Crédito: Nando Neves - Seeb Rio
Professor Sílvio Luiz de Almeida, durante II Fórum Nacional
O mercado de trabalho revela a forma mais brutal de racismo e discriminação no Brasil. A afirmação foi feita pelo advogado e professor universitário, Sílvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama e consultor técnico da Federação Quilombola do Estado de São Paulo, nesta quinta-feira (14), segundo e último dia do II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra do Sistema Financeiro, durante a mesa Aspectos conceituais e políticos das ações afirmativas no Brasil: avanços e lacunas.
O evento, iniciado ontem, foi realizado no Hotel São Francisco, no centro do Rio de Janeiro, numa promoção da Contraf-CUT, Sindicato dos Bancários do Rio e Fetraf RJ-ES.
"O discurso da meritrocracia cria dificuldades para os cotistas e disfarça o preconceito contra negros, mulheres e homossexuais", disse. Para o acadêmico, é preciso discutir a qualidade do ensino das universidades que os cotistas têm acesso.
"Nossos alunos estão, em sua grande maioria, em universidades privadas. É preciso garantir a política de cotas nas universidades estaduais", destacou.
Sílvio lembrou que as exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores. "O trabalhador desqualificado não é mais absorvido por um mercado cada vez mais exigente voltado para as novas tecnologias e alta qualificação. É preciso pensar o que os negros farão com os diplomas se o mercado de trabalho é discriminatório. O que mais vemos são operadores de telemarketing com diploma de direito ou engenharia", acrescentou. Outro problema apontado por ele é a falta de uma base escolar de qualidade.
"Há analfabetos funcionais nas faculdades e a lógica das universidades privadas é passar o aluno", criticou.
Prática ideológica
Conforme Sílvio, o racismo é uma prática ideológica e institucional. Ele frisou que já existe base legal para cobrarmos cotas em todas as áreas da sociedade, mas sempre que tratamos da questão racial cria-se um problema que sempre antecede o debate para impedir as ações afirmativas. "É preciso haver políticas para incluir os negros nos espaços de poder, como o judiciário, o legislativo e as universidades".
Ele destacou ainda que a violência contra negros é um tema de extrema urgência. "De cada 10 jovens que são assassinados pela polícia no Brasil pelo menos 6 ou 7 são negros. O extermínio tornou-se algo natural", ressaltou.
Para o professor, combater o racismo não é para afirmar uma raça, mas sim "para derrubar quem criou e sustenta o conceito hegemônico de raça".
Fonte: Contraf-CUT com Seeb Rio