Crédito: Seeb Rio
II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro ocorre no Rio
Apesar dos programas sociais e do aumento real do salário mínimo implementados nos governos Lula e Dilma terem melhorado a vida de milhões de brasileiros, o que beneficiou os trabalhadores negros que estão em sua maioria na base da pirâmide social do país, as desigualdades entre negros e brancos aumentou no Brasil.
A avaliação foi feita por Cida Bento, doutora em Psicologia Social e Coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), durante palestra nesta quarta-feira (13) no primeiro dia do II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, promovido pela Contraf-CUT, Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e Fetraf RJ-ES, no Hotel São Francisco, no Rio.
O evento, que integra a programação do mês da consciência negra, termina nesta quinta-feira (14) e conta com transmissão ao vivo pela equipe de imprensa do Sindicato dos Bancários de Brasília.
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Cida disse que, apesar das ações afirmativas, como as cotas nas universidades e os programas sociais, que representam avanços importantes, os números oficiais revelam que a desigualdade entre as etnias continua crescendo.
"O número de brasileiros que ascendeu socialmente é considerável e sabemos que a maioria das pessoas que estão na parte mais baixa da pirâmide social são negros. Mas é preciso saber por quê, apesar destes avanços, a diferença da renda média dos brancos ainda é grande em relação aos negros", destaca. Segundo índices oficiais, de 2003 a 2009 a renda per capita dos negros saltou de R$ 355 para R$ 513 e dos brancos subiu de R$ 835 para R$ 985.
Educação
A palestrante destacou também a decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor das ações afirmativas. "Mais importante do que a aprovação do STF das cotas raciais para as universidades foi a aprovação do "princípio constitucional das ações afirmativas", que abre possibilidades e o debate em toda a sociedade para promovermos a igualdade de oportunidades em nosso pais", afirma.
Mas também no campo da educação há problemas que persiste. O número de brancos com idade entre 18 e 24 anos com acesso ao ensino superior no mesmo período subiu de 7,2% para 21,3%, enquanto de negros, que era de 1,5%, passou a ser de 8,3%.
"Os negros hoje, com as cotas, têm mais acesso à universidade, mas muitos não conseguem dar continuidade aos estudos por não conseguirem bancar o custo com passagem, alimentação e material escolar. O que nos assusta é que, mesmo com as ações afirmativas e programas sociais, ainda não superamos a diferença entre as raças", acrescenta.
A professora explica que, mesmo num programa social importante como o Prouni, a discriminação se faz presente. "Segundo dados do próprio Ministério da Educação, 46,6% dos bolsistas são brancos e apenas 12,5% são negros. Os pardos somam 37,3%. Se não houver ações afirmativas as desigualdades continuarão crescendo. Os programas sociais são positivos mas não solucionam sozinhos a questão racial", critica.
Ela destacou a Lei 10.639/03 das Diretrizes de Base da Educação Nacional (alterada pela Lei 11.645/08), que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental ao ensino médio.
"Quando meu filho negro é formado por uma escola que tem como referência o que é bom na Europa, o colega branco da classe dele sai fortalecido e meu filho entra em crise com seu cabelo, sua cultura e sua cor", relata sua própria experiência.
Autonomia sindical
Cida cobrou ainda mais autonomia do movimento sindical e dos movimentos sociais em relação ao governo. "Já fui acusada de traidora e perdi a amizade de amigos de longa data que hoje fazem parte do governo porque faço as críticas que precisam ser feitas. Temos que fazer a crítica e pressionar governos que foram eleitos por nós para avançarmos mais", ressalta.
O secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, disse que é importante estratificar os negros na ascensão social promovida pelos programas sociais do governo. "Sabemos que a maioria dos beneficiários dos programas sociais são negros, mas temos de saber os números exatos, pois estes levantamentos são fundamentais para as lutas pela igualdade de oportunidades", afirmou.
A diretora do Sindicato do Rio, Luciana Vieira, lembrou que muitos negros não chegam sequer ao mercado de trabalho. "Os jovens entre 15 e 23 anos das periferias, em sua maioria negros e pardos, são cooptados pelo tráfico de drogas e muitos não chegam sequer ao mercado de trabalho, e este é um dos motivos da maioria branca no mercado formal", denunciou.
Discriminação nos bancos
O presidente do Sindicato do Rio, Almir Aguiar, agradeceu a escolha do Rio para sediar o evento. O sindicalista criticou a discriminação no sistema financeiro. "Mesmo nos bancos públicos, quando negros conseguem o emprego via concurso público, há uma barreira para a ascensão profissional, até porque a maioria dos brancos estudaram em escolas de melhor qualidade e têm mais acesso às universidades", disse.
Ele citou como exemplo os dados que comprovam o preconceito racial no mercado de trabalho bancário. "No setor financeiro apenas 19% dos trabalhadores são negros, enquanto que a média do mercado de trabalho do país é de 35%. Temos que cobrar da Fenaban a contratação de mais bancários e bancárias da raça negra e garantirmos a igualdade de oportunidades", disse.
Cotas nos concursos públicos
Cida Bento elogiou a decisão da presidente Dilma de assinar proposta que será levada ao Congresso Nacional que prevê 20% das vagas para negros em concursos públicos de órgãos do governo federal. O projeto foi anunciado na terça-feira (5), durante a abertura da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir). "Essa decisão é um marco histórico e um momento propício para avançarmos nas lutas contra a discriminação e em defesa da igualdade de oportunidades", apontou.
Continuidade
"O II Fórum Nacional é um momento oportuno e ímpar para acumular, compreender e apontar caminhos para o debate e a reflexão no interior das direções dos sindicatos e, especialmente junto à categoria", destaca Andrea Vasconcellos, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, que coordena o evento.
Nesta quinta-feira haverá uma mesa de debates sobre "Aspectos Conceituais e Políticos das Ações Afirmativas no Brasil: Avanços e Lacunas".
Também será realizada uma roda de conversa com a participação da Contraf-CUT, Dieese, CUT Nacional, Unegro-RJ e Fenaban sobre "Os desafios das políticas antirracistas no sistema financeiro, a transversalidade e as negociações coletivas".
Ao final, será feita uma repactuação da Carta de Compromisso das Entidades.
Pela Contraf-CUT, além de Andrea e Miguel, também participam do II Fórum Nacional a secretária-geral Ivone Silva e a secretária de Mulheres, Deise Recoaro.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb Rio de Janeiro