve de Nova York, de que certos funcionários sejam pagos em parte por bonificações ligadas a desempenho "vale a pena ser investigada como uma solução potencialmente refinada" para a questão do salário fixo, disse Carney. "A prestação de contas pelos gerentes seniores e novas estruturas de remuneração vão ajudar a reconstruir a confiança nas instituições financeiras."
Fonte: Valor Econômico