O caso de espionagem norte-americana pela Agência Nacional de Segurança (NSA), denunciado pelo ex-analista da organização, Edward Snowden, não é uma ação isolada. Para Frei Betto, a agência continuará com as ações que ferem a soberania de diversos países.
"Agora, graças ao jovem norte-americano Snowden, que está exilado na Rússia, nós sabemos que a maior arapongagem praticada na história da humanidade é feita pelo governo dos Estados Unidos", disse o escritor em seu comentário semanal na Rádio Brasil Atual. "Os Estados Unidos consideram a segurança mais importante que a liberdade e o capital mais importante que os direitos humanos. Nós sabemos agora que eles metem o nariz na vida de pessoas, governos, empresas e instituições."
Ao longo deste ano foram surgindo informações sobre como funciona o esquema. Questionado, o governo de Barack Obama disse que o faz em nome da segurança e que não tem intenção de recuar em seus propósitos. No Brasil, o programa Fantástico, da Rede Globo, trouxe à tona de que mensagens e telefonemas da presidenta Dilma Rousseff foram interceptados pela NSA, que também espionou a Petrobras. "Sabemos que uma informação governamental vale fortunas. Se acionistas e correntistas sabem, de antemão, que o Banco Central vai decretar a falência de um banco, isso não tem preço", diz Betto.
O escritor compara a espionagem dos Estados Unidos à arapongagem da época da ditadura, que ia atrás de inimigos e até de amigos que pudessem levantar desconfianças. O termo araponga era utilizado na época do regime para designar os espiões do Serviço Nacional de Informações (SNI), atual Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Araponga é uma ave que coloca o bico em todo fruto que encontra.
Betto conta que, em 2003, quando era assessor especial da presidência da República, foram descobertos aparelhos de escuta na sala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto. Tempos depois, ele encontrou uma equipe do Exército fazendo varredura no gabinete presidencial para conferir se havia ali algum sistema de escuta. "Quem garante que eles, quando vêm fazer essa varredura, não plantam novamente, na sala do presidente, um novo sistema de escuta?", questiona.
Na reunião da cúpula do G-20, em São Petersburgo, na Rússia, a presidenta Dilma chegou a comentar com Barack Obama sobre a espionagem e os interesses econômicos dos Estados Unidos. Obama afirmou que tomará providências sobre o caso, e que não há justificativa ou benefício para a espionagem norte-americana no Brasil.
Dilma ressaltou que irá retomar o assunto na Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU), este mês, em Nova York, e cogita cancelar a visita que faria a Washington como chefe de Estado. Ela se reúne hoje (16) com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueredo Machado, para discutir a visita à Washington, nos Estados Unidos, agendada para outubro.
O ministro esteve nos Estados Unidos no dia 10 para conversar com a conselheira de Segurança Nacional norte-americana, Susan Rice. O governo dos EUA divulgou um parecer à imprensa em que Rice afirma que "os Estados Unidos compreendem que as recentes revelaᄃões à imprensa, das quais algumas têm distorcido as nossas atividades e outras têm gerado questᄉes legítimas pelos nossos amigos e aliados, criam tensões na muito estreita relação com o Brasil".
Betto reforça que a espionagem norte-americana tem proporções maiores do que as já descobertas "Ainda que a Casa Branca apresente desculpas à presidenta Dilma, isso não significa que a NSA vai deixar de rastrear os computadores do Planalto e vai deixar de saber o que, quando e com quem a presidenta conversou. Informação é poder", argumenta.
Fonte: Rede Brasil Atual